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The Flash | Por que o retorno do Batman de Michael Keaton é tão importante?

Por| Editado por Jones Oliveira | 15 de Junho de 2023 às 15h15

Warner Bros
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A presença de Michael Keaton no novo The Flash vai além da pura e simples nostalgia. É claro que ela faz parte desse movimento do cinema de super-herói de apelar para participações especiais iniciada em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, mas a volta do ator ao universo da DC com o uniforme do Batman tem todo um significado mais do que especial. Chega a ser simbólico.

Afinal, se estamos acompanhando a construção desses grandes universos baseados em quadrinhos foi por causa desse mesmo Keaton que, há 30 anos, emplacou um sucesso que mudou a forma com que Hollywood encarava esse tipo de história. Mais do que isso, mexeu na própria imagem desses personagens e moldou o imaginário do Homem-Morcego de uma vez por todas.

Ator retorna ao papel depois de 30 anos e traz uma enorme carga simbólica na bagagem (Imagem: Divulgação/Warner Bros)
Ator retorna ao papel depois de 30 anos e traz uma enorme carga simbólica na bagagem (Imagem: Divulgação/Warner Bros)

E o curioso é que essa importância toda foi algo que o próprio ator chegou a ironizar algumas vezes — por mais que ele nunca tenha escondido o quanto entendia e reverenciava o personagem. Assim, 30 anos depois de aposentar o uniforme de morcego, vê-lo voltar à Batcaverna fecha um ciclo de peso na história do cinema e das adaptações de HQ.

Batman e o ponto de virada

Para entender a importância de Michael Keaton no universo de super-heróis e como seu Batman mudou tudo, é preciso olhar um pouco para trás. Se hoje o quadrinho ainda é visto como uma espécie de mídia menor por muita gente, a coisa era ainda mais acentuada em meados dos anos de 1980.

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Embora a década tenha sido muito prolífica para o meio — a maior parte dos clássicos da Marvel e DC surgem nessa época —, o tal mercado mainstream não enxergava da mesma forma. Tanto que o máximo de adaptações que tínhamos era o Batman do seriado de 1966 e o Superman de Christopher Reeve, que havia sido um enorme sucesso em 1978, mas que decaiu muito de qualidade em suas sequências.

Antes de 1989, essa versão do Batman era a que persistia no imaginário da cultura pop (Imagem: Reprodução/Warner Bros)
Antes de 1989, essa versão do Batman era a que persistia no imaginário da cultura pop (Imagem: Reprodução/Warner Bros)

Tanto que, entre Superman e Batman, tudo o que temos são filmes bastante questionáveis em termos de qualidade e, não por acaso, esquecíveis. O mais perto de um sucesso nesse meio do caminho havia sido a série O Incrível Hulk e algumas tentativas de replicar a fórmula em outras séries de TV.

Por isso mesmo, a própria imagem do Batman para o público era bem diferente. A figura do herói soturno, porradeiro e detetivesco que se tornou padrão era algo que aparecia somente nos quadrinhos de Neal Adams e Dennis O'Neil, mas que não chegavam ao imaginário da cultura pop da época. Para a maior parte das pessoas, o herói ainda era aquela coisa pastelona e cômica do seriado de Adam West.

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Dessa forma, quando o diretor Tim Burton assume o projeto de fazer um novo filme do Homem-Morcego, a coisa muda de figura. A visão mais sombria que o cineasta adotou não só para o personagem, mas para o universo à sua volta tiraram aquele clima infantil da Era de Prata que o seriado de 1966 apresentou e transformou Gotham nessa coisa sombria e violenta que vemos até hoje.

O Batman de Michael Keaton recriou a imagem do herói, alçou ator ao estrelato e pavimentou o caminho para outros filmes de gibi (imagem: Divulgação/Warner Bros)
O Batman de Michael Keaton recriou a imagem do herói, alçou ator ao estrelato e pavimentou o caminho para outros filmes de gibi (imagem: Divulgação/Warner Bros)

E é aí que Michael Keaton entra. Afinal, o ator era o novo rosto do herói e se tornou a personificação desse novo momento do Homem-Morcego. Além disso, ele personificava muito bem a dualidade do personagem entre o soturno Batman e o playboy Bruce Wayne — algo que perdurou por 30 anos até ser subvertido por Robert Pattinson em The Batman.

Para o público geral, a chegada de Keaton no papel foi tão poderosa que ele rapidamente desbancou o bonachão Adam West, que passou a ser só aquela coisa folclórica no passado do personagem. De 1989 em diante, super-herói passou a ser uma coisa mais séria — e tanto Hollywood quanto o próprio mundo do entretenimento logo perceberam como isso poderia ser lucrativo.

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O pai da batmania

Embora alguns fãs de quadrinhos reclamassem a escalação de Michael Keaton — “onde já se viu um Batman calvo e de 1,75m?” —, o fato é que a sua imagem enquanto Homem-Morcego pegou. E de uma forma avassaladora que reflete até hoje. Mais uma vez: se o Batman é esse colosso na cultura pop e o carro-chefe da Warner para além dos super-heróis, é por causa do filme de 1989 e do caminho que ele pavimentou a partir dali.

A mudança estética do personagem foi apenas o primeiro sinal de que o filme se tornaria algo maior. Com orçamento de US$ 35 milhões, ele arrecadou US$ 411 milhões em todo o mundo — um número astronômico para a época — e mostrou para a indústria como os gibis poderiam ser verdadeiras máquinas de imprimir dinheiro. Tanto que não demorou para que Keaton voltasse a vestir o uniforme em Batman: O Retorno.

A clássica animação dos anos 1990 bebe muito da versão vivida por Michael Keaton alguns anos antes (Imagem: Divulgação/Warner Bros)
A clássica animação dos anos 1990 bebe muito da versão vivida por Michael Keaton alguns anos antes (Imagem: Divulgação/Warner Bros)
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Só que não parou por aí. Embora o filme de 1992 tenha sido a última participação do ator em Gotham — ele deixou o papel por diferenças criativas com Joel Schumacher, que assumiu a franquia a partir de Batman Eternamente —, a sua interpretação de Bruce Wayne/Batman serviu de base para várias outras versões do herói, como a icônica série animada lançada naquele ano.

E essa batmania iniciada ali fez os estúdios crescerem os olhos para os gibis na tentativa de replicar o sucesso com outros personagens. Assim, enquanto tivemos uma década de seca entre Superman e Batman, os anos 1990 foram marcados por diversas experimentações, como Spawn, Fantasma, Aço e Blade, além do próprio seriado The Flash. E todos eles com essa abordagem mais séria e sombria que virou norma após Batman de 1989.

São tentativas que não repetiram o sucesso do longa de Keaton e Burton, mas foram moldando o público para esse tipo de história ao mesmo tempo que ensinava o caminho para os estúdios. Tanto que, pouco tempo depois, chegamos a X-Men e Homem-Aranha — e o resto é história.

O rosto de uma geração

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Pode até parecer forçado creditar esse caminho do cinema de super-herói a Michael Keaton e seu Batman, mas não há como negar que o ator virou o rosto desse tipo de filme para toda uma geração. Ele é para os anos 1990 o que Hugh Jackman foi a partir de 2000 e Robert Downey Jr para a década seguinte.

Tanto o Keaton se tornou tão emblemático que acabou escolhido pelo diretor Alejandro Iñarritu quando o cineasta decidiu ironizar e criticar o cinema de herói com Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). O longa vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2016 é justamente uma caricatura da carreira do próprio intérprete do Homem-Morcego.

O filme Birdman é uma caricatura da carreira do próprio Keaton e sua relação com o Batman (Imagem/Fox Searchlight Pictures)
O filme Birdman é uma caricatura da carreira do próprio Keaton e sua relação com o Batman (Imagem/Fox Searchlight Pictures)

Na trama, Keaton vive um ator que se tornou um ícone cultural ao viver um super-herói chamado Birdman nos cinemas por mais de 20 anos. Eis que ele decide abandonar o papel e vê não só sua carreira desandar, mas ele próprio passa a ser atormentado por essa persona heroica que ele criou para si.

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É um personagem quase biográfico para o ator, que passou por exatamente por tudo isso: foi o herói quem o alçou ao estrelato e, por muito tempo, ele foi atormentado por esse fantasma do Cavaleiro das Trevas em sua carreira, mesmo depois de ter deixado Gotham para trás e seguido por outros trabalhos de igual sucesso — até começar a cair em uma espécie de ostracismo durante alguns anos.

Ver esse Batman se tornar o mentor do novo Flash é também uma reverência ao que o personagem e Michael Keaton representam para o cinema de super-herói moderno (Imagem: Divulgação/Warner Bros)
Ver esse Batman se tornar o mentor do novo Flash é também uma reverência ao que o personagem e Michael Keaton representam para o cinema de super-herói moderno (Imagem: Divulgação/Warner Bros)

Por isso mesmo, muita gente viu Birdman como um retorno do astro ao panteão dos grandes nomes do cinema em um ciclo irônico da história. Foi a partir da caricatura da sua própria trajetória que ele voltou aos holofotes e, como em uma espécie de sequência inesperada, agora ele retorna para o personagem que o transformou em um ícone.

Assim, rever o seu Batman em The Flash é algo que vai além do simples saudosismo. É claro que é muito divertido vê-lo no uniforme emborrachado sem poder mexer o pescoço e a trilha sonora da Danny Elfman arrepia, mas há todo um simbolismo nesse retorno que envolve desde a carreira de Keaton à sua importância para o cinema nerd que torna tudo ainda mais emblemático.