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Crítica Elvis | Um filme exageradamente bom

Por| Editado por Jones Oliveira | 14 de Julho de 2022 às 15h30

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Reprodução/ Warner Bros
Reprodução/ Warner Bros

Elvis estreou nos cinemas brasileiros prometendo contar a história de vida e de carreira de um dos ícones do rock, e não decepcionou. Abusando do exagero nas roupas, cenas e na fotografia, o filme mostra potencial para conquistar a audiência.

E falar que o filme do Elvis é um grande exagero não é, necessariamente, um ponto negativo. Como tudo que se refere a ele sempre foi exagerado, o longa não poderia assumir um tom blasé. Esse, inclusive, é justamente o maior acerto do diretor Baz Luhrmann. Com duas horas e quarenta minutos de duração, o espectador nem sente o tempo passar— a menos que tenha exagerado no refrigerante— ao mergulhar na história de um dos maiores cantores do mundo.

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Elvis conta a história do astro desde a infância difícil até a queda, passando, é claro, pela ascensão, quando ele se torna um dos cantores mais famosos e bem pagos dos Estados Unidos. Nascido em Tupelo, Mississippi, no ano de 1953, o menino tinha um irmão gêmeo, chamado Jesse, que morreu 35 minutos após o parto e foi enterrado em uma caixa de sapato, uma vez que a família não tinha dinheiro nem para o caixão.

As tragédias da família Presley não pararam por aí: seu pai foi preso por estelionato, enquanto Elvis e sua mãe foram despejadados de onde viviam, indo morar em um bairro de pessoas negras (vale lembrar que, nesta época, a segregação racial era muito presente).

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Após esses episódios, a vida do garoto vai seguindo sempre rodeado de influências negras. Elvis começa, então, a cantar numa banda e sua voz cai nos ouvidos de Tom Parker (Tom Hanks), um homem ganancioso que vivia de dar golpes nas pessoas.

É inclusive sob o ponto de vista de Parker que a história é contada. A primeira meia hora de tela é focada totalmente no empresário, e só após esse tempo que o filme se torna realmente sobre Elvis.

Outro ponto que vale falar é que existe um mistério em revelar o rosto do cantor. A princípio, ele aparece sempre de costas ou de lado, e só depois de um tempo dá as caras para a tela. Isso pode soar desinteressante e fazer o filme custar a engatar mas, após revelar Austin Butler como o rei do rock, o longa resgata o fôlego e o ritmo.

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Exagero no tom certo

Butler encarnou brilhantemente a personalidade do astro, obviamente abusando do exagero. Desde o jeito de dançar rebolando os quadris até o tom de voz, passando pela maneira de falar com a boca semi aberta olhando para baixo, tudo parece milimetricamente bem encaixado.

E isso é mérito do ator, que fez preparação vocal há cerca de um ano antes das gravações começarem. É ele que canta na fase jovem de Elvis — nas outras fases, a voz de Austin é misturada com gravações originais do cantor. Esse, inclusive, é outro acerto!

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A caracterização é tão bem feita que, somado ao fato do efeito granulado de alguns trechos do filme para parecer uma filmagem antiga, pode fazer com que o espectador se confunda e não tenha certeza se está vendo Austin ou o verdadeiro Elvis.

Isso fica mais evidente em uma cena quase no final do longa, quando mostra o cantor já deprimido, doente, com sobrepeso, sentado em frente ao piano em seu último show antes de morrer.

Dá para notar que, pouco a pouco, tudo vai se deteriorando na vida do astro: seu corpo, suas finanças, seu casamento… Só uma coisa continua intacta: sua voz.

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Já Tom Parker, por sua vez, é um empresário bonachão e ganancioso que não entende nada de música e suga tudo o que pode do cantor para sustentar seu vício em jogo. Tom Hanks dá o tom exato do personagem, que termina sua vida sozinho vagando pelos cassinos de Las Vegas.

Além dos dois protagonistas, aparecem Priscilla Presley (Olivia DeJonge), a esposa do cantor, e sua filha Lisa Marie, que apesar de serem pessoas importantes na história, não ganham muito espaço no filme.

Elvis The Pelvis

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Conhecido pelo seu rebolado único, Elvis foi perseguido pelos grupos conservadores da época que viam nesse estilo de dança luxúria e pecado. Nos tabloides tradicionalistas, ele recebeu o apelido de “Elvis The Pelvis” pelo seu modo de se apresentar nos palcos.

Modo esse que Tom Parker tenta mudar a fim de não desagradar essa elite e continuar ganhando dinheiro. Mas, o que incomodava mais não era apenas o rebolado, o cabelo “de menina” e a maquiagem nos olhos, e sim o fato de Elvis cantar e dançar igual negro.

O não embranquecimento da história

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O cantor viveu a vida toda rodeado de pessoas negras, chamadas, na época, de pessoas de cor, e isso é bem retratado no filme que mostra, inclusive, a relação de Elvis e B.B King (Kelvin Harrison). Foi na igreja de negros que ele aprendeu a dançar e rebolar, o que mais tarde viria a se tornar sua marca registrada.

Ao misturar soul, gospel e folk, ele conquistou os Estados Unidos. Mas, em uma época em que o segregacionismo estava tão presente, onde havia barreiras físicas separando negros e brancos, cantar como um negro era uma grande ofensa para a sociedade.

Desse modo, Elvis tinha o talento de um negro com a passabilidade de um branco, e isso lhe permitiu emergir e se tornar um astro, ainda que tivesse que ir contra a corrente. Um ponto marcante é quando ele comenta com B.B King que estão querendo lhe prender devido ao seu jeito de dançar. O amigo retruca dizendo que Elvis é branco e pode fazer o que quiser, enquanto ele, sendo negro, pode ser preso apenas por atravessar a rua.

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Um Elvis para todos os públicos

Até quem não é fã ou não conhece muito a vida e a carreira do cantor tem chances de gostar do longa. Isso porque o enredo é bem construído, os figurinos trazem um ar de nostalgia e os grandes sucessos embalam as mais de duas horas de tela. Tom Hanks e Austin Butler não deixam a peteca cair, e não dá para negar que a história de Elvis por si só já vale a pena.

No filme, o astro lamenta por estar perto de fazer quarenta anos e nunca ter feito nada inesquecível. O que ele não imaginava é que 45 anos após a sua morte, continuaria sendo uma das principais vozes do rock e ganharia um filme para chamar de seu.