Publicidade

Como seria possível o transplante de cérebro do filme Pobres Criaturas

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

Compartilhe:
Divulgação/Searchlight Pictures
Divulgação/Searchlight Pictures

Vencedor de quatro prêmios do Oscar, o filme Pobres Criaturas retrata o pós-operatório e os desdobramentos de uma cirurgia ainda inédita na medicina: o transplante de um cérebro vivo para outro corpo também vivo. Adiantamos que o feito não deve ser realizado nos próximos anos em uma sala de hospital do mundo real, mas há chances de ocorrer no futuro. 

Nas telonas do cinema e também no streaming, é possível assistir à saga de Bella Baxter, interpretada por Emma Stone. [Alerta de spoiler] Ali, vemos como o cérebro de um bebê se comporta, quando transplantado no corpo de uma mulher adulta, o que resulta em muita confusão, drama e surrealismo

"Tal como os bebês que desenvolvem um arsenal de pensamentos, comportamentos, competências e habilidades durante o seu desenvolvimento infantil, um cérebro transplantado pode fazer o mesmo”, afirma Dan Baumgardt, neurocientista  e professor da Universidade de Bristol (Reino Unido), em artigo na plataforma The Conversation.

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

Apesar da lógica da afirmação, isso é mera especulação, quando o assunto são transplantes de cérebros. Afinal, não há nenhum cirurgião que tenha feito algo parecido ao procedimento realizado por Dr. Godwin Baxter, interpretado por Willem Dafoe, em Pobres Criaturas. Na história recente, agumas promessas do tipo já foram feitas, mas nunca realizadas.

Se alguém rompesse as barreiras éticas e tentasse um transplante de cérebro na vida real, esta pessoa, muito provavelmente, encararia inúmeros desafios, como explica o neurocientista Baumgardt.  

Como transplantar um cérebro vivo

Em primeiro lugar, é necessário abrir o crânio de uma pessoa para a retirada do cérebro que será “doado”. Para isso, a estratégia mais simples seria a realização de uma craniotomia, ou seja, a remoção de uma parte do osso do crânio, feita com a ajuda da serra de Gigli e do craniótomo.

"Ao abrir o crânio e as meninges [as três membranas protetoras], haverá uma janela [grande o] suficiente para remover o cérebro. Esta seria a parte mais simples da operação", aposta o pesquisador Baumgardt.

Se a inspiração para o procedimento for os saberes dos antigos egípcios no campo da mumificação, o cérebro pode ser removido em pequenos pedaços pelo nariz, sem a abertura do crânio. No entanto, é difícil imaginar que seria possível reconstruí-lo, de forma funcional, como um quebra-cabeça.

É possível religar o cérebro antigo em um novo corpo?

Continua após a publicidade

Segundo Baumgardt, “a remoção de um cérebro requer o corte dos 12 pares de nervos cranianos que saem diretamente dele e da medula espinhal”. Então, será preciso conectá-los ao novo corpo integralmente.

No entanto, os nervos não se unem naturalmente. Na verdade, assim que são cortados, eles começam a se desintegrar e a morrer. Em paralelo, é necessário religar as artérias, o que vai restaurar o fluxo sanguíneo.

Para essa finalidade, ainda não existem estratégias seguras, mas um cirurgião tão louco quanto Godwin Baxter poderia utilizar colas biológicas experimentais ou ainda enxertos de células que estimulam a recuperação neuronal — a segunda sugestão parece mais eficiente.

Resultado é igual ao filme Pobre Criaturas?

Continua após a publicidade

Se tudo der certo, o novo cérebro começará a receber informações sensoriais de todo o corpo e, consequentemente, enviará instruções de volta. Com isso, fará com que os músculos se contraiam, o coração bata, as glândulas secretem hormônios e a boca fale. 

Entretanto, isso não é tão simples. Outro desafio será avaliar se a barreira hematoencefálica, escudo protetor do cérebro, foi adequadamente restaurada. Caso contrário, o órgão estará suscetível a qualquer infecção, o que pode culminar na morte do indivíduo.

Dito tudo isso, “o transplante de cérebro atualmente continua sendo matéria de ficção científica e de filmes premiados pela academia internacional [como Pobres Criaturas]”, afirma Baumgardt.

“A viabilidade, de acordo com a anatomia e fisiologia básicas, torna improvável o desenvolvimento de um procedimento tão complexo”, acrescenta o neurocientista. Apesar disso, ele não descarta que, no futuro, com novas ferramentas, tal missão se torne possível. Nesse dia, o procedimento pode ficar tão corriqueiro quanto um transplante de coração.

Continua após a publicidade

Vale destacar que, hoje, a doação de cérebros já ocorre, mas nenhum paciente é diretamente beneficiado. Os órgãos doados são usados no campo da pesquisa, ajudando na descoberta de novos tratamentos e ampliando a compreensão de doenças neurológicas.

Fonte: The Conversation