Colapso da manta de gelo oeste da Antártida é inevitável mesmo no melhor cenário
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Estudos indicam que a taxa de derretimento da manta de gelo do oeste antártico só deve acelerar nas próximas décadas, em uma consequência descrita como inevitável das mudanças climáticas — isso quer dizer que, mesmo com esforços para limitar a emissão de gases do efeito estufa, o derretimento não deverá mais parar.
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Uma das medidas propostas para limitar a emissão de gases e impedir que a temperatura suba mais do que 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais é o Acordo de Paris, assinado em 2015. Mesmo que tudo o que foi combinado pelos países participantes realmente seja cumprido, o derretimento do manto oeste ainda irá triplicar de velocidade no restante do século XX se comparado ao século XX, segundo simulações.
Em um comunicado, a autora principal do estudo em questão e pesquisadora da Pesquisa Antártica Britânica, Kaitlin Naughten, afirmou que perdemos o controle do derretimento da manta de gelo do oeste antártico. Se quiséssemos ter preservado o local histórico, que tem muita importância para o clima e o nível dos mares, teríamos de ter tomado medidas acerca das mudanças climáticas há décadas.
Mantas de Gelo da Antártida e o clima
Apenas na manta do oeste antártico, há água congelada o suficiente para aumentar o nível do mar em cinco metros, caso venha a derreter completamente. Atualmente, a maior contribuição para o aumento no nível dos mares vem das plataformas flutuantes de gelo do Mar de Amundsen, que estão derretendo por conta do aumento de temperatura no Mar do Sul.
Nas simulações da equipe de Naughten, buscou-se prever o quanto do derretimento poderia ser evitado pela redução de emissões de gases do efeito estufa. Levando em consideração eventos climáticos e variabilidades como os efeitos do El Niño, descobriu-se pouca diferença na taxa de perda de gelo entre quatro cenários diferentes, todos citados como possíveis no Acordo de Paris.
Nos três cenários prevendo o menor aumento na temperatura média do planeta, respectivamente, 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais, 2 ºC e 2 a 3 ºC, seus efeitos na taxa de derretimento de gelo no Mar de Amundsen foram praticamente idênticos. No pior cenário, com 4,3 ºC acima dos níveis pré-industriais e o mais provável de acontecer, a divergência no derretimento ocorreu, mas apenas após 2045, quando subiria consideravelmente. Até lá, a taxa seguiria muito próxima dos outros cenários.
Os achados são sinistros, mas prever os efeitos das mudanças climáticas podem nos ajudar a ter uma melhor preparação para evitar piorá-las e tentar contornar suas consequências, segundo os cientistas. Podemos não conseguir mais evitar o colapso da manta do oeste antártico, mas temos de seguir buscando a diminuição das taxas de aumento do nível do mar, de acordo com Naughten.
Quanto mais lentas as mudanças no nível do mar, mais fácil será para os governos e sociedades se adaptarem a elas, caso sejam realmente inevitáveis.
Fonte: Nações Unidas, British Antarctic Survey, Nature Climate Change