O relacionamento entre o Trump e a Apple é bom? Saiba o que está rolando
Por Fidel Forato | 22 de Novembro de 2019 às 13h20
Quais devem ser os limites nas relações entre o presidente de um país e um executivo de uma grande companhia? Essa é uma equação muito difícil de se resolver, mesmo que, em alguns momentos, a resposta possa parecer óbvia, inclusive quando envolve escândalos políticos. Hoje, Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, é um sério problema de relações públicas para a Apple, a gigante de tecnologia e queridinha americana.
Sob a tutela do ex-CEO, Steve Jobs, a Apple se posicionou de forma neutra na política, abraçando somente a defesa de algumas liberdades individuais. No entanto, Tim Cook, seu sucessor, tem posições muito diferentes, mergulhando de cabeça a empresa na política americana e abraçando Donald Trump em sua corrida pela reeleição presidencial.
Até ontem (20), a Apple encontraria muito mais vantagens do que desvantagens em seu relacionamento com presidente americano. Com a parceria, a empresa contornou o peso total das tarifas sobre a China, fato que significativa parcela de economistas e políticos concorda que têm prejudicado a economia do país, como também prejudica empresas e consumidores.
Mas, durante as últimas horas e os últimos pronunciamentos, o relacionamento entre a Apple e o Trump mudou de uma forma constrangedora para Cook, que deve se distanciar publicamente do presidente, argumentam especialistas da área.
Entenda o caso
Enquanto segue a história do impeachment presidencial em Washington, Trump e sua filha, Ivanka, voaram para o Texas, onde participaram de um evento organizado pela Apple, na indústria em que o novo Mac Pro está sendo montado.
O encontro foi um símbolo público do relacionamento entre Trump e Cook e, além disso, proporcionou uma oportunidade única para o presidente falar sobre uma empresa americana, líder de sua área, que fabrica nos EUA. Uma ótima oportunidade de aparição política enquanto Trump luta para colocar em prática a primeira parte de um acordo comercial EUA-China.
Enquanto as câmeras gravavam, Trump alegou que a fábrica - que monta os Mac Pros há anos - não teria aberto sem sua liderança e passou o resto do evento atacando o Congresso e a mídia americana. No entanto, seu pronunciamento estava repleto de incongruências.
Em primeiro lugar, a Apple não construiu nenhuma fábrica em território americano - campus não são fábricas. Em segundo lugar, a montadora que Trump visitou, o lugar onde são montados os novos Mac Pros, existe desde 2013, a partir de um acordo entre a Apple e a Flextronics.
A decisão de Tim Cook de continuar ao lado de Trump, durante toda a situação é, no mínimo, delicada. Vale também destacar que durante a visita, o CEO da Apple agradeceu ao presidente e ao seu governo pelo trabalho realizado, que garantiu à empresa chegar onde chegou, ressaltando que “isso não seria possível sem eles.”
Na ocasião, Trump também alegou incentivar Tim Cook a envolver a "Apple na construção do 5G nos EUA", embora não se saiba exatamente o que isso signifique. Afinal, a empresa já está desenvolvendo telefones 5G em conjunto com os modems Qualcomm e a aquisição desta divisão junto à Intel.
Repercussões
Após o silêncio constrangedor de Cook, enquanto Trump fazia falsas alegações sobre a empresa, o CEO se transformou em um participante ativo da campanha de reeleição. Independentemente da Apple ter se beneficiado do relacionamento com o presidente, é hora de parar, antes que o envolvimento entre os pares deixe uma mancha permanente no legado da companhia, alertam os especialistas.
No início deste ano, a Apple solicitou exclusões tarifárias para 15 peças que compõe o o novo Mac Pro. Quando 10 das 15 exclusões foram concedidas, em setembro, a empresa afirmou que fabricaria o modelo na mesma instalação do Texas, usada no modelo anterior. Sobre o Mac Pro que estará à venda em dezembro, Tim Cook em comunicado na época, afirmou: “Agradecemos à administração pelo apoio que possibilitou essa oportunidade.”
A Apple também anunciou na quarta-feira que iniciará a construção de um campus planejado em Austin, com capacidade para 15.000 funcionários.
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Fonte: CNBC; Venture Beat