Mar Mediterrâneo quase desapareceu há 5,5 milhões de anos
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela | •

Milhões de anos atrás, um dos mares mais famosos do mundo quase sumiu da face da Terra — é o Mar Mediterrâneo, que teve ¾ de seu volume evaporados na Crise de Salinidade do Messiniano. Ocorrido há 5,5 milhões de anos, o evento ocorreu em duas fases, segundo uma pesquisa recente, que revelou detalhes e os publicou na revista científica Nature Communications.
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O estudo foi liderado pelo cientista de sistemas terrestres Giovanni Aloisi, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), cuja equipe analisou isótopos de cloro depositados no sal do leito marinho mediterrâneo. Descobriu-se que a primeira fase do fenômeno levou 35.000 anos, roubando 70% da água de todo o mar.
Represa natural no Mediterrâneo
A causa dessa incrível seca no Mediterrâneo já era conhecida, mas os detalhes de como, quando, e por que eram nebulosos. O que aconteceu na primeira fase foi uma restrição do fluxo de água entre o Oceano Atlântico e o mar em questão, quando o Estreito de Gibraltar ficou mais elevado que o habitual. Isso limitou o fluxo de água doce, aumentando a deposição de sal e facilitando a evaporação.
Na segunda fase, que durou 10.000 anos a partir da primeira, o Mediterrâneo acabou totalmente isolado do Atlântico, acelerando sua secagem. À medida que a água recuava, a ponte submarina que cruza o Estreito da Sicília ficou exposta, sugerindo que o mar Mediterrâneo tenha se dividido em dois, formando uma ponte terrestre entre a África e a Europa.
Isso levou a mais evaporação no lado leste do Mediterrâneo, onde as maiores quedas do nível da água teriam acontecido, e onde mais depósitos de sal foram encontrados pela pesquisa.
Ainda não se sabe exatamente porque o evento aconteceu, mas o final do período Mioceno, da época do fenômeno, viu atividade tectônica generalizada e dramática, que pode tê-lo desencadeado — e a seca, por sua vez, teria tirado pressão da crosta, causando mais tumulto ainda.
Mais especificamente, 69% do Mediterrâneo secou, gerando alterações no clima de todo o planeta, mudando, por exemplo, os padrões de chuva, algo que a ciência já notou terem mudado na época.
Atualmente, o Estreito de Gibraltar é muito mais largo e fundo, permitindo a existência do mar tranquilamente. Caso ainda estivesse fechado, o nível das águas cairia em cerca de meio metro por ano. Na época, a Enchente do Zancliano devolveu a água à região, mudando a história até os dias de hoje.
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VÍDEO: Telha Solar
Fonte: IPGP, Nature Communications