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Arte mais antiga do mundo não foi feita por humanos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 24 de Janeiro de 2023 às 11h46

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Miguel Angel de Arriba/CC-BY-3.0
Miguel Angel de Arriba/CC-BY-3.0

Quando falamos em pinturas rupestres e arte nas cavernas, é normal imaginar uma ancestral humano, como um Homo erectus, pintando animais e contornos das mãos nas paredes dos seus esconderijos. Mas e se lhe disséssemos que as primeiras pinturas feitas na história não foram obras humanas e, sim, neandertais? O polêmico assunto é tema de pesquisa de diversos cientistas, como o arqueólogo Paul Pettitt.

A comunidade científica determinou, nos últimos anos, que os Homo neanderthalensis produziram, sim, arte — de vez em quando. Suas comunidades tinham, assim como as nossas ou as dos chimpanzés, expressões culturais diferentes, variando de acordo com o grupo e com a época evolutiva em que estavam.

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Evolução dos neandertais

As obras da espécie eram mais abstratas do que os animais e mãos feitas pelos humanos, que só começaram a pintar depois do sumiço dos neandertais, há 30.000 anos. Os ancestrais diretos dos Homo sapiens surgiram na África há 315.000 anos, enquanto nossos parentes H. neanderthalensis já mostraram estar na Europa há pelo menos 400.000 anos.

Após um tempo rumando pelo continente, eles começaram a misturar minerais como hematita, ou ocre, e manganês com certos fluidos para fazer tinta vermelha e preta, a fim de decorar o corpo e as roupas, acreditam os cientistas. Isso teria acontecido há cerca de 250.000 anos. Descobrimos evidências de suas práticas artísticas ao encontrar pegadas, sinais de uso de ferramentas e pigmentos no fundo de cavernas, locais onde não haveria motivo biológico óbvio para os neandertais frequentarem.

Curiosidade e cultura são a chave para entender esse comportamento. Ir até as profundezas de uma caverna sem água ou alimento para pintar cavernas devia ter algum motivo maior, ritualístico ou societal, não apenas exploração. Os grupos neandertais eram pequenos, próximos e nômades, carregando brasas para fazer fogueiras nos abrigos rochosos e bancos fluviais onde acampavam. Com ferramentas, eles afiavam as lanças e cortavam carcaças. Era uma vida social e cultural familiar, com escambo entre grupos e também competições.

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A arte neandertal pelas eras

As mudanças culturais da espécie eram refletidas na sua produção visual. A ciência notou aumentos no uso de pigmentos e ornamentos corporais ao longo da existência dos neandertais, provavelmente com o intuito de competir pela liderança do grupo, sofisticando cada vez mais os métodos de coloração e ornamentação, demonstrando poder e convencendo outros de sua força e habilidade de liderança.

Há pelo menos 65.000 anos, então, foram utilizadas tintas vermelhas para marcar as cavernas profundas da Espanha, em Ardales e Málaga, por exemplo, pintando as partes côncavas de estalactites brancas e brilhantes. Em Extremadura, na caverna de Maltravieso, foram pintados os contornos das mãos. Na Cantábria, na caverna de Pasiega, um retângulo foi desenhado com tinta nas pontas dos dedos.

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Cerca de 15.000 anos mais tarde, ornamentos pessoais começaram a surgir nos corpos dos H. neanderthalensis, compostos de partes de animais, como dentes, conchas e ossos quebrados. Nessa época, nossos ancestrais H. sapiens vestiam coisas semelhantes, um sinal de uma comunicação compartilhada e provavelmente entendida por todos.

Os neandertais podem não ter feito arte figurativa como nós, humanos, fizemos desde 37.000 anos atrás, mas ela não é um crachá de modernidade assim como sua ausência não é um crachá de primitivismo. A espécie preferia adornar os corpos ao invés de focar em cavernas, mas é interessante que os H. sapiens só começaram a desenhar animais após a extinção dos neandertais, denisovanos e todas as outras espécies hominídeas — nenhuma delas fazia isso na Eurásia miscigenada de 300.000 a 40.000 anos atrás. Algo para se refletir, e, é claro, estudar no futuro.

Fonte: The Conversation