Esqueleto mais completo de neandertal de 75 mil anos ganha rosto
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
O esqueleto de neandertal mais bem-preservado e completo encontrado no século XXI ganhou um rosto graças à reconstrução facial de cientistas. O indivíduo das antigas em questão era uma mulher, tendo vivido há cerca de 75.000 anos e sendo encontrada na caverna de Shanidar, onde a espécie enterrou diversos mortos no mesmo lugar ao longo de muito tempo.
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A caverna de Shanidar foi achada nos anos 1950 no Curdistão Iraquiano, e abriga diversos restos arqueológicos valiosos sobre os neandertais. Entre eles, há ao menos 10 espécimes diferentes, cinco deles enterrados no mesmo local, atrás de uma grande rocha. O lugar provavelmente tinha um significado especial para os neandertais, e foi usado por diversas gerações diferentes.
Shanidar e a face da neandertal
Um dos aspectos mais polêmicos da caverna é que amontoados de pólen foram achados em torno de alguns esqueletos, o que levou pesquisadores a acreditarem que os Homo neanderthalensis estavam homenageando seus mortos — uma mostra de cognição que não se esperava da espécie, aproximando-a das nossas práticas culturais.
Quanto à neandertal reconstruída, ela estava no grupo posicionado atrás do monólito, com o crânio amassado sob uma pedra. Uma datação feita em seus dentes remanescentes indicou que ela teria morrido em meados da quarta década de vida, então ela provavelmente era respeitada e reverenciada devido à idade avançada.
Um trabalho cuidadoso de reconstrução do crânio achatado foi realizado, dificuldade esta aumentada pelo fato do osso estar com consistência de “biscoito molhado em leite”, nas palavras dos pesquisadores responsáveis. Mesmo com a fragilidade, foi possível remontar as partes restantes do crânio — apelidado de Shanidar Z — e estimar a aparência da neandertal.
Como outros da sua espécie, a mulher de Shanidar tinha uma arcada supraciliar grande, um queixo praticamente ausente e uma face saliente, o que deixa a impressão de um nariz avantajado. A reconstrução de seu rosto foi revelada na recente série documental Os Segredos dos Neandertais, da Netflix.
Mesmo com a aparência diferente, tanto a recriação facial quanto outras pesquisas indicam que a diferença na vida diária não era tão grande, especialmente na convivência com humanos modernos — muitos Homo sapiens deixaram descendentes híbridos da espécie prima.
A questão do enterro neandertal ainda é controversa: teriam eles enterrado deliberadamente os mortos por décadas ou até séculos consecutivamente? Ou seria só uma coincidência? Nesse caso, porque voltariam à mesma caverna? Algumas perguntas foram melhor respondidas, como a questão das flores.
Evidências recentes mostram que abelhas habitaram a caverna e fizeram colmeias no local, o que explicaria o pólen. Ainda há alguns sinais de cognição e inteligência emocional dos neandertais, no entanto, já que foram achados ossos de um indivíduo com deficiência que teria de receber cuidados por toda a vida — e os teria recebido de seus colegas de espécie.
No final das contas, eles não eram tão diferentes de nós: sabiam fazer discursos, meditar, produzir farinha, criar arte e muito mais.
Fonte: Universidade de Cambridge