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Que tal parar de fumar nesta pandemia? Veja como a tecnologia pode te ajudar!

Por| 10 de Julho de 2020 às 18h00

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Não é segredo que essa pandemia chegou atrapalhando os planos das pessoas. Os fumantes que almejavam parar de fumar, por exemplo, acabaram se deparando com um cenário nada favorável para se livrar do vício, principalmente por conta do isolamento social. No entanto, nessas horas, a tecnologia pode ser uma amiga e tanto.

Para entender primeiramente o porquê se deve parar de fumar, a equipe do Canaltech conversou com José Rodrigues Pereira, pneumologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Questionado sobre os efeitos a curto prazo, o especialista conta que a queima do tabaco vai liberar nas vias aéreas mais de 3 mil substâncias tóxicas com potencial de produzir um processo inflamatório localizado, e isso como consequência acaba favorecendo a produção de muco, que culmina em sintomas incomodativos como a tosse, além da produção e insistência de catarro, justamente por essa irritação. Esse processo inflamatório diretamente causado pelo cigarro pode diminuir as defesas da via aérea, favorecendo infecções de repetição, virais ou bacterianas.

Já em longo prazo, segundo o pneumologista, essa exposição pode trazer uma mudança no material genético pulmonar, algo que pode causar câncer. "As alterações de longo prazo mais comuns seriam a bronquite e o enfisema, justamente relacionadas a esse dano direto — dependendo da carga tabágica, isto é, tempo de exposição ao tabaco", afirma o especialista. Outra doença também relacionada ao tabaco é a fibrose pulmonar, que faz com que o pulmão se inflame, com dificuldade do ar entrar da forma que deveria e de fazer a troca de gás carbônico e oxigênio de forma adequada.

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O especialista conta que o dano pulmonar causado pelo cigarro vai depender de duas variáveis: o tempo de fumo e o número de cigarros fumados (carga tabágica). Então quanto maior a carga, mais risco de haver um dano pulmonar permanente.  

Cigarro x COVID-19

Em relação ao coronavírus, estudos iniciais tinham mostrado que talvez o cigarro exercesse um papel de proteção à entrada do SARS-CoV-2 na via aérea. "Mas logo depois se provou que era justamente o contrário. O tabagista tem sua via aérea inflamada por natureza, com risco maior de evoluir com o processo infeccioso, seja ele de natureza viral ou bacteriana, e os estudos recentes mostraram que tabagistas ativos tinham risco 50% maior de evoluir com formas graves da pneumonia por conta do coronavírus", conta o pneumologista.

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José aponta que, com a pandemia e as pessoas em casa, a rotina mudou: atividades que costumavam ser feitas foram substituídas por um período de inatividade, e o cigarro, para todo fumante, acaba sendo utilizado como um companheiro. Sendo assim, em meio ao isolamento social, pessoas que moram sozinhas e não têm ninguém, por exemplo, acabam vendo no cigarro uma forma de preencher esse espaço. O tempo ocioso também acaba sendo preenchido pelo ato de fumar, e toda essa questão da ansiedade também faz com que o cigarro acabe trazendo algum conforto.

Aí vem o assunto delicado: como parar de fumar, ainda mais em plena pandemia? Qual o primeiro passo? Segundo o pneumologista, a primeira coisa para o fumante conseguir parar de fumar é querer. "Pode parecer bobagem, mas uma boa parte dos fumantes, quando afirma querer parar de fumar, não toma atitude para que isso aconteça. Então a primeira coisa é querer, e a segunda é tomar uma atitude. Normalmente o fumante vai precisar de alguma orientação para que essa tentativa seja realmente eficaz".

O que pode ser feito no dia a dia é tentar reduzir o número de cigarros, uma vez que a pessoa acaba acendendo um cigarro mais pelo hábito do que pela dependência química. "Então se de repente segurar um pouquinho aquela vontade, talvez 'um cigarro aí' não seja aceso. A pessoa poderia se policiar, no começo, diminuir a carga tabágica, aumentar o intervalo entre um cigarro e outro e fumar só nos momentos nos quais existe uma vontade incontrolável".

A tecnologia tem facilitado em muitas coisas, e com essa pandemia, tem sido o principal meio de encontrar soluções para o que antes era feito apenas presencialmente em nosso dia a dia. E num momento em que parar de fumar pode ser ainda mais urgente, necessário, e, principalmente, mais desafiador, ela pode ser uma aliada. No entanto, o pneumologista faz um alerta: "A tecnologia sim, tem ajudado, mas também tem sido perigosa. Então o que antes tinha sido visto como um potencial para que as pessoas parassem de fumar, como os cigarros eletrônicos, a gente começou a ver que pode trazer malefícios".

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Cigarro eletrônico

Segundo José, ao redor do mundo várias pessoas estão internadas por síndrome respiratória aguda, por causa de um processo inflamatório causado justamente pelo fluido (o chamado juice) que é aquecido e vaporizado. Os especialistas não têm conhecimento de longa data sobre esse artifício eletrônico, visto que as pessoas não têm tempo de exposição suficiente para ver qual que é o dano a longo prazo. Mas como se trata da liberação de produtos químicos na via aérea de quem está vaporizando, no curto prazo, pesquisadores identificaram alguns usuários com um processo inflamatório capaz de, inclusive, levar à morte.

"Desde que foram lançados no mercado os cigarros eletrônicos, não houve nenhuma recomendação oficial a respeito do uso. Apesar de algumas pessoas conseguirem parar de fumar com a ajuda do cigarro eletrônico, não podemos garantir a segurança da utilização desse recurso", aponta o médico.

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Ainda assim, ele destaca uma outra estratégia tecnológica que tem sido utilizada em outros países: o iQOS. A  Philip Morris, empresa responsável pelo cigarro Marlboro, desenvolveu um dispositivo eletrônico na qual o tabaco é aquecido, mas não é queimado. Então, com esse tabaco sendo exposto a uma temperatura mais baixa, há uma diminuição da liberação de substâncias tóxicas. "Não quer dizer que seja seguro. Eles desenvolveram outro tipo de tabaco que pode ser consumido de uma forma que faça menos mal. É um processo parar de fumar — desde que o objetivo esteja bem fixo na mente: parar com o tabaco definitivamente".

Aplicativos

Quando se fala de tecnologia, o celular e os aplicativos sempre acabam marcando presença, e com o ato de parar de fumar não é diferente. O fumante que busca informações ou mesmo que pretende controlar a quantidade de cigarros diários pode encontrar uma solução nos aplicativos disponíveis para download na App Store ou na Play Store. São inúmeros, para falar a verdade, então é interessante dar uma olhada nas opções para ver se o método de algum é do seu agrado.

Um dos mais famosos é o Quitnow!, que oferece estatísticas como o tempo (dias, horas e minutos) desde o último cigarro da vida do usuário, quantos cigarros a pessoa evitou, o dinheiro e o tempo que economizou e indicadores sobre o seu processo de melhora da saúde e uma lista de conquistas que são desbloqueadas uma por uma, conforme o tempo passa, motivando você para atingir o seu objetivo. O diferentcial é que o usuário ainda pode criar um perfil e conversar com outras pessoas que pararam de fumar para obter ajuda, dicas e truques de outras pessoas, fazer amigos e oferecer apoio. Ele está disponível tanto para Android quanto para iOS, e é gratuito.

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O Meu Último Cigarro, para iOS, também oferece estatísticas em tempo real. Ele também é completamente gratuito para download. Mas se você é um usuário Android, pode baixar o Flamy, que também traz essas opções e está disponível na Play Store.

Assistente Virtual

Recentemente, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lançou um assistente virtual, cuja ideia é informar a respeito do antitabagismo e tirar dúvidas. Basicamente, o chatbot simula um ser humano conversando com a pessoa interessada e atende pelo nome de Dr. Cardiol. A ferramenta oferece técnicas para cada estágio do fumante e  também está preparado para perguntas mais específicas e pessoais.

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A equipe do Canaltech conversou com a Dra. Jaqueline Scholz, coordenadora de ações relativas ao tabagismo da Sociedade Brasileira de Cardiologia para entender um pouco melhor a respeito desse projeto. "Pensei em oferecer uma alternativa para pelo menos diminuir o consumo nessa pandemia. O uso de substancias psicoativas cresceu demais. Eu já tinha varias mensagens de texto para ajudar as pessoas a parar de fumar. Tinha aproximadamente 400 mensagens. Compilei-as por características e organizamos tudo num algoritmo", explica a coordenadora.

"O fumante vai tendo a percepção que pode resolver o problema com uma abordagem mais especializada, e se depara com o conhecimento de que existe tratamento mais específico, que existem outras opções", acrescenta Jaqueline. "Essa inteligência artificial usou o meu conhecimento adquirido ao longo de muitos anos no tratamento de fumantes. Espero que isso possa ajudar as pessoas neste momento em que o isolamento é necessário... quanto menor a circulação, melhor; mas que elas possam tomar uma providência nas suas casas ou onde estiverem”, ressalta.

Questionada sobre como o fumante deve começar a parar e qual o primeiro passo, o ponto de vista de Jaqueline é semelhante ao do pneumologista. "Normalmente, a tomada de decisão é fundamental. No entanto, tomar a decisão não significa que você vai conseguir. Às vezes, mesmo bem intencionado, há uma serie de sintomas desagradáveis que fazem o fumante mudar de ideia. Tabagismo é uma dependência, então a primeira coisa é reconhecer isso. Viu que é difícil? Procura ajuda. Na maior parte das vezes haverá sintomas, haverá sofrimento", explica a coordenadora.

Telemedicina

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Para os fumantes que almejam orientação médica, algo que tem estado muito em alta durante essa pandemia é a telemedicina. Há diversas plataformas que podem conectar o paciente a um profissional. Sendo assim, é possível se comunicar com o médico por escrito, por áudio ou ainda por vídeoconferência. A própria Jaqueline, por exemplo, atende pacientes por esse método atualmente. "Tenho atendido pacientes por telemedicina, e é legal porque param de fumar rápido e estão super motivados. São pessoas que, na pandemia, encontraram uma motivação e me procuraram. Eu tenho tratado essas pessoas e tem gente que com uma ou duas semanas já consegue parar de fumar", revela.