Este fóssil curioso é de um pássaro híbrido com crânio de dinossauro
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Você já deve ter ouvido que os pássaros modernos estão entre os descendentes mais próximos dos dinossauros com os quais podemos conviver atualmente. Embora a ciência já saiba disso há algum tempo, há poucos vislumbres do processo de transformação completo dos animais, ocultando as mudanças sutis de nós. Um novo fóssil encontrado na China, com 120 milhões de anos, nos presenteou com alguns desses detalhes evolutivos recentemente.
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O que impressiona nos restos preservados do pássaro é que ele está completo, o que permite mostrar suas características únicas, como a cabeça de dinossauro em um corpo bem mais parecido com o de uma ave moderna. Nos períodos de desenvolvimento dos filhotes dos pássaros modernos, ainda é possível ver alguns aspectos corporais semelhantes aos dos dinossauros — a evolução, no entanto, lhes tirou isso quando desenvolvidos.
Corpo de ave, cabeça de dino
Entra em ação, então, o Cratonavis zhui, o novo e curioso fóssil. Escavações no norte da China revelaram este e outros pássaros primitivos, como o Confuciosornis sanctus, além de dinos com penas, escondidos em rochas sedimentares do Cretáceo, de cerca de 120 milhões de anos. Com uma reconstrução digital do esqueleto C. zhui, foi descoberto que seu crânio é quase igual ao de grandes dinossauros, como o T. rex, e não como o de um pássaro.
Isso quer dizer que ele não podia abrir a parte superior do bico independente da caixa craniana e mandíbula inferior, como fazem as aves atuais — algo que, inclusive, as ajudou a se diversificar ecologicamente. O animal ficaria, evolutivamente, entre um Archaeopteryx, que é mais parecido com um réptil, e o Ornithothoraces, já bem mais próximo de uma ave contemporânea.
O fóssil também apresenta uma escápula (osso equivalente às nossas omoplatas) longa, além de um metatarso (osso médio do pé) avantajado, coisas extremamente raras em outros ancestrais e totalmente ausentes nos pássaros modernos. A hipótese é de que o metatarso teria diminuído por conta da seleção natural, ficando tão pequeno que perderia as funções ao ficar com menos de 1/4 do segundo metatarso.
A escápula longa foi vista em outros pássaros do Cretáceo, e teoriza-se que ela teria sido útil na ausência de um esterno, osso peitoral que sustenta os músculos fortes que movimentam as asas, essenciais ao voo atualmente. O osso mais comprido nas asas ajudaria a adaptar elementos como a retração e rotação do úmero, outro osso das asas, compensações iniciais que aconteceram antes do animal desenvolver completamente o voo como o conhecemos.
De certa forma, podemos chamar o C. zhui de "elo perdido" dos pássaros, ou pelo menos um degrau a menos na escada evolutiva entre eles e seus ancestrais dinossauros. É um lembrete muito interessante de como as mudanças biológicas são pequenas e acumulam-se uma sobre a outra, ocorrendo em diversos animais e de formas diferentes até encontrar as melhores adaptações ao ambiente possíveis.
Fonte: Nature Ecology & Evolution