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Crítica Velozes e Furiosos 10 | Caótico como uma festa de família

Por| Editado por Jones Oliveira | 17 de Maio de 2023 às 13h00

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Universal Pictures
Universal Pictures

Já tem tempo que Velozes e Furiososdeixou de ser uma série sobre carros e se tornou uma franquia de super-heróis. Das missões cada vez mais grandiosas para salvar o mundo às sequências de ação impossíveis e exageradas, pouca coisa separa a família de Toretto (Vin Diesel) de universos como Marvel e DC. Como Velozes e Furiosos 10 bem mostra, até o elenco acaba sendo o mesmo.

Contudo, o que torna o mais recente capítulo ainda mais super-heróico é seu tom. A história desse inimigo que retorna do passado para se vingar do herói ao fazê-lo sofrer é uma trama bem comum entre os fantasiados. Capitão América: Guerra Civil foi literalmente isso, mas é um tropo narrativo que também aparece em Homem de Ferro 3, Pantera Negra e Homem de Aço — apenas para citar alguns.

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E, mesmo sendo uma estrutura tão manjada, ela ganha novos ares em Velozes e Furiosos 10 graças à galhofa a que a franquia se entregou. Da mesma forma que aquela família caótica em que ninguém se leva a sério, é essa bagunça que torna as coisas tão divertidas e que é fundamental para que essa história funcione.

Uma festa de família

Bagunça é a melhor forma de definir Velozes e Furiosos 10 — e não de forma pejorativa. Apesar de Vin Diesel tentar puxar o longa para um lado dramático aqui e ali, o tom que predomina é mesmo o de festa, uma zorra em que todo mundo está claramente se divertindo.

Isso é curioso, pois todo o marketing tentava vender o filme como o início do fechamento da saga, a trama que levaria a família de Toretto para sua aguardada conclusão. Só que isso não vem como algo tenso, como se espera desses grandes eventos de fechamento. Trata-se de uma grande farra, como aquela em que você chama todos os seus amigos para curtir o momento.

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E ninguém está aproveitando mais do que Jason Momoa. O ator que se tornou um dos queridinhos de Hollywood é a grande estrela de Velozes e Furiosos 10 ao viver o vilão Dante, filho do chefão do crime brasileiro que apareceu no quinto longa e agora retorna para fazer da vida dos heróis um verdadeiro inferno.

Só que nada disso realmente importa, até porque Momoa parece não estar interessado em viver esse filho que perdeu tudo e agora vive pelo ódio. Na verdade, o ator está interpretando ele mesmo, entregando um personagem que nada mais é do que o espírito bonachão e zombeteiro que conhecemos do próprio Momoa. E isso é ótimo.

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O novo filme sabe aproveitar o carisma do ator e usar isso a seu favor para criar esse bandido que é uma ameaça para todo mundo e se mostra desde o início como alguém muito letal, mas que não cai na caricatura vilanesca de sempre. Pelo contrário, ele é todo cheio de trejeitos e deboches que Momoa entrega de forma muito espontânea, de modo que o vilão seja a melhor coisa do longa com certa facilidade.

O ator está muito solto e se divertindo no papel, o que fica evidente na tela. E, seja por mérito do próprio Momoa ou da direção de Louis Leterrier, esses exageros de Dante não são afetados demais — o “efeito Jack Sparrow” que tanto vimos em outras produções —, o que faz com que seja sempre muito interessante vê-lo em cena.

Nesse sentido, o vilão está muito mais próximo de um Coringa de Batman: O Cavaleiro das Trevas do que do pirata de Johnny Depp. Ele é aquela ameaça caótica, um típico Joker, assim como era o personagem de Heath Ledger, inclusive em seus planos mirabolantes e cheio de reviravoltas — ainda que um tanto forçadas aqui e ali. A diferença é que, no caso de Velozes e Furiosos, o palhaço está sendo 100% Momoa.

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E se é um pouco exagerado dizer que ele carrega o filme nas costas, podemos pelo menos afirmar que ele divide muito bem esse fardo com personagens já estabelecidos na franquia, de formaque ele está se sentindo em casa e aproveitando a oportunidade de brincar em cena.

Isso é importante porque esse jeito caótico e bonachão que o ator dá a Dante faz com que ele seja muito mais do que o clichê do passado que vem assombrar o herói. Como dito, esse tipo de personagem já foi explorado à exaustão no cinema de ação e é essa personalidade que Momoa imprime em seu vilão é que faz ele se destacar com tanta facilidade.

Família até o talo

Só que Velozes e Furiosos 10 não é (apenas) sobre Dante e Jason Momoa. Na verdade, o vilão é quem coloca Toretto contra a parede na sua missão de fazer o herói sofrer — e é aí que o filme dá algumas derrapadas. A principal delas é que, em momento algum, você realmente sente que os personagens principais estão correndo algum risco.

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E não só porque o longa é tão acelerado e com cenas tão impossíveis que nada parece atingir os protagonistas. Isso também, mas o ponto é que o plano de Dante não coloca ninguém importante em perigo de verdade. Até mesmo aquela cena do trailer em que ele questiona o Vin Diesel sobre quem escolher é usada para se referir a dois desconhecidos que pouco importam para o público.

É claro que há alguns reveses com os membros da família, mas nada que realmente mostre o vilão como essa figura implacável. Ele sempre está dois passos a frente dos heróis, mas o resultado disso são sempre grandes perseguições, alguns tiroteios, mas nada que faça você temer pela vida de alguém.

Assim, Velozes e Furiosos 10 precisa apelar para aquilo que a franquia tem de mais fraco: a parte dramática. Depois de 20 anos de série, Vin Diesel ainda acha que consegue segurar cenas mais emotivas e toda tentativa de criar esse vínculo entre Toretto com seu filho, com a esposa Letty (Michelle Rodriguez) e com todo o restante do elenco principal é deveras lamentável.

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O astro não segura esses momentos e o que lhe resta é repetir à exaustão falas de efeito sobre a importância da família, ignorando que isso já virou piada entre o público. Mais do que isso, há todas as caras e poses que já viraram marca do personagem, mas continuam horríveis mesmo depois de tanto tempo.

Quem escolher?

A pergunta de Dante para Toretto sobre a dificuldade de lidar com uma família grande também é um problema com o qual Velozes e Furiosos 10 precisa lidar: afinal, com tantos personagens fazendo parte desse núcleo central, qual salvar e qual sacrificar?

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A solução óbvia encontrada pelo roteiro é dividir os protagonistas em diferentes grupos, ainda que nem todos eles funcionem como deveriam. A incapacidade dramática de Vin Diesel é compensada pelas grandes cenas de ação, mas o mesmo não pode ser dito pelo núcleo composto por Roman (Tyrese Gibson), Tej (Ludacris), Ramsey (Nathalie Emmanuel) e Han (Sung Kang).

Em tese, eles deveriam ser o alívio cômico do filme. Após caírem em uma armadilha de Dante, eles acabam separados de Toretto e dos demais e viajam o mundo tentando chegar ao ponto de encontro. Na prática, porém, as tentativas de criar cenas engraçadas baseadas nas implicâncias entre Roman e Tej não funciona e ainda atrapalha o andamento das demais histórias.

Toda essa trama deles está solta dentro do roteiro e não se conecta com nada do que os demais núcleos estão fazendo. É quase um longa paralelo que se desenrola na Europa e que não impacta naquilo que os demais personagens estão fazendo. E é algo que também não vale pelo valor cômico, já que o próprio personagem de Momoa se revela muito mais feliz nessa missão do que o quarteto.

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O ponto é que eles estão ali apenas para criar deixas que vão ser usadas para o próximo filme, como o retorno de Shaw (Jason Statham). E não há problema nisso. O que realmente incomoda é o quanto todo esse arco toma de tempo da produção para não entregar nada de relevante em troca. Tanto que a personagem de Michelle Rodriguez também embarca em uma missão própria, mas sem causar essa impressão de que está desviando a atenção do longa.

O valor do caos

Vamos ser sinceros: ninguém vai ver Velozes e Furiosos 10 pelo seu valor cinematográfico ou pela capacidade dramática de Vin Diesel. A verdadeira força da franquia está em suas cenas de ação e no carisma de seus personagens — e o décimo capítulo da saga entrega isso muito bem.

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Nesse sentido, Jason Momoa é mesmo a estrela que faltava nessa constelação. Sozinho, ele consegue entregar tanto o vilão ameaçador que esse tipo de “história de super-herói” exige como também essa figura carismática que rouba a cena sempre que aparece. E o fato de ele estar completamente solto apenas deixa isso mais divertido.

Mesmo sendo o início do fim da franquia, Velozes e Furiosos 10 não pisa no freio em momento algum. Na verdade, a impressão ainda é de pé fundo no acelerador, o que prejudica o peso dramático que a história precisava para criar o impacto necessário para certas cenas. Adicione a isso a dificuldade de encaixar certas tramas e você tem algumas derrapadas significativas no trajeto.

Só que, ainda assim, é um longa bastante divertido que empolga e rende boas risadas. E, como todo filme de super-herói, está mais interessado em construir o que vem a seguir do que criar uma base de verdade para a história que está sendo contada agora. A sorte de Toretto e sua família é que, em meio a todo esse caos, roteiro é o de menos.