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Opinião: o iPhone pode baixar de preço porque deixou de valer a pena

Por| 24 de Maio de 2016 às 21h36

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Opinião: o iPhone pode baixar de preço porque deixou de valer a pena
Opinião: o iPhone pode baixar de preço porque deixou de valer a pena

Rumores sobre uma possível diminuição dos preços da próxima geração de iPhones começaram a pipocar com cada vez mais frequência. Sendo bastante rigorosos, vamos tomar a liberdade de dizer que isso já começou a acontecer, e o iPhone SE é prova disso. Não havia a menor necessidade da Apple diminuir o preço desse modelo, mostrando que o argumento de que "os usuários criaram uma alta demanda por um iPhone menor" não explica toda a história. Por que isso está acontecendo? Por que a Apple, que nunca se preocupou com a expressão "custo-benefício", pode estar realmente considerando diminuir o preço do produto mais poderoso em seu portfólio? Vamos tentar entender nas próximas linhas.

Dados e fatos

Antes de explorarmos o assunto, vale registrar o que aconteceu até o momento. As vendas dos iPhones recuaram 16% no primeiro trimestre deste ano, um número impressionante, diga-se de passagem. Sempre que um novo modelo chega ao mercado, há um acréscimo considerável nas vendas, já que é no último semestre do ano que ele chega à maioria dos países. Lentamente, as vendas começam a cair até que um novo iPhone seja anunciado. Este ano, em especial, tivemos algo inusitado: o lançamento do iPhone SE, o que em teoria deveria criar um novo aumento da curva, mas nem isso foi capaz de impedir o decréscimo das vendas.

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Anos e anos só de alegria, mas vale lembrar que no final de 2015 a China foi decisiva para o aumento das vendas.

Isso abre uma boa vantagem para o Android, que acaba ganhando uma participação de mercado em praticamente todo o mundo. Se desconsiderássemos a China, aliás, esse número seria ainda pior, mostrando que há algo de diferente acontecendo. Segundo Tim Cook, CEO da Apple, o motivo pode ser o preço alto: "Eu reconheço que os preços estão altos. Queremos fazer coisas que o abaixem ao longo do tempo para o degrau que conseguirmos".

Será mesmo o preço? Que o iPhone é caro, em especial no Brasil, todos sabemos. Mas será que é esse mesmo o motivo?

Preço alto é relativo

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Um produto que custa R$ 1.000 é caro ou barato? Depende. Se estamos falando de uma televisão de 55 polegadas, é um valor excelente. Um carro, melhor ainda. Agora, você pagaria R$ 1.000 por um HD externo de 500 GB? HD esse que, aliás, que não trás nada de diferente dos concorrentes? A coisa muda, não? É exatamente isso que está acontecendo com os iPhones, que continuam com valores altíssimos mesmo estando há gerações sem passar por grandes mudanças. Cobrar caro faz sentido quando o seu produto é inquestionavelmente melhor do que todos os outros, e ultimamente não tem sido o caso.

A grande verdade é que a Apple segurou tanto suas inovações que os usuários deixaram de ter interesse. Mesmo os fãs da marca, aqueles que jamais consideram mudar de plataforma, passaram a trocar de smartphones com cada vez menos frequência. A Apple tem, provavelmente, até o iPhone 10 já planejado com uma boa quantidade de detalhes, mas solta suas novidades em migalhas, liberando uma pequena inovação aqui e ali em um intervalo de tempo muito grande. Esse modelo funcionou durante muito tempo, mas chegou à exaustão.

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Poderia ser até mais caro, desde que oferece inovações suficiente para justificar o seu preço.

Essencialmente, o que mudou nas últimas gerações? Uma esticada de tela e introdução do conector Lightning no iPhone 5, processador de 64 bits e Touch ID no iPhone 5s, novo design do iPhone 6 e 3D Touch no iPhone 6s. O resto são melhorias incrementais, o que nem foi o caso do iPhone SE, que é um Frankenstein de várias gerações. Isso entre os anos de 2012 e 2016, com mudanças visuais semelhantes ao que montadoras de carros fazem para manter as vendas aquecidas (o famoso "facelift") e alguns recursos extras (direção hidráulica de fábrica agora, hein!).

Continuar pagando caro por modelos que pouco mudam, por mais que Tim Cook repita diversas vezes a cada lançamento que a Apple "trabalhou muito, mas muito pesado" (onde?), deixou de fazer sentido. Mais do que isso: até mesmo os clientes fiéis da empresa começaram a perceber que a Apple está acomodada com suas margens de lucros (desde sempre) exorbitantes. Os motivos são vários, mas há dois em especial.

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16 GB e bateria

Sem economizarmos palavras, ou enfeitarmos o termo, chega a ser uma completa falta de respeito para o consumidor a Apple vender modelos com 16 GB de memória interna. Não faz o menor sentido e mostra somente que a empresa quer manter as suas margens de lucro altas. Quem já usou um iPhone com 16 GB de memória interna dificilmente comete esse erro uma segunda vez, já que é muito pouco espaço e exige paciência do usuário para gerenciar o que vai colocar ou não no smartphone. Um estresse e tanto para um modelo que custa tão caro, diga-se de passagem.

Aumento da resolução das fotos e vídeos, apps mais modernos e sofisticados e jogos em altíssima definição fazem com que modelos de 16 GB sejam completamente sem sentido.

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Quem paga por um modelo caro exige uma experiência condizente com o preço, e certamente 16 GB em um modelo que nem suporte para cartões microSD tem não oferecem isso. Aliás, faz ainda menos sentido nos três modelos mais recentes (6s, 6s Plus e SE), que filmam em 4K e câmera de 12 megapixels, obrigando os usuários que compram o iPhone pela câmera a gastar mais e pegar um modelo com 64 GB. Pelo preço do iPhone, 64 GB deveria ser o mínimo, mas aí a Apple não engordaria ainda mais suas margens de lucro, não é mesmo?

Falar da bateria dos iPhones é até redundante. É impressionante que os iPhones continuem a deixar o usuário na mão geração após geração, um comprometimento que a Apple faz para uma obsessão em deixá-lo cada vez mais desnecessariamente fino. Não importa que a câmera fique em alto relevo, o conector de fones de ouvido vá para o espaço e baterias externas passam a fazer parte do dia a dia do usuário (mais um carregador no escritório, outro na sala, outro no carro, outro no quarto...). O que importa é mostrar aquele slide "olha só! Deixamos o iPhone ainda mais fino! Legal, né?" em todas as keynotes de lançamento.

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A fascinação da Apple em deixar o iPhone cada vez mais fino sacrifica a autonomia de batera há gerações.

E quando uma empresa deixa de inovar e não resolve os problemas de seus produtos, com os concorrentes assumindo as rédeas do mercado, só resta uma alternativa.

Não vale o que custa? O preço abaixa.

Como dissemos, a Apple já começou a praticar preços menores com o iPhone SE. Se fôssemos chutar, diríamos até que foi um teste da empresa para ver se um preço menor aqueceria as suas vendas, ver se esse é o problema. A tela de 4 polegadas seria uma boa desculpa e faz todo o sentido nesse cenário. Pois bem, a estratégia funcionou em maior ou menor grau, já que o iPhone SE está até vendendo bem em todo o mundo, mesmo com uma completa e inquestionável ausência de inovações. Então, basta estipular um preço que faça mais sentido nas próximas gerações, não? Sim, mas isso pode ser péssimo para a Apple no médio prazo.

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O iPhone custar caro nunca foi um problema. De verdade: os usuários reconheciam seu valor e se interessavam por eles mesmo sabendo que ele custava caro demais. Uma boa parte das pessoas, porém, se interessava pelo iPhone exatamente por ele ser caro, sendo um modelo capaz de oferecer uma sensação de exclusividade, sofisticação ou qualquer outra expressão. Se todos puderem comprar um iPhone, essa "aura" desaparece, e a Apple perde o seu poder de barganha. Se todos pudessem comprar um Mercedes ou um BMW, todos veriam a Mercedes ou a BMW como símbolos de status?

O iPhone SE provavelmente vendeu mais pelo preço menor do que pela tela de 4 polegadas. Se fosse somente pela tela, usuários comprariam mesmo que ele custasse o mesmo que os iPhone maiores.

Isso poderia até ajudar a Apple a vender mais nos primeiros anos, já que um iPhone com um preço compatível com os seus recursos é algo que muitos usuários esperam (já imaginou se o iPhone SE chegasse no Brasil por R$ 1.000 e pouco?), mas obrigaria a Apple a passar a oferecer uma relação custo-benefício como todos os concorrentes. Seria interessante ver isso acontecendo, vendo a empresa tentar provar que o seu produto vale mais a pena do que um modelo da Samsung, LG ou HTC. Uma vez perdida essa despreocupação com o preço, é quase impossível recuperá-la.

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O mercado de smartphones está amadurecendo, com consumidores exigindo cada vez mais de seus modelos. A tolerância a erros grosseiros como os do item anterior passam a ser inaceitáveis. Então, se não há nada de novo, o preço tem que abaixar. Isso deixa somente duas opções para a Apple.

Conclusão: ou inova de verdade ou abaixa o preço

Rumores sobre o iPhone 7 ainda estão em um estágio, digamos, "beta". Conforme a data de lançamento se aproxima, as informações passam a ficar cada vez mais próximas da realidade. Em pouco tempo veremos algum iPhone perdido em uma Starbucks em algum lugar do mundo completamente sem querer. Com as informações que temos até o momento, é difícil ver a Apple trazendo um modelo realmente inovador, mesmo que todas as partes positivas dos rumores acabem se confirmando.

Ausência de linhas de antenas? Uau. Câmeras duplas, assim como a mais de uma dezena de modelos que já traz esse recurso? Ausência de conector de fones de ouvido? Por que, mesmo? Ah! Para deixar o iPhone 7 ainda mais fino. Claro. Tela OLED? Interessante, mas longe de ser inovador. Não podemos deixar de considerar que a Apple realmente ofereça algo de novo, algo que reaqueça o interesse dos consumidores e que dê algum sentido no alto preço cobrado pelo modelo.

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Será que o iPhone 7 recuperará o interesse do usuário?

De qualquer forma, se o iPhone continuar oferecendo uma bateria incompetente e 16 GB de memória interna nos modelos mais básicos, algo que até mesmo modelos Android de baixo custo já oferecem, é difícil ver a Apple conseguindo reverter esse cenário. Por exemplo, se o conector de fones de ouvido desaparecer de fato sem oferecer algo realmente interessante em troca, em especial se passar a mensagem de que é uma desculpa para vender fones de ouvido Bluetooth (da própria Apple, é claro) e lucrar ainda mais, é difícil ver novos usuários se interessando por ele. E a Apple não está com esse "capital tecnológico" para ter esse posicionamento.

A verdade é que o iPhone não é caro: ele simplesmente não vale a pena.