Crítica Wonka | Timothée Chalamet protagoniza um filme doce como chocolate
Por Diandra Guedes • Editado por Durval Ramos |
O doceiro mais maluco e extravagante do mundo agora tem um filme para chamar de seu. Willy Wonka teve sua história contada em Wonka, filme do diretor Paul King que estreia nos cinemas brasileiros no dia 7 de dezembro, trazendo o queridinho de Hollywood, Timothée Chalamet, no papel principal e a genial Olivia Colman como uma vilã engraçada e perversa. Afastando-se da adaptação de 2005, estrelada por Johnny Depp, e criando uma personalidade única para o protagonista, o longa é uma trama agradável que convida o público para passear nesse mundo encantado e esquecer os problemas reais.
Contada em forma de musical, a história acompanha Wonka terminando uma viagem em alto-mar e chegando à Galeria Gourmet, lugar onde sempre sonhou abrir sua loja para vender doces. Acontece que, para isso dar certo, ele precisa enfrentar a fúria de três magnatas do chocolate que estão dispostos a fazer tudo para não perderem dinheiro e clientes. Como se já não bastasse, Wonka, que nessa adaptação é muito mais herói do que a figura ambígua do conto clássico, ainda comete o erro de se hospedar na pousada da trambiqueira Srta. Scrubit, uma mulher asquerosa vivida brilhantemente por Colman.
Lá, ele descobre que praticamente vendeu sua alma ao diabo e que terá que trabalhar na lavanderia do local para pagar sua dívida. É a partir daí que ele conhece outras pessoas que também estão na mesma situação. A primeira é Noodle (Calah Lane), uma pobre menina órfã que se torna a sua fiel escudeira, e o restante é composto por um contador (Jim Carter), um comediante sem graça (Rich Fulcher), uma telefonista (Rakhee Thakrar) e uma mecânica (Natasha Rothwell).
Juntos, eles ajudam o inventor maluco de chocolates a sair dessa enrascada e, claro, se salvam também. E é com esse roteiro aparentemente simples que a obra conquista o espectador facilmente.
Sem ficar inventando muita moda ou colocando detalhes exagerados no texto, Wonka se atém ao que é importante e dá tempo para que Chalamet desenvolva bem o seu personagem, construindo as várias camadas que ele entrega em cena. Seja cantando ou falando, o protagonista é sempre cativante e carrega um ar de esperança fundamental para manter a energia do filme nas alturas.
O exagero, então, fica por conta da cenografia que abusa das cores e dos efeitos especiais para transformar uma narrativa simples em algo mágico e construir um mundo surrealista. No geral, excessos como esses podem incomodar, mas se tratando desse tipo de produção, eles são fundamentais e foram muito bem feitos.
O que pode desagradar um pouco é a quantidade de números musicais ao longo da trama. Todo mundo canta! Do protagonista ao coadjuvante, sempre há uma cena de canto e dança que, inclusive, são bem produzidas e, se tratando de um musical fazem sentido, mas ainda assim não deixam de ser cansativas para quem não gosta do gênero.
Elenco tem uma participação pra lá de especial
Entre todos os acertos do filme, a escalação do elenco é o que mais se destaca. Primeiro. porque Chalamet parece nascido para o papel. Segundo. porque Colman prova mais uma vez sua versatilidade em cena, encarando uma vilã um tanto quanto grosseira, um tanto quanto infantil e que lembra muito a diretora Trunchbull de Matilda. E, terceiro, porque traz Rowan Atkinson (o eterno Mr. Bean) como um padre chocólatra e corrupto.
Ele não tem muito tempo de tela e nem muitas falas, mas pra quem consegue fazer rir só com as expressões faciais, não é preciso de texto algum. Também se destaca a participação de Tom Davis (Legacy) como Bleacher, uma espécie de capanga e amante da Sra.Scrubit.
Em resumo, todos estão bem em seus papéis e têm química entre si, fazendo com que o texto flua sem maiores problemas. Texto esse que é cheio de referências a outros filmes — como Cantando na Chuva (1952) — e que criou uma história de vida nova para o protagonista, totalmente diferente daquela mostrada no filme de 2005.
Se, lá, Wonka tinha dificuldades de relacionamento com seu pai, o que culminou na sua solidão e excentricidade, aqui ele tem carinho pela mãe falecida e faz de tudo para se sentir perto dela novamente. É uma mudança sutil em seu passado, mas que faz toda a diferença na construção dessa protagonista e no desenvolvimento de suas motivações, afetando a forma como o público se relaciona com ele. Além disso, o herói é totalmente construído como alguém de bom coração, sem nenhum traço de loucura ou maldade — diferente da versão mais sádica de Depp, por exemplo.
Outra diferença é a relação com os Oompa Loompa. Neste filme, apenas uma das pequenas criaturas aparece e é muito mais questionadora e menos boba do que as já vistas no filme da década de 2000.
E é por meio dessa harmonia de enredo inovador, elenco brilhante e cenários mágicos que Paul King conseguiu construir um filme infantil que vai agradar a toda família. Ótima novidade de 2023. Lembrando que quem quiser assisti-lo, o encontra no cinema mais próximo a partir de 7 de dezembro.