O que são rios voadores?
Por Wyllian Torres • Editado por Patricia Gnipper |
Você já ouviu falar nos rios voadores? Eles são um tipo de rio atmosférico, sendo que rios atmosféricos são fluxos de vapor de água, invisíveis aos nossos olhos, que correm pela atmosfera à medida que as correntes de vento locais os conduzem sobre os continentes. Eles demonstram a importante relação entre as florestas e o ciclo da água em todo o planeta, mas o que são rios voadores, exatamente?
Embora a expressão “rios voadores” possa soar exagerada, esses corredores de umidade atmosférica conseguem vazar quantidades de água tão grandes quanto os maiores rios do mundo — como o rio Amazonas. No Brasil, são responsáveis por transportar a umidade do Norte para as regiões ao Sul do país.
Entenda o que são rios voadores
Os rios aéreos, como também são conhecidos os rios voadores, nada mais são do que fluxos estreitos de vapor de água se concentram em médios e altos níveis atmosféricos conduzidos para outras áreas pelas correntes de ar predominantes.
Esses rios atmosféricos são invisíveis aos olhos e não possuem limites tão bem estabelecidos como os rios terrestres — nem por isso os rios voadores drenam menos água do que eles. Na verdade, eles desempenham um papel fundamental para o ciclo hidrológico de todo o planeta.
Esses corredores de umidade formam colunas com até três quilômetros de altura, centenas de quilômetros de largura e milhares em extensão. Mesmo invisíveis, esses rios transportam enormes quantidades de água, sendo equivalente até mesmo ao fluxo derramado pelo rio Amazonas.
Estima-se que os rios voadores que se formam na Amazônia liberem cerca de 20 bilhões de toneladas diariamente para a atmosfera. Para efeitos de comparação, o rio Amazonas despeja aproximadamente 17 bilhões de toneladas de água no Oceano Atlântico.
O fenômeno ocorre em diversas regiões costeiras do mundo, como o norte da África, Américas do Norte e do Sul e Europa Ocidental. Os rios voadores também são associados a enchentes por conta do grande volume de chuva que cai sobre algumas áreas em pouco tempo.
No Brasil, o rio voador forma a zona de convergência do Atlântico Sul (ZCAS), um fenômeno comum durante o verão brasileiro e responsável pelo grande volume de chuva nas regiões Sul e Sudeste do país. Ele ocorre quando a massa de vapor encontra uma frente fria que se forma acima do Oceano Atlântico Sul.
Como os rios voadores se formam?
Os rios voadores da Amazônia são um ótimo exemplo para entender a dinâmica do fenômeno. Aliás, é graças aos estudos dos rios aéreos dessa região brasileira que hoje eles são reconhecidos como peça fundamental do ciclo da água no planeta.
As correntes de ar que sopram do Atlântico em direção ao continente são os responsáveis por canalizar toda a umidade liberada do oceano em direção à região amazônica. Chegando ali, esse fluxo de umidade ganha mais corpo com o vapor liberado pela floresta amazônica.
Em seguida, esses rios, impulsionados pelas correntes de ar, seguem para o oeste, onde se deparam com a cordilheira dos Andes. O “paredão” continental, por sua vez, desvia essa umidade para o sul do continente. Dessa maneira, um imenso volume de água é distribuído pela América do Sul.
Na verdade, é graças a esses rios atmosféricos que as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil são abastecidas por grandes volumes de água vindos do Oceano Atlântico e da floresta amazônica.
A relação das florestas com os rios voadores
Desde a década de 1960, os jatos de baixos níveis (nome técnico para os rios voadores) são conhecidos pelos meteorologistas, mas há pouco tempo o fenômeno começou a ser compreendido em sua totalidade.
Em 1976, o agrônomo Eneas Salati realizou a primeira estimativa relacionando metade do balanço hidrológico da região amazônica com a evapotranspiração — processo pelo qual as árvores evaporam para a atmosfera a água drenada pelas raízes em solo. Com isso Salati demonstrou como a maior floresta tropical do mundo cumpria um papel fundamental para a formação dos rios voadores que banham todo o Brasil.
Mais do que isso, em 1979, o agrônomo apresentou um estudo demonstrando como a Amazônia reciclava sua própria chuva. Ao mapear os átomos de água de norte a sul da região amazônica, Salati descobriu que a umidade vinda do Atlântico desabava sobre a floresta tropical e, então, evaporava através das árvores e se concentrava nos fluxos de umidade — que seriam chamados rios voadores.
O agrônomo Eneas Salati morreu em fevereiro de 2022, deixando um importante legado sobre a importância das florestas para o ciclo da água no planeta, especialmente sobre como a floresta Amazônica é responsável por irrigar as regiões ao sul do Brasil.
Fonte: NASA, NOAA, Projeto Rios Voadores