Análise | Nissan Frontier esbanja tecnologia, poder e robustez
Por Felipe Ribeiro • Editado por Jones Oliveira | •
Em um mercado dominado pelos SUVs de todos os tipos e tamanhos, ainda há espaço para que apreciemos outros veículos. As picapes, outrora apenas sinônimos de trabalho, hoje receberam um banho de tecnologia e conforto para entrar nessa onda de carros aventureiros e utilitários esportivos.
Porém, para que haja sucesso nas vendas, uma série de fatores deve contribuir para isso. No caso específico dessas caminhonetes, o que percebemos é que, quanto mais versões, melhor para o consumidor, e esse é, talvez, o único pecado cometido pela Nissan com a Frontier.
A Nissan Frontier é recheada de equipamentos, tem uma cabine das mais agradáveis da categoria, um motor competente, porte, design interessante e o que é mais importante: aguenta o tranco. Entretanto, com apenas 8% de participação no mercado, a pergunta que fica no ar é: por que um produto tão qualificado não vende mais?
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A resposta, como pincelamos acima, pode ser o número baixo de versões, mas tentaremos explicar em nossa análise algumas coisas que podem fazer com que ela seja – ou não – a sua escolhida.
O Canaltech passou um tempo com a Nissan Frontier LE, a topo de linha na gama da picape média, e vai contar tudo para vocês agora.
O assobio do amor
Qualquer pessoa apaixonada por carros vai amar dirigir a Nissan Frontier. Nem mesmo sua direção hidráulica, que a torna um pouco mais dura, atrapalha a experiência de acelerar com esse monstro. O motor que equipa a picape é um 2.3 Biturbo de 190cv, com 45,9kgf/m de torque, que chega em 1500rpm, ou seja, tão logo você pisa, o carro responde com seu poderio máximo. O assobio que os turbos fazem quando o motor “enche” empolga e a sensação de chute nas costas quando pisamos no acelerador é digna de nota. Detalhe: a Frontier pesa 2115kgs.
Como toda picape desse porte, a Frontier “precisa” de trabalho. Portanto, você não vai achá-la tão divertida assim para deslocamentos curtos e para o dia a dia, muito em função do turbo lag. Mesmo que seu consumo seja para lá de aceitável, algo em torno dos 11km/l no diesel em circuito misto (estrada/cidade), o perfil de usuário da Frontier é aquele pequeno fazendeiro que precisa fazer deslocamentos em estradas, pegar ruas e entradas difíceis e carregar muito peso.
Como sempre fazemos com os testes de picape aqui no Canaltech, impusemos uma carga na caçamba da Frontier com algo em torno de 500kgs, que ela, claro, levou sem maiores problemas. Entretanto, algo que incomodou um pouco foi a suspensão da picape. Por mais que ela não balance tanto quanto a Toyota Hilux, por exemplo, traz para dentro da cabine todas as imperfeições do solo, em especial nas nossas ruas esburacadas.
É bom lembrar, porém, que a Nissan Frontier é uma 4x4, sendo que, no seu modo normal, a tração é traseira, e não dianteira, como em alguns modelos. Seu acionamento é manual e existe, além da opção de tracionamento convencional, a possibilidade de utilizarmos o 4x4 baixo, para terrenos mais complicados.
A Nissan Frontier passou uma segurança em manobras mais velozes nesse tipo de terreno que até o momento não vimos nas demais picapes que testamos. Isso pode ser explicado pelo seu acerto de suspensão, que é mais rígido – e por isso dá aquela impressão de solavancos.
Como sempre fazemos aqui no Canaltech, é bom ressaltar que a versão que testamos é a topo de linha, com o motor 2.3 Biturbo, com um câmbio automático de sete velocidades. Há também duas versões com apenas uma turbina e a mesma litragem, porém com 160cv, potência inferior à Toyota Hilux de entrada, que ostenta um 2.7 aspirado de 177cv.
Essa característica pode ser um dos motivos que explicam as vendas abaixo do esperado para o modelo. Entretanto, analisando o produto por si, é possível dizer que, aqui, temos uma picape média que nunca vai te deixar na mão, seja na estrada, cidade ou no barro.
Tecnológica e conectada, por que não?
Passada a parte da paixão automobilística, vamos ao que também nos move por aqui, que é a tecnologia – e nisso a Frontier brilha. A começar pela nova central multimídia Nissan Connect, que equipa os modelos mais recentes da montadora. Com uma tela de 8 polegadas, o dispositivo é capaz de espelhar a tela do celular por meio do Android Auto e Apple Car Play, mas também é compatível com alguns aplicativos, que podem ser baixados com a internet 4G do seu celular. Além disso, caso seja necessário, a Frontier tem a capacidade de rotear a conexão para os outros ocupantes do veículo.
Outro ponto que nos surpreendeu foi o navegador GPS nativo da picape. Entre todos os carros que já testamos aqui no Canaltech, o da Frontier foi o que apresentou a melhor relação desempenho/atualização. Ou seja: o sistema é bem fluído e as vias estão todas atualizadas, sem qualquer falha de percurso. Além disso, seus avisos não atrapalham em nada a condução, uma vez que as notificações surgem no cluster principal apenas quando estamos prestes a mudar de direção, com poucos metros. A narração em português do Brasil também é impecável.
Outro aspecto que merece toda a nossa atenção e elogios é o sistema de estacionamento que a Nissan Frontier possui. Para quem já leu nossas análises do Fiat Toro e da Toyota Hilux, manobrar picapes é uma tarefa das mais ingratas aqui no Brasil. São poucas as vagas preparadas para este tipo de veículo, o que nos exige grande habilidade e paciência. Com a Frontier, isso não acontece. O motivo: a câmera com visão 360º.
Essa ferramenta, que também equipa o Nissan Kicks e o Nissan Leaf, faz com que a tarefa de estacionar a Frontier seja até divertida. Isso ocorre porque a caminhonete possui um conjunto de câmeras que, atrelado ao software da picape, nos dá uma visão completa em volta do carro como se estivéssemos observando de um plano superior.
Além disso, podemos dividir a visão com as câmeras frontal e traseira, o que nos ajudou bastante em dados momentos. O sensor de ré emite um sonar que ajuda o sistema a identificar obstáculos e facilita que façamos os movimentos sem maiores problemas.
Conforto e segurança
Ainda falando em conectividade e tecnologia, todas as versões 2020 passam a vir de fábrica com o sistema de pagamento automático “Sem Parar”. É o segundo modelo da linha Nissan no Brasil a disponibilizar a facilidade – o primeiro foi o Nissan Leaf. Com o acordo, a Nissan reforça o conceito de Mobilidade Inteligente da marca e a constante busca por proporcionar facilidades aos clientes. Com o adesivo Sem Parar já instalado de série, o cliente que optar pela ativação do serviço poderá utilizá-lo para pagamentos em pedágios, em mais de 650 postos de abastecimento (entre as redes Shell e Petrobras), mais de 1.400 estacionamentos de aeroportos, shoppings, hotéis e centros comerciais, além de 330 drive-thrus e 150 lava-rápidos, reduzindo o tempo para o proprietário da Frontier, já que não será necessário enfrentar filas.
Além desse diferencial, a picape mantém em sua linha 2020 equipamentos como os bancos "Gravidade Zero" inspirados na tecnologia desenvolvida pela NASA para eliminar a fadiga e melhorar o conforto para o condutor, os controles de tração e estabilidade (VDC - Vehicle Dinamic Control), freios ABS com controle eletrônico de frenagem (EBD) e assistência de frenagem (BA); controles automáticos de descida (HDC) e auxílio de partida em rampa (HSA), luz de freio de LED (CHMSL) e luzes diurnas (DRL).
Outra novidade trazida pela Nissan à Frontier (e outros modelos) é a navegação "porta-a-porta”. Com ela, antes de se dirigir ao local em que a picape está estacionada, basta colocar o destino no aplicativo "Door-To-Door Navigation", que está disponível sem custos na Play Store e na App Store e deve estar instalado no smartphone do proprietário. Além de ajudar na localização da picape em um estacionamento grande, por exemplo, ao ligar o rádio, a rota para o destino é automaticamente transferida para a tela do multimídia. A navegação continua normalmente, sem necessidade de outra intervenção.
Design e acabamento
O interior da Frontier ficou muito mais agradável se compararmos ao modelo anterior e a outras picapes equivalentes. Os comandos estão em posições muito fáceis e o cluster principal é bem limpo, o que ajuda para visualizar as informações. Externamente, a Nissan Frontier consegue transmitir a robustez que sua categoria lhe exige, com uma aparência imponente e, por que não, atraente.
Algo que não pode passar despercebido, porém, é quando estamos dirigindo a picape à noite. Além de um amplo campo de visão, o painel é iluminado de modo muito agradável, com uma intensidade pensada na medida certa, o que certamente pode diminuir alguns incômodos em longas viagens.
Seu acabamento está no padrão das demais picapes médias do mercado, com tudo feito em muito plástico duro, mas de boa qualidade e com encaixes sem rebarbas. Por fora, os detalhes cromados também chamam a atenção, sobretudo nos retrovisores, um dos maiores da categoria e que possuem rebatimento elétrico. O teto solar, novidade na linha 2020, vem de série apenas na versão LE.
Hora de pensar em um reposicionamento
A Nissan Frontier é uma picape quase que irretocável. Potente, equipada e parruda, a caminhonete tem tudo o que o cliente vai precisar em termos de produto. Mesmo que venda bem menos que as principais concorrentes, há, sim, motivos para ter uma Frontier, sobretudo quando analisamos seu pacote de itens.
Talvez se a Nissan ampliasse a gama, oferecendo versões em cabine simples e com motores um pouco mais modernos, o jogo pudesse virar. Um reposicionamento de mercado deveria ser cogitado, mas sem a exclusão de qualquer versão já existente.
Em comparação com as rivais de maior sucesso no mercado, há, certamente, vantagens e desvantagens. Mas, com um pacote tecnológico atrativo e um desempenho de respeito, apenas questões mercadológicas explicam seu baixo número de vendas. Vale a pena ter uma Nissan Frontier? Vale e muito!
A versão utilizada pelo Canaltech é a Frontier LE 4x4, que sai na casa dos R$ 198 mil.
A Nissan Frontier utilizada para esta análise foi gentilmente cedida ao Canaltech pela Nissan do Brasil.