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Afinal, por que os smartphones estão abandonando os fones de ouvido? (Parte 1)

Por| 17 de Junho de 2016 às 21h30

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Afinal, por que os smartphones estão abandonando os fones de ouvido? (Parte 1)
Afinal, por que os smartphones estão abandonando os fones de ouvido? (Parte 1)

Os rumores já indicavam essa possibilidade, ainda que remota, e a ausência do conector de fones de ouvido no Moto Z e no Moto Z Force acabou se confirmando. Não se trata de uma novidade, já que diferentes empresas estão adotando essa abordagem em seus modelos mais recentes, caso do LeEco, que anunciou nada menos do que 3 modelos com essa característica de uma vez só (Le, Le Max 2 e Le 2 Pro). Por que isso está acontecendo? Quando o conector de fones de ouvido se tornou um problema a ser resolvido (ou mesmo eliminado)? Como costuma acontecer, as tendências de mercado nos smartphones começam com a Apple.

A Apple espirra, o mundo fica gripado

Ainda que o iPhone esteja perdendo a sua capacidade de convencer o consumidor a continuar comprando novos modelos, a Apple ainda não perdeu a sua característica de "empresa vitrine" para outros fabricantes. Uma boa parte dos recursos que vemos nos modelos Android atualmente foi inspirada, ou mesmo copiada, dos iPhones, apesar de muitos negarem isso. O mais interessante é que as empresas respondem tanto às características que já foram anunciadas no iPhone quanto aos rumores de que eles podem ser implementados. O simples rumor de um novo recurso já inicia uma corrida de outros fabricantes para implementá-lo em seus devices.

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Essa nova tendência é apenas mais um resultado das inspirações da Apple, seja de produtos finais, seja de rumores.

Exemplo? O 3D Touch, que ganhou esse nome quando a Huawei anunciou um smartphone com Force Touch semanas antes do iPhone 6s. Outro? A própria possibilidade do iPhone 7 vir sem conector de fones de ouvido já iniciou esse movimento meses antes do próprio iPhone 7 chegar ao mercado. A lista vai longe, com o Touch ID no iPhone 5s tornando os sensores de impressão digital cada vez mais comuns no Android. O Lightning acelerando a adoção de conectores reversíveis (como o USB tipo C) no iPhone 5. O Apple A7, processador de 64 bits, que pegou tanto a Qualcomm quanto outras empresas de surpresa quando anunciado. Essa temporalidade indica uma relação de causa e efeito, assim como uma tendência.

Tendência essa que fabricantes dificilmente assumirão, argumentando que estavam trabalhando concomitantemente ou mesmo que pensaram na ideia primeiro, mas ainda não haviam anunciado um produto com ela. Isso a não tira de sua posição de influenciadora de novos recursos, ainda que não seja a única empresa a fazê-lo. Fabricantes copiam uns aos outros (pedimos desculpas, "são influenciados por terceiros a implementar ideias que tiveram antes dos concorrentes") diariamente, indo de exemplos simples como o Zenfone 2, que inaugurou a era dos smartphones de 4 GB de memória RAM, até os designs modulares, que datam desde o projeto ARA.

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O Mate S da Huawei chegou, coincidentemente, semanas antes de a Apple anunciar o iPhone 6s com 3D Touch. Ambas tiveram a mesma ideia praticamente ao mesmo tempo. Coincidentemente.

Antes dos rumores de um possível (e provável) iPhone 7 sem conector de fones de ouvido, notícias sobre outros fabricantes que se juntaram ao movimento eram praticamente inexistentes, mas agora virou tendência. Além da influência da Apple, quais são as motivações para isso?

Por que remover o conector de áudio?

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Um dos principais argumentos para essa remoção, um dos primeiros a aparecer, é que o conector P3 ocupa espaço demais no interior do smartphone. De fato, se considerarmos o pequeno volume de um smartphone, a entrada P3 realmente ocupa um espaço valioso. Ainda assim, a desculpa de que o volume economizado pela remoção seria utilizado para utilizar mais bateria não se sustenta. Isso por dois motivos principais. O primeiro deles é que isso assume que essa região seria exclusivamente usada para mais bateria, com uma remodelação da placa-mãe do smartphone para usar uma bateria de maior capacidade.

Os novos smartphones da LeEco vêm fones de ouvido USB tipo C, mas eles trazem a mesma qualidade dos modelos convencionais. Só o conector muda.

Porém, seria muito inocente acreditar que esse volume impacte significativamente na autonomia de um aparelho. Se é que isso de fato acontece, já que esse ganho teórico é perdido com a diminuição da espessura do smartphone, o segundo motivo para que esse argumento esteja longe de ser verdade. Outro argumento é que a evolução dos smartphones já assume que eles ficarão cada vez mais complexos, e o conector P3, talvez o componente mais "antigo" na placa-mãe do smartphone, não deve sobreviver por tanto tempo – e por isso não chega a ser estranho a sua remoção em favor de um conector mais moderno.

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Independentemente do padrão, é natural esperar que ele seja digital, já que o P3 é analógico, com a conversão digital-analógica ocorrendo dentro do próprio smartphone. Qual padrão que entrará em vigor ainda é uma incógnita, já que, considerando as notícias atuais, seria o Lightning nos iPhones e o USB tipo C nos Android – o que não seria bom para ninguém. Já imaginou ter que trocar de plataforma e ter que aposentar o fone de ouvido? Essa questão do novo padrão nós exploraremos na segunda parte, já que é algo mais complexo do que parece à primeira vista.

Adaptadores para fones de ouvido comuns: um novo segmento de mercado? Mais um acessório para levar junto com a bateria externa, capas e outros na mochila?

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De qualquer forma, isso indicaria um ganho de qualidade. Pelo menos à primeira vista, já que não é apenas a mudança do conector que tornaria isso possível, algo que também exploraremos na segunda parte, já que envolve também a qualidade do DAC (Digital-to-Analog Converter) utilizado. Mas pelo menos o Bluetooth é padrão de praticamente qualquer modelo, não?

A questão do Bluetooth

Muitos não veem mal algum em remover o conector P3 por considerarem que os fones de ouvido Bluetooth chegaram para ficar, com cada vez mais modelos acessíveis sendo anunciados. De fato, antes vistos como luxo, fones Bluetooth se tornaram quase tão onipresentes quanto os próprios smartphones, com vantagens óbvias para quem está sempre em movimento. Mesmo que se trate de um segundo dispositivo para manter sempre carregado, seja por pilhas ou baterias internas, os ganhos de mobilidade são patentes. Mas há um problema: assumir que todos tenham que comprar um fone de ouvido Bluetooth.

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Fones de ouvido Bluetooth mais baratos custam o mesmo do que um equivalente comum com qualidade superior. Ainda vai demorar muito para que ambos alcancem o mesmo patamar de preços.

Grande parte das vendas dos smartphones está concentrada no segmento mais básico, sendo difícil imaginar quem não tem condições de comprar um modelo mais caro arcando com o custo adicional de um fone Bluetooth. Mesmo que os modelos mais básicos passem a trazê-lo dentro da caixa, o custo seria inteiramente repassado ao consumidor, que pode ser o diferencial entre comprar um certo modelo ou não, sendo difícil imaginar que essa transição impacte em todos os segmentos de aparelhos. Nos curto e médio prazos, parece algo que seja possível somente para os segmentos mais avançados, e, ato contínuo, para os modelos intermediários.

Caso contrário, a abolição definitiva do P3 – seja em favor dos fones Bluetooth ou de qualquer outro padrão digital – seria somente uma tentativa da indústria como um todo para criar uma nova demanda por novos modelos de fones. Nesse caso, acreditem: os fabricantes que optarem por manter o P3, isso em qualquer segmento, sairão na frente, já que ainda vai demorar muito para os fones de ouvido Bluetooth alcançarem o patamar de preços e qualidade dos modelos convencionais.

Leia agora a parte 2 deste artigo.