Descoberta da primeira laringe de dinossauro pode revelar como eram seus sons

Cientistas estão chegando perto de descobrir que som uma espécie de dinossauro fazia ao estudar uma garganta fossilizada de anquilossauro, que viveu há 80 milhões de anos e deixou seus restos preservados na bacia sedimentar do Deserto de Gobi, na Mongólia, para serem encontrados em 2005. Seu nome científico é Pinacosaurus grangeri.

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Quando os ossos do extinto herbívoro foram encontrados, a hipótese era de que tinham um papel na respiração, mas paleontólogos do Museu da Universidade de Hokkaido, no Japão, e do Museu Americano de História Natural, dos Estados Unidos, apresentaram uma nova hipótese — a de que o fóssil seria uma caixa vocal, ou laringe, parte essencial da comunicação que nunca havia sido descoberta em um dinossauro não aviano.

Anatomia dos répteis e pássaros

E mesmo que a grande criatura de armadura tenha sido um parente relativamente distante dos pássaros, sua laringe tem muitas similaridades com a dos piadores modernos. A anatomia do sistema de vocalização parece ser um curioso híbrido entre a caixa de voz dos répteis e aves dos dias atuais.

Há cerca de 250 milhões de anos, arcossauros (Archosauria), um tipo de grandes animais semelhantes aos répteis, se ramificaram em dois grupos distintos. Um deles veio a constituir os dinossauros e os aéreos pterossauros, enquanto o outro se tornou os ainda vivos crocodilos e jacarés. O pinacossauro teria uma voz intermediária entre esses dois tipos de criatura, conforme avaliado pelos pesquisadores.

É possível afirmar que os dinossauros faziam sons parecidos com os dos crocodilos com relativa segurança. Partindo dessa anatomia, os pássaros evoluíram e criaram novas maneiras de produzir sons, principalmente modificando os barulhos que saíam da garganta com mais nuances.

A laringe é um tudo oco que fica no topo da garganta e tem anatomia adaptada para produzir ondas sonoras — quando o ar é exalado, dobras de tecido vibram em frequências específicas. Essa é uma das formas com que mamíferos, anfíbios e répteis produzem sonos, mas os pássaros vão além. Eles possuem uma parte anatômica extra chamada siringe, ficando no lado oposto da traqueia em relação à laringe.

As siringes possuem dois tubos separados, permitindo fazer duas vocalizações ao mesmo tempo. Com o auxílio de mais uma parte mais além na traqueia, as aves modulam ainda melhor os sons produzidos no fundo da garganta. É uma estrutura bastante complexa, e os cientistas ainda não conseguiram compreender como ela evoluiu de uma laringe, consideravelmente mais simples.

Preservação e arqueologia detetivesca

Aves atuais descendem dos dinossauros avianos, mas como a caixa vocal é feita de tecidos moles, poucos exemplos preservados resistiram ao tempo. A siringe mais antiga já encontrada tem 66 milhões de anos, parecendo um pouco com os órgãos de gansos e patos modernos. A laringe fossilizada do arcossauro do estudo é o primeiro exemplo de um dinossauro não aviano, que não deixou descendentes vivos.

Nos restos do dinossauro, há uma cartilagem em formato anelar na laringe chamada cricoide, particularmente grande nesse caso. Maior, ao menos do que se costuma ver na laringe de répteis modernos. As espécies que tendem a ser mais vocais têm essa cartilagem em tamanho mais avantajado, ou seja, seu tamanho é um bom indicativo de quão comunicativo era o animal.

Comparado a tartarugas, lagartos, crocodilos e pássaros atuais, o pinacossauro tinha uma laringe alongada, sugerindo que o órgão teria sido usado para originar o som, e não modificá-lo, como fazem os répteis. Os pássaros modernos modificam o som com outra estrutura, mas de uma forma semelhante. O dinossauro teria feito sons altos e explosivos, como os chamados vocais de aves.

Embora os cientistas não consigam, ainda, definir que tipo exato de som a criatura fazia, mas de forma geral, seriam semelhantes a arrulhos (o som dos pombos) e chilreios, usados para cortejar parceiros, chamar filhotes, se defender de predadores e demarcar território. Mesmo que sua laringe tenha sido mais próxima dos répteis, sem ter nada de siringe, é possível que ainda pudesse fazer sons parecidos aos dos pássaros.

Fonte: Communications Biology