IA vai descobrir a cura do câncer, aponta CEO da Moderna
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 15 de Setembro de 2023 às 10h17
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A Inteligência Artificial generativa está revolucionando as mais diversas áreas, incluindo a saúde. Neste ponto, o CEO da farmacêutica norte-americana Moderna, Stéphane Bancel, afirma que a IA vai descobrir a cura do câncer, através das vacinas de mRNA (RNA mensageiro). E tudo isso já é feito desde antes do hype com o ChatGPT.
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Na verdade, é possível que a IA já tenha auxiliado os cientistas a descobrirem a cura do câncer. Afinal, a farmacêutica testa em humanos um potencial imunizante contra a doença na pele, desenvolvido com o apoio dessa tecnologia. Inclusive, a popular vacina contra a covid-19 da empresa — não disponível no Brasil — também foi beneficiada por ferramentas do tipo.
Segundo Bancel, a farmacêutica já usa há pelo menos seis anos o método de análise de dados conhecido como aprendizado de máquina (machine learning) — um tipo de IA. Para isso, existem treinamentos regulares internos sobre o uso dessas tecnologias. "Tentamos integrar todos os funcionários, desde um operador de linha de frente ou cientista até o CEO, nesses treinamentos, para fazer com que as pessoas entendam o que é ciência de dados”, afirma o executivo para o site Semafor.
Vacinas, IA e cura do câncer
Nas buscas pela vacina contra o câncer, Bancel explica que o uso da IA já é uma realidade. Por exemplo, "se você observar uma nova terapia antigênica individualizada para o câncer, selecionaremos de um paciente qual mutação do DNA de uma célula cancerosa escolhemos para codificar no mRNA (que será o medicamento). Isso é feito facilmente por um sistema de aprendizado de máquina", detalha.
Para entender, diferente da maioria das vacinas, os imunizantes contra o câncer são, em sua maioria, individuais. Isso significa que, em um primeiro momento, é preciso analisar o tumor do paciente e, em seguida, identificar quais proteínas (antígenos) encontradas naquele tipo de câncer serão usados para desenvolver uma vacina, gerar uma resposta imunológica específica e combater o câncer.
A partir do momento de escolha dessas proteínas, é preciso sintetizar um novo mRNA, ou seja, a receita que será responsável por fazer com que o organismo do paciente reproduza essas proteínas. Quando elas foram feitas dentro do corpo, as células do sistema imunológico irão identificá-las como inimigas. Pronto, o organismo do paciente está pronto — e foi melhorado — para combater aquele câncer específico. Todo o processo é bastante complexo, e o uso da IA acelera as etapas.
"Pensamos que dentro de nós está a capacidade de curar o câncer", comenta Bancel sobre a estratégia do uso das vacinas para o tratamento oncológico. Dessa forma, "só precisamos reeducar o sistema imunológico [do paciente] sobre como fazê-lo. E é isso que estamos fazendo com o mRNA" individualmente, acrescenta.
Aqui, ainda vale apontar que a estratégia da Moderna e de outras farmacêuticas, como a Pfizer, não é mais criar uma única vacina para uma doença específica. A ideia é desenvolver plataformas de vacinas, sendo que estas oferecerão sempre tratamentos personalizados para os pacientes. Em outras palavras, serão milhares de vacinas, com pequenas diferenças entre elas.
Remédios com IA na indústria farmacêutica
"A boa notícia é que esse trabalho [também] está acontecendo em toda a indústria em torno da descoberta de medicamentos", conta o executivo. Inclusive, o primeiro remédio feito por IA generativa é testado em humanos para o tratamento de uma doença pulmonar crônica.
Uso da IA para acabar com burocracias
Em outra frente, a Moderna trabalha com um grande modelo de linguagem próprio, semelhante ao ChatGPT, para resolver as burocracias apresentadas pelas agências reguladoras, como a Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil.
De forma simples, "usaremos um grande modelo de linguagem para basicamente preparar as respostas solicitadas por um regulador", afirma o executivo. "Todo o [nosso] banco de dados está lá. Então, o sistema pode ler as perguntas do regulador que recebemos em um documento, e-mail ou qualquer outra coisa, e escrever a resposta que um de nossos especialistas irá ler e validar antes de enviá-la aos reguladores", complementa.
"Às vezes você recebe 100 perguntas em um e-mail sobre o processo de fabricação e segurança", cita como exemplo. Através dessa tecnologia, o que levaria dias para ser respondido, poderá ser feito em bem menos tempo, desde que se evite as alucinações — ou seja, a IA invente novas respostas, algo que pode atrasar todo o processo.
Fonte: Semafor