O que é terapia CAR-T Cell contra o câncer?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
A busca por novos tratamentos contra o câncer impulsiona diferentes frentes de pesquisa em todo o mundo, como as vacinas de mRNA, o uso de vírus editados ou ainda a nova terapia CAR-T Cell. Através do Sistema Único de Saúde (SUS), alguns pacientes já foram tratados com a terapia celular inovadora, que utiliza uma espécie de remédio vivo e pode levar à remissão completa da doença.
- Terapia celular leva à remissão completa de câncer em paciente no SUS
- Para quais tipos de câncer serve a nova terapia CAR-T?
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou os primeiros produtos para a terapia CAR-T no ano passado. Hoje, o tratamento contra o câncer pode ser encontrado em alguns hospitais da rede privada, mas também é aplicado no SUS, de forma experimental, em parceria entre o Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo (USP) e o Hemocentro de Ribeirão Preto.
Independente do caso, o uso da terapia CAR-T Cell é bastante restrito entre os brasileiros e, na maioria das vezes, está associado com estudos científicos, como ocorre no SUS.
Entenda o que é a terapia CAR-T Cell contra o câncer
O nome da nova terapia celular é, na verdade, uma abreviação. Em português, CAR é traduzido por receptor quimérico de antígeno. Já o T Cell é uma referência aos linfócitos T. São células de defesa sistema imunológico que reconhecem elementos estranhos ao corpo (antígenos) e geram anticorpos contra os invasores, incluindo células cancerígenas.
Quando dá para usar o novo tratamento do câncer?
No momento, a terapia CAR-T é usada apenas no tratamento de dois tipos de câncer, leucemia (leucemia linfoide aguda de células B) e linfoma (linfoma não Hodgkin de células B), em pacientes selecionados para os estudos no SUS.
No futuro, os cientistas e os médicos oncologistas brasileiros esperam expandir o uso da terapia celular para outro tipos de cânceres no sangue, como mieloma múltiplo e leucemia mieloide aguda. Se os testes continuarem a apresentar resultados promissores, como a remissão completa, o tratamento pode ser utilizado até em tumores sólidos, como glioblastoma e melanoma.
Custo da nova terapia celular contra o câncer
Entre os fatores que limitam o uso da terapia CAR-T Cell no Brasil está o custo bastante elevado. Em média, o tratamento é de até 2,5 milhões de reais. No entanto, esse custo pode ser significativamente reduzido com a produção nacional e a ampliação dos procedimentos no SUS, podendo chegar a algo próximo de 200 mil reais.
O custo tão elevado está no fato do tratamento ser personalizado. Cada paciente recebe um composto próprio, desenvolvido especificamente para as células cancerígenas que foram encontradas em seu corpo. Sem produção em larga escala, é um desafio baratear a produção.
Como são feitas as células CAR-T?
Todo o processo para a terapia celular começa com a coleta de sangue do paciente com câncer. As amostras são enviadas para centros especializados de processamento, como o Centro de Terapia Avançada (Nutera), localizado no estado de São Paulo. No laboratório, o material é filtrado, sendo selecionado apenas os linfócitos T (células do sistema imunológico).
Na próxima etapa, os cientistas modificam geneticamente as células T, através de um vetor lentiviral (vírus). Com isso, as células aprendem a reconhecer antígenos presentes nas células cancerígenas (marcadores) e passam a ser conhecidas como células CAR-T.
As células CAR-T expressam um receptor que se encaixa no antígeno CD-19, presente nas células cancerígenas. Através do mecanismo de chave-fechadura, a ligação entre elas vai combater o câncer no organismo.
Após o período de edição genética, as novas células são congeladas e vão passar por testes de controle de qualidade. Se tudo estiver dentro das conformidades, o paciente receberá a terapia através de uma única transfusão de sangue.
No pós-transfusão, os efeitos adversos mais comuns da terapia CAR-T são:
- Febre alta;
- Náusea;
- Dor de cabeça;
- Tontura;
- Fadiga;
- Dor muscular.
Segundo o Butantan, os efeitos colaterais são gerados pela intensa resposta inflamatória que o medicamento “vivo” gera no organismo. Na maioria das vezes, as reações são controladas e passam em poucos dias, mas exigem monitoramento em ambiente hospitalar.
Quanto tempo dura o tratamento com CAR-T Cell?
Entre as vantagens do uso da terapia celular, está o curto tempo de tratamento, estimado em cerca de 60 dias. Este período abrange desde a coleta de sangue até a aplicação das células CAR-T. Após a injeção, o paciente ainda precisa ficar em observação no hospital por duas semanas, mas, em seguida, tende a receber alta. Com resultados positivos, é preciso continuar apenas com o acompanhamento preventivo.
Para comprar, a quimioterapia tende a ser bem mais duradoura, já que ocorrem em ciclos que se estendem por meses ou anos, dependendo da indicação. Isso porque o corpo precisa se “recuperar” dos medicamentos quimioterápicos entre os ciclos. Apesar disso, é bastante eficaz para muitos casos de câncer, usando estratégias já conhecidas e seguras.
Por enquanto, a maioria dos pacientes tratados no SUS com a terapia CAR-T apresentaram a remissão do câncer, o que pode ser considerado uma cura, mas eles ainda precisam permanecer em monitoramento. Eles devem ser acompanhados por mais de 10 anos. Afinal, casos de reincidência ainda são possíveis, mas os cientistas estão bastante otimistas com o futuro da nova terapia celular.