Modo de caminhar fornece pistas sobre a saúde de uma pessoa
Por Fidel Forato |
Caminhar parece algo extremamente simples e intuitivo para a maioria das pessoas, mas é uma atividade incrivelmente complexa. Há uma grande troca de sinais entre o cérebro e os diferentes grupos musculares. Por isso, o ritmo e a suavidade dos passos são indicadores de saúde, basta saber observá-los. Novas tecnologias podem ajudar nesse processo.
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Em estudo na revista JAMA Network, pesquisadores da Universidade Duke (EUA) já observaram que a velocidade e o modo de caminhar de uma pessoa apontam para o status da saúde física e mental.
"Há uma tendência em pensar que a velocidade da marcha é apenas uma medida musculoesquelética. Mas estamos aprendendo que a marcha envolve muito mais”, explica Avashalom Caspi, pesquisador da Duke e autor do estudo, em nota.
Afinal, numa simples caminhada, há envolvimento do sistema musculoesquelético, do pulmonar e do cardiovascular, além do Sistema Nervoso Central. Então, “[a lentidão] é uma medida de mais do que fragilidade — esses dados estão nos dizendo algo sobre o corpo inteiro", pontua Caspi.
Não é apenas Parkinson
Quando se pensa na lentidão ao caminhar ou outros problemas (como um andar cambaleante), é normal fazer a associação com a doença de Parkinson, já que o quadro interfere na ligação do cérebro com o sistema musculoesquelético. E as alterações podem ser bastante sutis nos primeiros estágios.
Inclusive, cientistas da Universidade de Cardiff (Reino Unido) usam o acelerômetro de smartwatches e a Inteligência Artificial (IA) para prever possíveis casos de Parkinson. Com base nos movimentos imperceptíveis de um indivíduo, é possível prever o quadro até sete anos antes do diagnóstico oficial.
No entanto, há outras condições que afetam o modo de uma pessoa se mover. "O andar cambaleante com problemas de equilíbrio geralmente está associado ao consumo excessivo de álcool [em pessoas mais novas], mas também pode sugerir falta de vitamina B12”, afirma Adam Taylor, professor da Universidade de Lancaster (Reino Unido), em artigo para a plataforma The Conversation.
Em relação à falta de vitamina B12, o problema leva meses para se manifestar em adultos. No entanto, aparece de modo mais rápido em crianças. Nesses casos, é preciso pensar em formas de reposição.
Tontura ao caminhar?
Em caso de problemas no labirinto (região do ouvido associada às funções de equilíbrio e audição), como infecções no ouvido interno, a pessoa pode desenvolver labirintite e apresentar problemas de equilíbrio e marcha.
O aumento nos níveis de colesterol, triglicérides e ácido úrico também podem desencadear quadros de labirintite. O consumo de álcool, café e cigarros, além do estresse, são outros comportamentos relacionados com possíveis alterações no labirinto. Em comum, essas diferentes causas podem gerar episódios de tontura e vertigem, atrapalhando a caminhada de uma pessoa.
Sente dor nos músculos?
“Se você sentir dor nos músculos glúteos, na parte posterior da perna e até mesmo na panturrilha ao caminhar, e o desconforto desaparecer quando parar, pode ser que esteja desenvolvendo a doença arterial periférica”, sugere o professor Taylor.
Isso porque essa dor ocorre devido a um estreitamento das artérias que fornecem sangue para as pernas. Quando a pessoa está em movimento, é necessário mais sangue e mais oxigênio, mas, como isso não ocorre, os músculos se comportam de modo anaeróbico e liberam ácido lático, o que dá a sensação de cãibra. Na parada, a pouca quantidade de oxigênio recebida volta a ser suficiente.
Envelhecimento natural do corpo
É claro que a perda de ritmo ao caminhar também é um sinal do envelhecimento do corpo, especialmente após os 60 anos. Este processo é natural e esperado, mas pessoas que foram ativas ao longo da vida tem um declínio menos acentuado.
Diante desses cenários possíveis, Taylor lembra: “Se você notar um aumento no número de tropeços, movimentos cambaleantes e quedas, ou se andar se tornou difícil em um curto período de tempo, vale a pena consultar o seu médico sobre o assunto”.