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Coronavírus | O que realmente acontece se você injetar ou ingerir desinfetante

Por| 28 de Abril de 2020 às 14h37

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Frente à pandemia de coronavírus (ou de COVID-19) que tem preocupado a população mundial, muitas possibilidades de vencer o vírus têm sido levantadas, como vacinas e medicamentos. Por outro lado, algumas ideias acabam fugindo do convencional (como beber água tônica, por exemplo) e surfam na onda de desinformação diante da doença, inclusive representando perigo às pessoas.

Na última quinta-feira (23), durante entrevista coletiva na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos fez um pronunciamento que trouxe polêmicas. Acontece que Donald Trump sugeriu que injeções de desinfetante poderiam ser avaliadas para tratar a COVID-19. A comunidade médica e científica chegou até mesmo a apontar essa sugestão como “irresponsável e perigosa”. Na ocasião, o presidente norte-americano disse o seguinte: “Eu vejo que o desinfetante nocauteia (o coronavírus) em um minuto. Um minuto! Existe uma maneira de fazer algo assim com uma injeção interna, ou quase como uma limpeza? Como vocês podem ver, isso entra nos pulmões e tem um efeito enorme, por isso seria interessante verificar. Teríamos que chamar médicos para isso, mas parece interessante para mim”.

Entretanto, Isso desencadeou uma polêmica na comunidade médica e científica, e o veredicto foi unânime: não se deve beber e muito menos injetar o desinfetante. Trump acrescentou na última sexta-feira (24) que as suas observações sobre possíveis injeções de desinfetante para combater o novo coronavírus foram sarcásticas: "Era uma pergunta sarcástica aos jornalistas para ver o que aconteceria", disse após a assinatura de um protocolo com mais medidas para tentar tratar a COVID-19.

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Discurso de Trump aumenta casos de intoxicação

Até mesmo os próprios fabricantes de produtos de limpeza também se pronunciaram depois da polêmica coletiva de Trump, caso da Reckitt Benckiser, fabricante dos produtos Lysol e Dettol, que afirmou: “Sob nenhuma circunstância nossos desinfetantes devem ser administrados ao corpo humano (por injeção, ingestão ou qualquer outra via)”. Enquanto isso, a Clorox, fabricante de alvejantes, também manifestou: “Alvejantes e outros desinfetantes não são adequados para consumo ou injeção em nenhuma circunstância”.

Na semana passada, um tribunal norte-americano emitiu uma liminar temporária contra um grupo conhecido como Genesis II Church por vender uma solução de água sanitária como cura para a COVID-19 sob o título de "Solução Mineral Milagrosa” (MMS, na sigla original). No entanto, esse não foi o único grupo que a promoveu. A Food and Drug Administration, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, já teve dores de cabeça por causa de vendedores de MMS antes, mas muitos contornam a regulamentação ao fornecer orientações sobre como diluir e usar o MMS em vez de fornecer o próprio produto.

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Mesmo a ingestão acidental de produtos de limpeza pode ser perigosa. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças, outra agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, informou nesta semana que os centros de controle de envenenamentos receberam 20% mais ligações relacionadas a produtos de limpeza e desinfetantes de janeiro a março do que durante o mesmo período de 2019, provavelmente devido ao aumento do uso durante a pandemia de COVID-19.

Depois da coletiva de Trump, o centro de controle de envenenamento de Nova York recebeu 30 chamadas relacionadas aos produtos nas 18 horas seguintes à sugestão, mais que o dobro em relação ao mesmo período no ano anterior, quando apenas 13 casos foram registrados. Nove dos 30 casos registrados estão relacionados ao desinfetante Lysol, popular nos EUA.

Desinfetante não é a resposta para a COVID-19

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A equipe do Canaltech conversou com Roberto Muniz, médico infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, intensivista do instituto de infectologia Emílio Ribas e do hospital São Luiz para entender como é que o desinfetante age quando em contato com o organismo, e entender definitivamente se é uma solução viável para lidar com o coronavírus ou não.

Primeiramente, questionado diante de como um desinfetante age e quais substâncias levam à destruição dos microorganismos, Roberto afirma o seguinte: "Os desinfetantes agem destruindo a parede celular das bactérias ou interferindo em seu metabolismo. Há níveis diferentes de desinfecção. Os mais potentes destroem os esporos bacterianos (formas mais resistentes contra a ação do meio externo que bactérias em sua forma habitual). Desinfetantes comuns e álcool a 70% são capazes de destruir ou inativar os vírus, também".

Mas o fato de que o desinfetante realmente pode combater os microorganismos não significa que não haja perigo para o ser humano: "Estes produtos, Quando em contato com a pele ou mucosas do ser humano, podem causar irritações ou lesões importantes. E o contato ou ingestão deve ser evitado", alerta o infectologista.

Em seguida, Roberto explica como um desinfetante agiria no organismo do ser humano se fosse ingerido ou injetado: "Alguns desinfetantes são cáusticos e podem causar lesões de mucosa. As lesões mais clássicas são causadas por soda cáustica ou hidróxido de sódio usados em limpezas mais pesadas". Ele ainda acrescenta: "Com a comercialização de produtos tão efetivos, porém menos tóxicos, lesões por soda diminuíram muito. As lesões mais graves aconteciam em crianças que tinham acesso a este produto e o ingeriam. Em contato com a mucosa ou a água, a soda libera calor, que provoca queimaduras".

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Mas o desinfetante teria potencial para protagonizar uma pesquisa contra a COVID-19? De acordo com o infectologista, não. "Para tratamento ou prevenção de COVID-19 em seres humanos, não há papel dos desinfetantes neste momento", declara.

No início do ano, circularam fake news em torno de que água sanitária e o alvejante sem cloro ajudariam a “matar o vírus” caso fossem ingeridos, e Muniz também conta para a gente o que aconteceria com um ser humano se ele bebesse um copo americano de cada um, para termos uma real noção: "O cloro é uma substância muito reativa. E mesmo os alvejantes sem cloro têm substâncias relativas que o substituem. Os objetivos destas substâncias são três: alvejar ou branquear [roupas e tecidos], eliminar odores e matar bactérias", introduz o infectologista.

"Se [acidentalmente] entrar em contato com mucosas, por exemplo, a dos olhos, deve-se lavar com água em abundância por 30
minutos e procurar o pronto-atendimento. No caso de ingestão, não se deve tomar nada, e sim procurar o pronto-socorro imediatamente. A ingestão isolada destas substâncias raramente é fatal a adultos saudáveis, mas crianças e pessoas debilitadas podem correr em risco de perder a vida. Os principais efeitos são náuseas, vômitos, diarreia e mal estar. A ingestão recorrente e prolongada pode ser cancerígena para o aparelho digestório", conclui Roberto.

Fonte: Com informações de Popular Science