Google bloqueou mais de 5 bilhões de anúncios perigosos em 2023
Por Felipe Demartini • Editado por Wallace Moté |
O Google fechou 2023 com um total de 5,5 bilhões de anúncios perigosos bloqueados. O total divulgado pela empresa nesta semana representa um crescimento de 5,7% no uso de ads maliciosos por bandidos, mas falar apenas nesse aumento não é contar a história inteira do que a companhia aponta ser uma das principais ameaças atuais aos usuários finais.
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Uma das provas de que esse tipo de ataque está em alta, ainda que os números gerais soem estáveis, aparece no número de contas bloqueadas. Em 2023, foram mais de 12,7 milhões de perfis de anunciantes suspensos nas plataformas do Google, quase o dobro do que foi registrado em 2022, quando 6,7 milhões de cadastros foram banidos.
As empresas de software continuam sendo usadas como as principais iscas em golpes desse tipo. Os cibercriminosos se aproveitam da ideia de que os anúncios aparecem acima das buscas orgânicas do Google para criar sites falsos para o download de apps, impulsionados por publicidade. A oferta de opções pagas de forma gratuita, a famosa pirataria, também é uma artimanha usada para atrair mais cliques às páginas perigosas.
IA nos ataques e na segurança
Tais golpes, ainda, vêm recebendo uma bela ajuda da inteligência artificial, citada como a principal impulsionadora de ataques cibernéticos não apenas em relação aos anúncios do Google, mas de todos os tipos. A empresa, porém, aponta que essa tecnologia também é uma forte aliada na detecção, com a Gemini na linha de frente.
“Já usamos machine learning [em atividades de segurança] há bastante tempo, mas 2023 marcou uma grande mudança tecnológica”, apontou Duncan Lennox, vice-presidente de engenharia e confiabilidade em plataformas para consumidores do Google. Na visão dele, os modelos de linguagem tornaram todo o ecossistema, dos golpes à proteção, muito mais complexo.
Por outro lado, estas mesmas inovações também levaram a segurança adiante, ajudando a encarar os desafios. “A IA é capaz de detectar nuances e aplicar medidas mais rapidamente. [A tecnologia] se tornou fundamental no cumprimento de medidas de segurança e na proteção dos usuários.”
Lennox cita como exemplo o bloqueio de sites que utilizavam anúncios do Google para dar uma aparência de legitimidade a links perigosos ou informações falsas. Segundo o executivo, 90% das mais de 395 mil detecções desse tipo realizadas em 2023 foram feitas por inteligências artificiais. Ele pondera, entretanto, que uma taxa de erro pode existir, o que faz com que a moderação humana, assim como os sistemas de apelo para publicadores, continuem sendo parte integrante do processo.
Um olho nas eleições, outro na confiança
Em um cenário já desafiador o bastante, a ida de eleitores às urnas em todo o mundo torna tudo ainda mais complexo. Incluindo o Brasil, com os pleitos municipais, e os EUA prestes a escolher um novo presidente, o Google aponta que metade dos países do mundo terá eleições em 2023, um cenário em que se espera grande influência das inteligências artificiais, muitas vezes com fins nada benéficos.
Para combater isso, o Google vem criando iniciativas de transparência, requisitos para anunciantes e novos recursos como forma de combater as ameaças vindouras. Desde 2023, por exemplo, quem publica anúncios é obrigado a indicar que a publicidade envolve conteúdo gerado por IA. Enquanto isso, deep fakes, tentativas de minar a confiança no processo eleitoral e manipulação política são terminantemente proibidas.
Em novembro, a companhia lançou um sistema que limita a exibição de propagandas para novos cadastros na plataforma de propagandas do Google. Segundo ele, a ideia é dar um tempo para que os anunciantes tenham a confiabilidade de seus perfis avaliados, com o período de moderação variando de acordo com o investimento feito, o tipo de publicação realizada e a saúde da conta.
Fora dos pleitos, 2023 teve movimento considerável em outras categorias irregulares citadas pelo Google. Foram mais de 206 milhões de anúncios com táticas fraudulentas sendo retirasdos do ar e outros 273 milhões que promoviam serviços financeiros suspeitos. Ainda, 395 mil sites sofreram penalizações por não estarem de acordo com as políticas de publicação da plataforma.
É um cenário em constante mudança, mas que é visto pelo Google como peça central de uma internet mais segura. Os desafios são complexos, mas a empresa diz estar de olho e, acima de tudo, preparada para o que vem por aí. “Queremos garantir que nossas políticas reflitam as mudanças [no cenário global]. O trabalho é constante”, finaliza Alejandro Borgia, diretor de gerenciamento de produtos para segurança em anúncios do Google.