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Crítica Duna Parte 2 | Um épico completo e bem melhor que o primeiro

Por| Editado por Durval Ramos | 28 de Fevereiro de 2024 às 19h05

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Divulgação/Warner Bros
Divulgação/Warner Bros

A primeira parte de Duna, que chegou aos cinemas em 2021, é um ótimo filme, mas é incompleto. Não é errado ou absurdo falar isso, pois ele é um longa pela metade. Com um ritmo às vezes lento demais, ele introduz ao público um universo cheio de regras e mitologias e, quando parece que vai finalmente começar, acaba.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme mesmo assim, o longa tinha muito valor, com uma fotografia e elenco impressionantes, mas mesmo grandioso, parecia faltar algo que o fizesse ser realmente épico e deixasse para trás a sensação de estar vendo um comercial de perfume muito caro e com quase três horas de duração.

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Com Duna: Parte 2, Denis Villeneuve (Blade Runner 2049) retorna à direção e mostra que, depois de preparar bem o terreno arenoso de Arrakis, é hora de fazer a história avançar sem medo, confiante e ainda levantar questões filosóficas sobre idolatria, poder e destino, enquanto faz uma galera surfar em cima de uns vermes gigantes e de formato duvidoso.

Começa correndo e não para mais

Duna: Parte 2 não faz questão nenhuma de preparar o espectador para o que ele está prestes a assistir e está completamente correto em fazer isso. Desde a primeira cena, o filme parte da ideia que você já sabe onde a história se passa, quem são os personagens principais e pelo que eles passaram para chegar até ali. Há uma mais do que breve introdução que serve só para você lembrar o mínimo necessário e pronto.

Em vez de perder tempo tentando explicar coisas que já foram apresentadas, o filme "começa correndo", mostrando Paul Atreides, interpretado por Timothée Chalamet (Wonka), e sua mãe, Lady Jessica, interpretada por Rebecca Ferguson (Missão: Impossível - Acerto de Contas), juntos com os Fremen, povo nativo de Arrakis.

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O filme começa exatamente de onde o anterior parou, conseguindo mostrar com bastante competência uma passagem de tempo de alguns meses bastante movimentados. Cobrindo o restante dos acontecimentos do livro, Villeneuve parece ter deixado boa parte da ação e de questionamentos mais filosóficos do texto original para essa segunda parte, algo que o torna bem mais grandioso que o longa de 2021.

Um homem em busca de vingança e seu lugar

Enquanto Duna girava bastante em torno de uma trama política que envolvia a Casa Harknonnen e a Casa Atreides pelo domínio do planeta Arrakis, a parte 2 foca bem mais em Paul e na sua busca por vingança pela morte de seu pai e amigos. O primeiro ato da adaptação mostra como Paul, e de certa forma sua mãe, se integram aos Fremen, se tornando figuras importantes dentro dessa sociedade.

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Enquanto Lady Jessica tem planos bem estabelecidos sobre cada passo que dá, Paul parece cada vez mais empolgado em apenas ser um Fremen, lutando ao lado de Stilger, interpretado por Javier Barden (007: Operação Skyfall), e principalmente Chani, interpretada por Zendaya (Homem-Aranha: Sem Volta para Casa). Não dá para condenar o rapaz.

Depois de ter aparecido mais nos pôsteres e trailers da primeira parte do que no próprio filme, a atriz finalmente tem o destaque devido no novo longa, servindo como uma ligação forte de Paul com o povo nativo de Arrakis e um motivo para que ele tente a todo custo evitar o seu futuro messiânico.

O filme ganha muito ao apresentar esse dilema de Paul, que com visões do seu futuro, entende que, se abraçar o seu papel como o Escolhido de uma profecia milenar para liderar a humanidade, causará a morte de bilhões de pessoas. Ao mesmo tempo, vemos o povo Fremen acreditar nessa possibilidade e, até mesmo quando Paul nega ser o messias, é encarado com idolatria, que vê a negativa como uma forma de humildade do Escolhido.

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A maneira como isso é apresentado no filme funciona por mostrar como a fé cega as pessoas, ao mesmo tempo que é possível notar o caminho completamente torto que isso levará a humanidade no futuro. Em mais de uma cena, essa idolatria chega a ser engraçada de tão absurda que é, com qualquer ação que Paul tome seja vista como um grande sinal de que ele é o escolhido.

Isso faz com que o personagem se sinta preso a um destino que não deseja. A atuação de Chalamet nesse caso é muito boa por mostrar esse dilema, principalmente por conta das visões do futuro que Paul tem. Ele sabe o caminho que vai seguir e os diversos problemas que isso vai acarretar, mas existe um desejo de evitar a matança e a chance de perder a mulher que ama.

De uma maneira às vezes sutil e em outros momentos nem tanto, Villeneuve expõe a prisão da idolatria e levanta o questionamento sobre o livre arbítrio. Paul realmente está lutando para fugir do seu destino, ou suas ações, mesmo de fuga, são predestinadas a levá-lo ao caminho que tanto evita?

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Tudo isso é abordado em cenas com uma fotografia realmente grandiosa, com desertos que parecem não ter fim, e com cenas de ação muito legais, como domar uma minhoca gigante ou atacar perfuradores enormes.

Elenco estrelado, mas nem sempre bem aproveitado

O elenco de Duna: Parte 2 é impressionante, trazendo nomes como Christopher Walken (Pulp Fiction - Tempos de Violência), Austin Butler (Elvis), Florence Pugh (Midsommar), Stellan Skarsgard (Gênio Indomável) e Josh Brolin (Onde os Fracos Não Têm Vez).

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Enquanto a trama foca bastante em Paul, o que acaba mostrando bastante o trabalho de Chalamet e Zendaya, as poucas cenas com Rebecca Ferguson também são muito boas, já que revelam uma evolução interessante em seu personagem dentro da história geral do filme. Butler, no papel do vilão Feyd-Rautha é cativante, ainda que sua participação não seja tão expressiva como alguns trailers possam demonstrar.

Já outros atores acabam aparecendo muito pouco, como é o caso de Christopher Walken, no papel do Imperador Shaddam IV. Nas suas poucas cenas, ele passa a sensação de ser bem mais complexo, mas o pouco tempo de tela afeta o impacto de sua presença na trama, principalmente no terceiro ato.

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Atrizes como Léa Seydoux (007 - Sem Tempo Para Morrer) e Anya Taylor-Joy (Furiosa: Uma Saga Mad Max) aparecem tão pouco que chega a ser um desperdício. Enquanto a personagem da segunda faz sentido aparecer de relance, Léa Seydoux é praticamente uma participação de luxo, já que sua personagem poderia ser interpretada por qualquer atriz que não faria diferença alguma.

Muita coisa em pouco tempo (mesmo com quase 3h)

Talvez o único problema de Duna: Parte 2 seja o fato de o texto original ser bastante denso, apresentando novas mitologias, levantando questionamentos filosóficos e criando um universo rico de detalhes e personagens. A adaptação, ao tentar pegar quase tudo e colocar dentro de um longa de quase três horas, tem um resultado que pode parecer exaustivo.

É possível imaginar pelo menos mais dois filmes menores dentro dessa segunda parte. Ainda que seu ritmo não o deixe chato em momento algum, ele está em constante movimento e trazendo mais informações ao espectador. Por ser uma saga com vários livros, muitos acontecimentos e personagens são apresentados e somem logo em seguida, deixando uma sensação de "Vem aí" em vários momentos — o que é um pouco arriscado quando essa pos´sivel sequência não está confirmada.

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A ideia de que qualquer filme mais longo possa ser dividido em uma série muitas vezes pode parecer uma ofensa, tanto para os envolvidos, como para o público geral, mas talvez fosse interessante para uma obra como Duna. Uma tentativa do começo dos anos 2000 mostra que não é uma tarefa muito fácil, mas seria uma alternativa para mostrar mais desse universo.

Denis Villeneuve fez um trabalho excelente nesses dois filmes, mostrando o que podia e de um jeito impressionante, mas fica uma sensação que talvez com um pouco mais de tempo para respirar, alguns momentos poderiam ter um impacto maior. 

Duna: Parte 2 é um filme grandioso, impressionante e que não tem medo de ser uma ficção científica densa e filosófica, algo que deve agradar bastante aos fãs do gênero.

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O longa estreia nos cinemas de todo o Brasil no dia 29 de fevereiro.