Descongestionante nasal em comprimidos antigripais não faz efeito, diz FDA
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Nos Estados Unidos, um painel consultivo da Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora do país análoga à Anvisa, decidiu unanimemente na última terça-feira (12) que um ingrediente comum usado como descongestionante nasal em remédios para gripe e afins não é eficaz — decisão que pode levar ao seu banimento. Estamos falando da fenilefrina, presente em centenas de produtos vendidos sem receita nos EUA e no Brasil, e cuja eficiência foi criticada especialmente em versões orais.
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A questão é que a fenilefrina é um vasoconstritor, ingrediente usado para reduzir inchaço e inflamação, mas que funciona muito melhor em versões em spray nasal ou com aplicação direta nas vias aéreas. Segundo especialistas, isso não quer dizer que seja preciso jogar tudo que contenha a substância fora, já que ela não é nociva, e remédios com ela provavelmente possuem outros ingredientes, estes sim eficazes contra sintomas de gripe.
Nos EUA, é provável que as empresas corram para substituir ou remover a fenilefrina dos produtos antes que alguma restrição seja decidida. No Brasil, isso só aconteceria mediante avaliação própria da Anvisa.
Por que descartar a fenilefrina?
A decisão da FDA acompanha novas pesquisas sobre o ingrediente, que no passado era considerado eficaz. Descobriu-se, no entanto, que sua ingestão oral permite que apenas uma pequena parte chegue às vias aéreas para cumprir o papel descongestionante.
A novidade fez com que cientistas da Universidade da Flórida pedissem pela remoção de medicamentos com fenilefrina junto à agência americana, que juntou os 16 membros do painel consultivo para trazer uma definição ao assunto, já discutido por anos.
Precedendo a decisão do órgão, o painel realizou uma revisão dos estudos sobre a fenilefrina em conferência entre segunda-feira (11) e terça-feira (12), chegando à conclusão de que o ingrediente não funciona melhor do que qualquer placebo quando administrado via oral. Entre as preocupações do FDA, está a de que pacientes utilizando algum remédio com fenilefrina estejam apenas adiando a procura por algo realmente útil e eficaz para a saúde.
Outro ingrediente usado em medicamentos contra a congestão nasal causada por condições como a gripe ou a rinite alérgica é a pseudoefedrina, que pode ser vendida sem receita, mas nos EUA é permitida apenas em doses limitadas e mantida longe do alcance de pacientes — isso porque a substância costumava ser usada em laboratórios ilegais de metanfetamina. Ela também causa alguns efeitos colaterais, como aumento da pressão sanguínea, tremedeiras e insônia.
A agência não avaliou produtos com fenilefrina administrada diretamente no nariz, como via spray e gotas, mas sua eficácia parece ser maior nesses casos, segundo estudos recentes. A substância também é eficiente para o uso em cirurgias e na dilatação dos olhos.
Por enquanto, a FDA apenas declarou a ineficiência da fenilefrina, e decisões proibindo ou restringindo seu uso podem demorar — até lá, movimentações empresariais e jurídicas devem ocorrer tanto para atrasar definições quanto para trocar ingredientes no mercado.