Crítica Missão: Impossível 7 | Tom Cruise na correria contra IA
Por André Mello • Editado por Jones Oliveira |
A franquia Missão: Impossível sempre foi bastante conhecida por causa de sua ação caótica e pelo magnetismo de seu astro, Tom Cruise. Missão Impossível: Acerto de Contas - Parte 1 segue esse ritmo, ainda que, nesse novo filme, a série já começa a demonstrar sinais que toda essa correria desenfreada uma hora cansa.
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Falar sobre Missão: Impossível 7 é um pouco esquisito, pois muito do que faz o filme funcionar é o que o torna um tanto estéril. É um jeito bizarro de pensar, mas ele tem tudo o que um fã da série quer ver, ao mesmo tempo que são as coisas que fazem dele vazio.
A sensação depois das quase 3 horas de duração é a de que você não viu um filme ruim, mas você também não assistiu a um filme bom. Parece loucura falar assim, mas aos poucos a explicação será dada.
Tom Cruise e sua tentativa de salvar tudo
Missão: Impossível 7 tem como maior trunfo a presença do possível último grande astro de Hollywood, Tom Cruise. É inegável o magnetismo que o ator apresenta quando aparece na tela e ele está em praticamente todas as cenas do filme.
Há alguns anos, Cruise tomou para si a tarefa de ser um defensor do cinema, buscando apresentar meios de as pessoas entenderem a importância da experiência de se assistir um filme, seja em casa ou na telona. O lançamento de Top Gun: Maverick foi uma amostra do seu poder, entregando um longa que levou milhões de pessoas aos cinemas e ajudou na retomada da indústria pós-pandemia.
No novo MI, Cruise e o diretor Christopher McQuerrie tentam repetir esse feito, apresentando uma história que, em vários momentos, quer ser mais inteligente do que realmente é. Em MI7, o agente Ethan Hunt parte em uma busca frenética de uma chave que pode dar acesso a uma inteligência artificial que criou consciência e, se cair nas mãos erradas, pode mudar completamente a ordem de poder mundial.
Para fazer isso, Hunt e seus aliados precisam "se desconectar", buscando meios analógicos para tentar não serem atingidos pela IA que tem acesso a praticamente tudo no planeta.
Essa ideia de ter os agentes basicamente lutando contra uma inteligência artificial é um reflexo claro dos dias atuais, quando a popularidade desse tipo de tecnologia levanta questões sobre os potenciais riscos que ela apresenta. E é um dos pontos altos do roteiro.
A própria indústria de Hollywood se vê em meio a greves de roteiristas e atores, com um dos pontos principais do conflito sendo o uso de IA na criação de novos filmes. MI7 tenta mostrar os perigos dessa tecnologia cair nas mãos erradas e o Tom Cruise quer ajudar a salvar a todos mais uma vez.
Vão-se os personagens, ficam os arquétipos
Repare que em vários momentos, eu misturo o personagem Ethan Hunt e Tom Cruise, o que pode confundir algumas pessoas, mas é que, mais do que nunca, MI7 mostra quue eles sãao quase a mesma figura. Em dado momento do filme, o agente Hunt é chamado de "força da natureza, a personificação do caos".
Essa descrição faz todo sentido frente a tudo o que o sujeito já fez na franquia, mas ele também desumaniza o personagem. Enquanto nos capítulos anteriores, o agente Ethan Hunt era um espião pronto para qualquer missão, ele também demonstrava traços de uma personalidade desafiadora e sedutora. Havia vários elementos de humanidade aqui e ali que davam profundidade ao herói.
Em Missão: Impossível 7, essa personalidade desaparece e você só vê o Tom Cruise sendo um completo maluco enquanto dá zerinho com carro pequeno em Roma. Isso é bastante comum ao longo do filme, com personagens agindo de maneira que não faz com que eles se pareçam com pessoas de verdade.
Isso pode parecer implicância, mas praticamente todos os personagens que retornam nesse filme perderam muito do seu desenvolvimento de longas anteriores.
Se Missão: Impossível: Efeito Fallout mostrou uma conexão melhor entre o time de Hunt, com a presença de Rebecca Ferguson (Duna), Simon Pegg (Star Trek) e Ving Rhames (Pulp Fiction: Tempos de Violência), e humanizou mais os agentes, em Acerto de Contas - Parte 1, isso parece ter se perdido em prol de cenas de ação e uma trama que quer ser profunda, mas é basicamente a mesma ideia de Velozes & Furiosos 10. Eles estão lá, mas sem a mesma força de antes.
A inclusão de um vilão completamente genérico, vivido pelo ator Esai Morales (Titans), reforça essa ideia, que só não toma completamente o filme devido à adição da excelente Hayley Atwell (Agente Carter). Tendo muito mais destaque do que o esperado — ao contrário de sua companheira de Marvel Pom Klementieff (Guardiões da Galáxia 3) —, ela é responsável por trazer um pouco de vida ao filme, evitando que ele se torne apenas uma sequência de cenas de ação.
Missão: Impossível ainda é porrada, tiro e bomba
Depois de ter falado tanto sobre os problemas do filme, é necessário destacar aquilo em que ele realmente funciona: na ação. São poucos os filmes de Hollywood que ainda tentam passar uma sensação de autenticidade nessa cenas, sempre jogando boa parte do trabalho no colo da equipe de efeitos especiais para que eles criem algo no computador.
Missão: Impossível 7 é o Tom Cruise, mesmo do alto dos seus 61 anos, mostrando para muito ator jovem que é mais legal sair correndo loucamente pelas ruas de Roma dirigindo apenas com uma mão ou saindo na porrada com alguém em cima de um trem em movimento.
Nesse quesito, o diretor Christopher McQuerrie acerta muito a mão na hora de mostrar a ação acontecendo, sem cortes rápidos, exibindo bem o esforço dos envolvidos em tentar tudo parecer o mais realista possível. Obviamente, existem retoques digitais em alguns momentos, mas nada que tire o foco de ver dublês ou o próprio Tom Cruise se jogando de verdade de um penhasco, pois esse senhor cada vez mais me faz acreditar que ele quer morrer na frente de uma equipe de filmagem, mas só não sabe como.
Quem vai assistir a esse filme, geralmente vai para ver exatamente esse tipo de loucura em doses cavalares de adrenalina — e devo dizer que não sairão decepcionados do cinema.
Filme pela metade, mas pelo menos é uma metade que diverte
2023 pode ficar conhecido como o ano dos filmes pela metade. Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, Velozes & Furiosos 10 e Missão: Impossível: Acerto de Contas - Parte 1 são boas produções, mas sofrem de um problema que acaba criando uma sensação de "tiraram o meu prato de comida antes de eu terminar e eu continuo com fome".
E antes que você diga que "Mas Senhor dos Anéis acabava cada filme com um gancho e não tinham finais", eu diria que esse é um ótimo argumento, mas que também eles tentavam resolver temas próprios até o final de sua duração, deixando a história principal para o próximo. As Duas Torres termina com uma batalha que se resolve. Imagina se aquele filme terminasse com a ideia "Gandalf vem aí, hein?!".
Pois é isso que esses filmes de 2023 estão fazendo. Ainda assim Missão: Impossível 7 consegue ser o mais bem sucedido na tarefa, mas você ainda sabe que a parte boa mesmo só vem na segunda metade. Talvez, com as duas partes prontas, seja possível voltar para esse filme e ignorar alguns de seus problemas, já que toda a experiência valeu a pena.
Por enquanto, Missão: Impossível: Acerto de Contas - Parte 1 vale pelo espetáculo e nada além disso.