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Neandertais tinham capacidade física para entender e fazer discursos, diz estudo

Por  • Editado por Claudio Yuge | 

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 sgrunden/Pixabay
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Pesquisadores da Universidade de Binghamton, em Nova York, descobriram que os Neandertais, nossos parentes extintos há mais de 28 mil anos, conseguiam reproduzir sons parecidos com os dos humanos. A pesquisa foi feita através da análise de uma reconstrução digital da estrutura dos ossos de seus crânios, reacendendo um debate de décadas sobre as capacidades linguísticas desta espécie dos nossos antepassados.

Rolf Quam, paleoantropologista da Universidade de Binghamton e um dos responsáveis pelo estudo, conta que os resultados da pesquisa mostram que está claro que os Neandertais tinham a capacidade de perceber e produzir a fala humana. "Está é uma das poucas linhas de pesquisa atuais e que estão em andamento que dependem da evidência de fósseis para estudar a evolução da linguagem, um assunto bastante complicado na antropologia", conta o cientista.

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Os estudos atuais sobre o quão primitivos eram os Neandertais já apresentaram provas de que eles eram muito mais inteligentes do que já pudemos imaginar. Os pesquisadores relatam que eles conseguiram desenvolver tecnologias, produzir ferramentas, criar diferentes artes e até fazer funerais para os mortos. O mistério, no entanto, sempre esteve na capacidade da comunicação através de uma fala. Enquanto seus comportamentos sugerem que eles eram capazes de se comunicar, cientistas afirmam que somente nós, humanos, tivemos a capacidade mental de conversar através de processos linguísticos mais complexos.

Reconstrução digital

Mas para chegar nesta conclusão, foi preciso que os cientistas aproveitassem as tecnologias existentes para estudar a possibilidade física da fala dos Neandertais. Para isso, a equipe de paleoantropologistas usaram ossos de crânios antigos de Neandertais e fizeram tomografias de alta resolução, criando modelos virtuais em 3D de cinco estruturas de orelhas. Os cientistas ainda modularam as estruturas das orelhas dos humanos, os Homo sapiens, e de uma espécie mais antiga chamada hominídeo da Sima, ancestral dos Neandertais, que viveram há mais de 430 mil anos.

A capacidade auditiva foi, então, entendida através da tecnologia de bioengenharia auditiva, que analisou o alcance vocal humano. Os pesquisadores acabaram descobrindo que os Neandertais tinham uma audição mais aprimorada entre a faixa de 4 kHz a 5 kHz, com a largura de banda mais próxima dos humanos modernos, melhor ainda que dos hominídeos da Sima. Com isso, aumenta a possibilidade de que os Neandertais precisavam ouvir a voz um dos outros para se comunicarem.

Mercedes Conde-Valverde, professora da Universidade de Alcalá e a autora principal do estudo, conta que a existência de habilidades auditivas, principalmente a largura de banda, semelhantes às nossas mostram que os Neandertais contavam com um sistema de comunicação tão complexo e eficiente quanto a fala humana. A pesquisa mostra ainda que as frequências identificadas estão mais relacionadas à produção de consonantes, ao contrário da vocalização de primatas não-humanos e outros mamíferos, que está concentrada nas vogais.

"Estudos anteriores sobre as capacidades de fala dos Neandertais focavam em suas habilidades na produção das principais vogais na língua inglesa falada", conta Quam. "No entanto, sentimos que essa ênfase está equivocada, pois o uso de consoantes é uma forma de incluir mais informação no sinal vocal, e também separa a fala humana e a linguagem dos padrões de comunicação de quase todos os primatas", completa.

Os pesquisadores alertam, porém, que a capacidade anatômica dos Neandertais de produzir e ouvir discursos não significa, necessariamente, que eles contavam com habilidade cognitiva para isso. "Nossos resultados, junto a outras descobertas recentes, apontam para comportamentos simbólicos entre os Neandertais, reforçando a ideia de que eles possuíam algum tipo de linguagem humana, uma que é bem diferente em sua complexidade e eficiência de qualquer outro sistema de comunicação oral usado por organismos não-humanos do planeta", diz o estudo.

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A pesquisa está disponível para consulta no EurekAlert.

Fonte: Science Alert