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Crítica A Mãe | Filme é uma grande farofa, mas fica devendo no tempero

Por| Editado por Jones Oliveira | 15 de Maio de 2023 às 11h00

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Existe um tipo muito específico de filme que só é classificado aqui no Brasil graças à flexibilidade da língua portuguesa — o filme farofa. É aquela produção que, tal qual nossa iguaria gastronômica, fica no meio do caminho. Não é ruim, mas também está longe de ser um prato principal. É algo que está ali para nos saciar, mas sem a pretensão de alcançar algo mais do que isso. E, nesse sentido, A Mãe é uma farofa bastante honesta, ainda que lhe falte um pouco de tempero.

A história protagonizada por Jennifer Lopez não é diferente de nada o que você já não tenha visto em tramas de ex-militares e assassinos por aí. De Busca Implacável a John Wick, temos a mesma jornada dessa agente extremamente habilidosa que se vê obrigada a deixar a aposentadoria por uma boa razão — no caso, proteger a filha de criminosos que estão a caçando há anos.

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É um roteiro bastante manjado, mas que funciona pela força de sua temática. A ideia da mãe que luta com unhas e dentes para proteger a filha é algo que sempre nos alcança de uma forma ou de outra. E, no caso do longa da Netflix, também por não querer ser nada muito além dessa diversão passageira — uma farofa feita especialmente para o Dia das Mães e nada mais.

Mais drama, menos ação

Apesar de a premissa de A Mãe refletir bastante a trama de alguns sucessos recentes do cinema de ação, a verdade é que o filme puxa mais para o drama do que realmente para a pancadaria. Quem for dar o play esperando grandes sequências de tiroteio e pancadaria pode se decepcionar — e já vamos voltar a esse ponto —, mas isso não tira do título o seu valor.

A história de mãe e filha distantes que precisam se aproximar em meio a situações adversas não é nada original. Acabamos de sair de The Last of Us, que é apenas mais uma entre tantas produções desse tipo. No entanto, mesmo assim, a luta da personagem de Jennifer Lopez para sobreviver enquanto tenta criar vínculos com sua menina é algo que funciona e segura o roteiro.

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E isso graças à atuação de J.Lo, que segura o papel dessa mulher que se fechou para o mundo, amargurada pelas próprias decisões. Todas as suas interações com Zoe (Lucy Paez) carregam um misto de tensão e desconforto que casa muito bem com aquilo que a protagonista está sentindo. Depois de tanto tempo longe da filha, o sentimento de estranheza é inevitável: da mesma forma que a garota não a reconhece como mãe, a heroína também não sabe lidar de forma materna com a adolescente.

E é em torno dessa relação cheia de atritos e mágoas que A Mãe se desenvolve, com ambas cedendo aos poucos para se permitirem conhecer, ao mesmo tempo em que abraçam a dureza necessária para sobreviver. Mais uma vez, é aquela jornada que já vimos outras vezes, mas que é bem apresentada por aqui.

Isso não evita, porém, que o filme caia em alguns clichês do estilo. Da negação da maternidade às metáforas com a natureza — sim, vai ter alguma comparação entre as duas e uma família de lobos —, o filme é previsível do começo ao fim, mas não dá para negar que ele tem coração.

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Pancadaria pela metade

Na parte dramática, A Mãe segue o caminho mais óbvio possível, mas cumpre bem seu papel nesse sentido. O mesmo não pode ser dito da ação, que deixa bastante a desejar.

Para um filme cuja protagonista é uma ex-agente e assassina extremamente habilidosa, o longa fica devendo e muito na parte divertida de uma história de ação. Ainda que o cerne da trama esteja na tensão dramática, não faria mal algum termos momentos mais intensos de adrenalina.

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Existem três grandes sequências ao longo das duas horas de história, mas nenhuma realmente que chegue perto de tirar o fôlego. A primeira é uma perseguição em Cuba que até esboça algumas situações interessantes, mas tropeça em clichês que não ajudam a tornar as coisas mais agitadas. Ao invés de apostar em uma escalada da tensão e em coisas que coloquem os heróis de verdade em risco, a diretora Niki Caro opta por colocar um carro destruindo barraquinhas no meio da rua e estudantes impedindo que a moto avance.

Já as duas outras sequências, que marcam o confronto dessa mãe com seus ex-companheiros, vividos por Gael García Bernal e Joseph Fiennes, não fazem jus à ameaça que eles deveriam representar.

Na tentativa de colocar a Mãe como essa atiradora de elite implacável e extremamente mortal, o filme cai na armadilha de não oferecer perigo para ela. Isso é algo que se repete nas duas situações, o que faz com que a gente não tenha aquele clímax que faz parte da narrativa de ação. Tudo é muito morno e resolvido sem os típicos sobressaltos que são típicos do gênero.

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E é claro que nem toda história precisa da megalomania de um John Wick ou dos Irmãos Russo, mas não dá para tudo ser resolvido de forma tão apática. Para que essa farofa funcione, ela precisa de um pouco de tempero de adrenalina — o que não é o caso por aqui.

Além disso, há um outro problema um pouco mais sutil, mas igualmente incômodo: a terrível direção de Caro. Ela já tinha sido muito criticada com seu Mulan e parece que pouca coisa mudou desde então.

O maior exemplo disso é a luta final entre a Mãe e Adrian (Joseph Fiennes) em meio a uma floresta congelada no Alasca. è simplesmente impossível entender o que está acontecendo, já que a câmera trêmula e a edição frenética impedem que qualquer coisa fique nítida na tela. São tantos cortes que você mal consegue enxergar quem está atacando e quem está se defendendo. É algo tão confuso que parece querer esconder os atores e a sua coreografia de combate.

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Outro ponto é que a diretora insiste em um tipo de imagem desfocada em momentos que isso não faz o menor sentido. Na linguagem cinematográfica, esse recurso é comumente usado para denotar desorientação do personagem, quase como se fosse para ilustrar sua confusão mental. Só que, em A Mãe, o uso desse recurso é apenas aleatório.

Há momentos em que não há nada acontecendo em que toda a imagem em torno dos personagens está borrada ou distorcida e sem qualquer razão para isso. E Caro insiste tanto nessa estética que ela se torna irritante, a ponto de atrapalhar o desenvolvimento da cena.

A Mãe vale a pena?

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Como boa parte dos filmes estrelados por Jennifer Lopez, A Mãe é mais um caso de história que funciona pelo carisma e pela força da atriz. A luta dessa mãe para salvar a filha dos erros do seu próprio passado desliza na ação, mas se mantém de pé graças à força da protagonista. Embora seja um clichê já bastante batido, a relação das duas protagonistas é o ponto alto por aqui e o que há de mais interessante para se ver.

E mesmo com a direção de Niki Caro deixando muito a desejar, há de pontuar que o longa jamais se propôs a ser algo além de uma farofa. Ele não quer reinventar o gênero e tampouco criar um novo patamar de histórias do tipo, apenas oferecer uma diversão passageira, daquelas que você esquece pouco tempo depois. E é isso o que entrega.

A Mãe está no catálogo da Netflix.