Novo tratamento concentra ondas de ultrassom para quimioterapia mais localizada
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
No combate ao câncer, a quimioterapia funciona como uma faca cega — até ser efetiva contra a doença, ela acaba causando danos consideráveis no corpo do paciente. Com um novo método envolvendo ondas sonoras, no entanto, pesquisadores estão desenvolvendo uma maneira de transformar essa ferramenta em algo mais semelhante a um bisturi, mais preciso e eficiente sem danificar o corpo e seus tecidos na cura da patologia.
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De terapias celulares, CAR-T e até vacinas, os métodos para combater o câncer têm se tornado cada vez mais variados, mas a quimioterapia ainda fica entre os tratamentos mais usados. Estudos mostram que o número de pacientes a receber essa ação terapêutica deve crescer 53% entre 2018 e 2040, provavelmente sofrendo seus efeitos adversos bem conhecidos, como perda de cabelo, náuseas, emagrecimento e mais.
Em 2020, uma equipe de cientistas buscou tornar a quimioterapia mais localizada, usando lasers para ativar químicos anti-câncer em seções tumorais de pacientes. Embora seja promissor, o método só funciona a alguns milímetros abaixo da pele, distância máxima que um feixe laser consegue atingir para ativar os medicamentos. Pesquisadores da Universidade da Cidade de Hong Kong, então, resolveram fazer o mesmo — só que com ondas sonoras.
Combatendo câncer com som
Para começar, a equipe cultivou células de câncer em laboratório, criando também uma pequena molécula baseada em platina chamada cianinplatina, que se acumulou em locais tumorais. Ela é um pró-fármaco, composto que fica inerte até sua ativação no corpo do paciente. A droga foi atingida com ondas de ultrassom precisamente apontadas, o que a converteu em carboplatina, um medicamento quimioterápico comum. Isso induziu à morte do tumor ao danificar a mitocôndria das células cancerosas.
Em testes laboratoriais, o método conseguiu reduzir a viabilidade das células de câncer em 51% quando a cobertura do tecido era de 1 cm de espessura. Com 2 cm, a redução foi de 33%. Em seguida, camundongos com câncer receberam o tratamento com ultrassom, que foi capaz de eliminar dois tumores dentro de seis dias, inibindo bastante o crescimento de tumores adicionais.
Segundo os cientistas, a chamada quimioterapia sono-sensitiva com ondas funcionais de ultrassom teve o sucesso esperado, conseguindo focar em uma área específica com até 8 mm de precisão, o que minimiza consideravelmente os efeitos colaterais. Além disso, a cianinplatina é fluorescente, então o método também pode ser usado como um sistema de imageamento, permitindo o mapeamento em 3D de tumores e o direcionamento preciso das partículas farmacológicas, bem como seu monitoramento.