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Crítica Top Gun: Maverick | É seguindo em frente que se voa mais alto

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Paramount Pictures
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Em tempos em que sequências de franquias clássicas estão mais interessadas em replicar a fórmula dos filmes originais, Top Gun: Maverick parece ser um dos poucos casos de revival que lembra qual o real significado e função de uma continuação. Muito mais do que esse aceno ao passado, um novo capítulo serve para fazer a história avançar, trazer uma evolução ao que já conhecemos. É, acima de tudo, sobre seguir adiante.

Esse é o grande mote que o novo longa de Tom Cruise traz para seus personagens, mas também para o próprio roteiro com um todo. Maverick não esconde a intenção de ser um belo revival, mas também compreende que não pode viver apenas do passado. Embora faça suas referências e menções ao filme de 1986, ele sabe muito bem que estamos em 2022 e que é preciso levar a trama e seus heróis para frente.

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Parece básico, mas a onda saudosista de Hollywood parece ter se esquecido disso — basta olhar o que foi Matrix Resurrections para citar um exemplo bem recente. Em Top Gun, essa consciência de que o passado é uma roupa que não lhe serve mais é o que faz de Marverick uma sequência tão interessante. Mais do que isso, é fundamental para sua história.

A começar pelo momento histórico. Ases Indomáveis é fruto de sua época. Lançado em plena Guerra Fria, ele é basicamente uma peça de propaganda militar — uma linguagem que não funciona no mundo de hoje. Por isso mesmo que, ainda que emule e brinque com muita coisa do longa de 36 anos atrás, Tom Cruise está mais interessado em fazer as coisas evoluírem.

E esse é seu maior trunfo. Ao longo dessas quase quatro décadas, tudo mudou. A linguagem cinematográfica evoluiu tanto quanto a mentalidade do público e quanto a própria tecnologia militar dos caças. São outros tempos e por mais que Pete Mitchell (Cruise) seja uma dessas velharias do passado, até mesmo o herói sabe que não é mais possível viver olhando para trás e que é preciso deixar algumas coisas irem para, enfim, seguir em frente.

Muito bem conectado

Essa conversa entre o roteiro e o próprio contexto ao qual Top Gun: Maverick está situado é o grande trunfo do longa. Essa trama que fala sobre se livrar das amarras do passado para evoluir é algo que dialoga tanto com os personagens quanto com o próprio momento do cinema, e tudo isso faz com que esse revival seja uma pérola em meio a uma invasão nostálgica preguiçosa que invade o cinema.

Isso porque Maverick consegue amarrar muito bem as pontas deixadas em Ases Indomáveis para criar situações completamente novas que abrem espaço tanto para que personagens novos quanto antigos possam crescer. Assim, da mesma forma que temos uma nova geração de pilotos entendendo que a velha guarda ainda tem muito a oferecer, temos esse piloto veterano se dando conta que ele tem cada vez menos espaço nesse mundo e que é preciso deixar os novatos voarem de vez.

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Por isso mesmo, faz muito sentido que o novo Top Gun carregue justamente o codinome "Maverick" em seu título. A jornada desse herói para aceitar seu papel neste novo mundo, deixando o passado onde ele merece ficar, é a mesma do próprio filme em si, que percebe que um revival não é apenas repetir a estrutura dos longas originais, mas abrir espaço para que novos nomes ocupem aquele espaço. Nesse sentido, Top Gun: Maverick se aproxima muito mais de Creed do que de Matrix Resurrections, por exemplo.

É claro que, em comparação com Ases Indomáveis, muita coisa vai soar familiar. O tom patriótico ainda está lá — embora menos acentuado —, assim como alguns maneirismos oitentistas. Há quanto tempo você não vê os créditos de um filme na abertura, com um clipe musical bem farofa? Por isso tudo está no DNA de Maverick.

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Só que nada disso é a essência do longa. São pequenas referências e homenagens inseridas de forma orgânica ou até mesmo de forma mais cômica, mas que não resumem aquilo que o novo filme é. A partida de futebol americano durante o pôr do sol na praia é tão brega quando há 36 anos, mas é apenas uma brincadeira em meio àquilo que realmente importa na trama. O cerne mesmo é sobre seguir em frente e deixar algumas coisas para trás — como o próprio saudosismo.

Acerto de contas

Isso fica bem claro quando vemos o próprio Pete “Maverick” Mitchell, que está há quase 40 anos preso a esse passado. Seja estagnado como capitão, quando poderia ter uma carreira muito mais brilhante, ou mesmo nessa relação de luto e culpa pela morte de Goose lá atrás.

E toda a jornada do personagem está não apenas em voltar para a academia Top Gun para treinar uma nova geração de pilotos para participar de uma missão aparentemente suicida, mas de entender que não é possível viver mais nesse passado. E isso vale tanto para ele quanto para o cinema em si.

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Isso é muito bem pontuado em dois momentos. O primeiro deles é quando Pete está no bar com todos os pilotos mais jovens e acaba sendo expulso do local por não ter como pagar sua conta. Do lado de fora, ele assiste a um espelho de uma cena de Ases Indomáveis, com Rooster (Miles Teller) fazendo a mesma apresentação de piano que seu pai fez há tantos anos. Só que, desta vez, Tom Cruise está do lado de fora e percebe o quanto ele não tem mais espaço naquele mundo.

Essa cena reforça o segundo grande momento de Top Gun: Maverick, quando o protagonista vai à casa do almirante Tom “Iceman” Kazansky. Além de ser um momento bastante emocionante por toda a condição de Val Kilmer, ela deixa bem claro qual é a mensagem central por trás de toda a trama: deixar o passado ir embora.

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E o roteiro é muito feliz e competente em também assimilar o recado. Afinal, ao mesmo tempo em que ele resolve essa questão de Mitchell com seu próprio passado, ele usa a mesma questão para evoluir os novos personagens, dando espaço para que essa nova geração de atores possa brilhar.

É o caso do próprio Teller, que entrega um Rooster bem interessante e bem desenvolvido. Ele é esse jovem piloto com muito potencial, mas que se limita por viver à sombra da morte do próprio pai, da mesma forma que a sua relação com Mitchell é conturbada por coisas que o herói fez no passado — também motivado por esse apego ao que já foi. Assim, as duas gerações precisam aprender, à sua maneira, a seguir em frente.

Ajuste fino

Falando no elenco mais jovem, é muito interessante ver como Top Gun: Maverick emula algumas dinâmicas de Ases Indomáveis, mas melhorando muito daquilo que foi feito há quase quatro décadas.

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Exemplo disso é que todo esse elenco de apoio é muito bom e bem mais marcante do que os pilotos genéricos do filme original. Embora a quantidade de pilotos seja bem maior e alguns ainda fiquem em segundo plano, outros se destacam bem mais e são belas adições ao elenco.

É o caso de Phoenix (Monica Barbaro) e Bob (Lewis Pullman), que chamam muito a atenção por causa das ótimas atuações e ajudam a trazer um time mais variado e bem menos genérico do que no filme de 1986. E por mais que o antagonista da vez, Hangman (Glen Powell), reprise com Rooster a rivalidade entre Maverick e Iceman, o ator rouba a cena por fazer muito bem essa figura do piloto detestável.

De tirar o fôlego

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Contudo, não podemos falar de Top Gun sem citar os aviões. E, em Maverick, a excentricidade de Tom Cruise elevou e muito a qualidade das cenas de ação. Até porque ele praticamente fez todo mundo pilotar de verdade para garantir momentos bem realistas.

É claro que ninguém saiu dando rasante e dando cambalhota no ar por aí, mas toda a movimentação e a reação do corpo dos atores dentro das naves é algo que o ator insistiu em fazer de forma fidedigna — e isso fica perceptível quando vemos cada uma das cenas de voo.

Ao contrário de Ases Indomáveis, em que a câmera ficava quase colada no rosto do ator e o mundo fora do avião era apenas um desfoque para disfarçar o truque de filmagem, em Maverick tudo é bem mais crível. A fotografia dentro das cabines de comando não só ficou mais nítida e aberta como você compra muito bem toda a pressão exercida ao pilotar uma máquina em altíssima velocidade.

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É o tipo de coisa que a modernidade dos efeitos visuais nos faz esquecer, mas que mostra que, em alguns casos, o passado também tem muito a ensinar e a oferecer. Afinal, nem tudo precisa ficar para trás.

Medida certa

Top Gun: Maverick acerta justamente nesse ótimo equilíbrio entre passado e presente. Não se trata de rejeitar o clássico, mas também não viver apenas em torno dele. Há muito valor naquilo que já passou, mas ele serve muito mais para enriquecer o agora do que para ser uma âncora que nos impede de avançar. Isso é algo que vale para pessoas tanto quanto vale para o cinema.

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Por mais que muita gente tenha se questionado sobre o porquê de uma continuação de Top Gun depois de tanto tempo — eu incluso —, Tom Cruise deixa bem claro o porquê ele é esse astro gigantesco durante todos esses anos. Não se trata apenas de glorificar o que ficou para trás. Para se manter relevante, é preciso olhar para frente e só assim é possível voar mais alto. E ele, mais do que ninguém, deixa isso bem claro.

Top Gun: Maverick está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil; garanta o seu ingresso na Ingresso.com.