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Crítica Ghostbusters: Apocalipse de Gelo | Ligue no celular, não no fixo

Por  • Editado por Durval Ramos | 

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Divulgação/Sony Pictures
Divulgação/Sony Pictures

A relação entre gerações distantes por algumas décadas em termos de idade é sempre complicada, levando a grandes abismos e muitos comentários ácidos no Twitter. Esse é, também, um tema constante que circunda a revitalização da franquia Caça-Fantasmas, que em sua sequência, cai em armadilhas após, surpreendentemente, ter escapado delas no anterior.

Seria muito fácil apoiar o longa na nostalgia e nas referências ao original, como a franquia agora tocada por Jason Reitman (Amor Sem Escalas), filho do criador Ivan Reitman, fez questão de dosar com novidades em Mais Além, lançado em 2021. Só que o novo Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, que estreia nos cinemas do Brasil em 11 de abril, traz de volta a sensação de deslocamento e o senso de estranheza dos quais ninguém sentia falta.

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Chega a ser curioso notar que tudo isso é, justamente, um dos motores da trama — e está tudo bem. Enquanto tem uma nova geração de personagens carismáticos, com algumas exceções, os problemas surgem justamente na presença dos adultos — sejam eles a dupla de pais interpretados por Paul Rudd (Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania) e Carrie Coon (Garota Exemplar) ou mesmo os Caça-Fantasmas originais.

Apesar de mais utilizados no roteiro do que na trama anterior, são eles também quem acendem a faísca que detona o próprio mal que causa o Apocalipse de Gelo do título. Os erros de julgamento dos Ghostbusters, novos e antigos, surpreendem, principalmente quando fica claro servirem de muleta para o roteiro.

Estrela no banco de reservas

Phoebe Spengler (Mckenna Grace) é quem mais sofre dessa sensação de deslocamento, como é lugar-comum quando temos adolescentes com 15 anos de idade em um filme de domingo à tarde. Porém, nem mesmo é preciso ter assistido ao longa anterior para perceber que ela é, de longe, a Caça-Fantasma mais capaz dessa nova equipe, que parece transitar entre o deslumbre e o desinteresse com o retorno do prestígio do grupo e a volta à cidade de Nova York.

É isso que coloca os eventos em curso, depois que a neta de um dos caçadores originais é colocada de escanteio pela própria família após causar certo dano à propriedade enquanto enfrentava um espectro. Atingidos pela pressão do prefeito Walter Peck (William Atherton, também retornando dos originais), ela é tirada do time e não recebe nenhuma outra função a não ser esperar o tempo passar até fazer 18 anos — como se a idade acompanhasse mais destreza no uso do canhão de prótons.

É nesse contexto de fragilidade que ela acaba encontrando empatia na fantasma Melody (Emily Alyn Lind), tomando as decisões extremas e impensadas típicas de uma adolescente em frangalhos. Phoebe merecia mais, mas o espectador parece ser o único que percebe isso além de um dos personagens clássicos, Ray Stantz (Dan Aykroyd). Ainda que movido pelo próprio amor pelo oculto e pelas saudades dos tempos de Caça-Fantasmas, é ele quem se une à garota para tentar encontrar o segredo por trás de um orbe de latão com uma criatura mítica enclausurada no interior.

Como em Mais Além, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo assume um roteiro multifacetado, dividindo os personagens em grupos com desafios próprios que, mais adiante, se unem em um desfecho de combate e salvação do mundo. A diferença é que, desta vez, há pouca descoberta e alguma repetição envolvidas, algo que se reflete até mesmo na duração do filme, menor que o anterior.

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Enquanto repete piadas do original e causa certo deslumbre com o retorno da velha base dos bombeiros, assim como mantém a inexpressividade de Trevor (Finn Wolfhard), o roteiro escrito pelo próprio Reitman também parece depor contra a história. Winston Zeddemore (Ernie Hudson) se tornou um milionário e investe pesado na caça aos fantasmas, com direito a um gigantesco laboratório secreto para investigar fenômenos paranormais.

Porém, também é ele quem confronta Stantz sobre o assunto, não sobre a destruição de um leão de cimento da biblioteca pública, mas sobre sua postura. O diálogo rápido, que tenta parecer intenso sem conseguir, pontua uma falha geral do roteiro, no qual absolutamente nenhum dos personagens parece perceber que algo de muito errado está acontecendo ao mesmo tempo em que mexem com uma força sobrenatural apocalíptica.

Afinal de contas, estamos falando de cientistas, especialistas e também pessoas que vivem juntos em um local no qual a contenção de fantasmas está falhando e espectros podem escapar por rachaduras que eles viram sendo criadas, mas não consertaram — um desleixo que vai contra as facetas que a história deseja dar a eles. Enquanto isso, o personagem chatíssimo interpretado por Kumail Nanjiani (Obi-Wan Kenobi) ganha uma importância desnecessária e ajuda ainda mais a esvaziar tudo.

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Falando em desinteresse, aliás, não dá para deixar de lado a aparição de Peter Venkman, interpretado por um Bill Murray (A Crônica Francesa) que parece preferir estar declarando o Imposto de Renda do que estar no filme.

Ele aparece pouco, quase como participações especiais, na talvez maior decepção aos fãs do original entre todas presentes em Ghostbusters: Apocalipse de Gelo.

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Muito fantasma para caçar ainda

Apesar dos parágrafos acima, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo não é uma tragédia completa. Ainda que falhe bastante na condução dos personagens e do roteiro, o longa ainda entrega o tipo de diversão que se espera de um filme dos Caça-Fantasmas, com direito a um bom uso de tecnologia antiga que não soa forçado nem fora de lugar. O uso de armas antigas para combater forças ainda mais ancestrais faz todo sentido, afinal.

A sequência muda de direção, passando para as mãos de Gil Kenan (Poltergeist: O Fenômeno), que também assina o roteiro ao lado de Reitman. O cenário de Nova York ajuda as cenas de ação a serem mais grandiosas e contribuem para a ideia da vez, que coloca muito mais em jogo na comparação com o original — além, é claro, de carregar o clima de nostalgia que não aparece tão diretamente na própria trama.

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É quase como se o novo longa ainda estivesse aprendendo a andar de bicicleta, tirando as rodinhas após ter bastante sucesso no antecessor, mas levando os tombos típicos de quem ainda tenta se manter equilibrado. O resultado, no geral, e mais fraco e menos memorável, ainda que carregue o entretenimento que os fãs antigos (mas principalmente os mais novos) gostariam.

Vale a pena assistir a Ghostbusters: Apocalipse de Gelo?

O novo longa dos Caça-Fantasmas é maior em escala, mas não em ameaças e, principalmente, em temas. Enquanto parece acordar uma criatura e um apocalipse mais graves que os do antecessor, a sequência de más escolhas de diálogo e situações, além das muletas criadas pelo próprio argumento para continuar andando, acabam manchando um longa que tinha tudo para trazer sorrisos.

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Eles ainda vão aparecer, é verdade, mas nem tanto quanto no antecessor, e principalmente por conta de um posicionamento ruim da maioria dos personagens e tramas. Ghostbusters: Apocalipse de Gelo ainda é um filme de domingo à tarde, em sua essência, daqueles que você pode assistir enquanto prepara uma macarronada — abaixo do primeiro, porém, que era do tipo que prendia totalmente sua atenção.

Ghostbusters: Apocalipse de Gelo tem direção de Gil Kenan (A Casa Monstro), com roteiro escrito ao lado de Jason Reitman (Tully). O filme estreia em 11 de abril nos cinemas brasileiros.