Review The Last of Us Part 1 | Decepcionante e desnecessário
Por Felipe Goldenboy • Editado por Bruna Penilhas

Quando The Last of Us Part 1 foi anunciado em junho deste ano, o clima de insatisfação tomou conta. Por que um jogo de 2013, lançado no fim da geração PlayStation 3, e que ganhou uma versão remasterizada (paga) no ano seguinte para PlayStation 4, precisaria de uma nova versão no PlayStation 5? Infelizmente, essa pergunta perdura até hoje, inclusive neste review.
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Não há motivos o bastante para celebrar a chegada do novo jogo da Naughty Dog. Nem as entrevistas com os desenvolvedores, textos publicados no PlayStation Blog e dezenas de vídeos publicados unicamente para gerar hype são suficientes para perfumar um remake que não há razão para existir — pelo menos, não pelo preço de R$ 349,90 na sua versão mais básica. Sim, eu sou fã de carteirinha da franquia, mas não consigo "passar este pano".
A PlayStation Brasil concedeu uma cópia digital do jogo antecipadamente ao Canaltech. Você confere a nossa opinião sobre o game nos próximos parágrafos.
Recursos de acessibilidade são maior trunfo do game
Apesar das críticas negativas que precisam ser feitas, existem alguns tópicos que merecem ser parabenizados. A maior e melhor novidade é a acessibilidade: o jogo está mais acessível para jogadores cegos, surdos ou com capacidade motora reduzida. Agora, o game conta com audiodescrição para as cutscenes, inclusive em português do Brasil.
Os recursos de The Last of Us Part 2 também foram implementados no rebuild, como exibição em alto contraste (que deixa os inimigos e itens com cores diferentes e mais vibrantes) ampliador de tela, leitor de texto, entre outros.
A direção de arte também mudou. Os personagens, objetos e cenários estão muito mais bonitos e em alta resolução. Os modelos de Ellie e Joel são os mesmos usados nos flashbacks de Part 2, e são muito bons. Mas quem rouba a cena mesmo são os companheiros que encontramos pelo caminho: Tess, Bill, Henry, Sam e outros estão muito, mas muito mais bonitos, sendo possível perceber mais linhas de expressão, movimento dos olhos e detalhes na roupa, por exemplo.
Os outros NPCs (personagens não jogáveis) e infectados também receberam um tapa no visual — principalmente os infectados, que parecem muito mais pálidos, raivosos e sangrentos. Quando você atira neles, também dá para ver mais sangue jorrando e tripas voando afora.
Apesar de não ter ray-tracing, é possível ver os reflexos do ambiente em espelhos, vidros e poças d’água. A vegetação está mais viva e abundante. A iluminação e a sombra também foram retrabalhados, e algumas cenas que antes pareciam claras demais agora estão mais escuras, e vice-versa.
Por falar em gráficos, há duas opções de visualização: o modo Fidelidade, que prioriza o 4K, mas entrega até 40 quadros por segundos; e o modo Desempenho, que mantém em 4K dinâmico ou 1440p, mas com 60 quadros por segundo. Infelizmente, 4K sem upscaling a 60 quadros por segundo ainda parece uma raridade no PlayStation 5.
Como esperado, o controle DualSense responde a algumas ações que acontecem na tela; é possível sentir vibrações diferenciadas quando o personagem está sob a chuva, por exemplo. Os gatilhos adaptáveis também mudam conforme o jogador mira com uma pistola simples ou uma arma mais pesada, como uma espingarda ou arco e flecha. Outros detalhes sutis possibilitados pelo hardware do PS5 são as telas de carregamento rápidas e o fim das telas pretas assim que se inicia uma cena pré-renderizada.
Também há dois modos novos de jogo: um de permadeath (“morte permanente”, em que o jogo acaba de vez logo na primeira vez que o jogador morre) e um de speedrun (cujo objetivo é zerar o game o mais rápido possível). São modos de jogo bastante nichados, que devem agradar a uma pequena parcela dos jogadores — e que poderiam ser adicionados como atualização gratuita no Remastered do PS4, mas tudo bem. Ah, você precisa zerar o jogo pelo menos uma vez… mesmo que já tenha feito isso antes.
Caso você não tenha conseguido aproveitar The Last of Us antes devido à falta de recursos de acessibilidade, este pode ser um bom momento para dar uma chance a The Last of Us Part 1.
— Felipe Goldenboy
Tudo que já era ruim em 2013 continua ruim em 2022
Vamos começar pelo básico: é difícil até classificar o que The Last of Us Part 1 é, de fato. A Sony classifica o jogo como um “remake”, ou seja, um projeto cuja história, cutscenes e gameplay foram refeitos por completo, como aconteceu com Resident Evil 2 e 3, por exemplo. Mas isso não aconteceu aqui. A história, as cutscenes e o gameplay continuam os mesmos, apenas com mudanças no visual e na inteligência artificial dos personagens.
Vamos falar destes dois fatores. Os gráficos estão infinitamente mais bonitos do que no original. Isso é indiscutível, afinal, já se passaram quase dez anos. Porém, a movimentação dos personagens em alguns momentos parece um tanto esquisita; fica evidente que o estúdio apenas colocou uma nova roupagem nas mesmíssimas animações. É bonito? Sim, mas não parece tão verossímil quanto em The Last of Us Part 2.
Quanto à inteligência artificial, não sentimos grandes diferenças, infelizmente. Durante o gameplay, vimos tanto Ellie quanto Tess se movimentando em frente aos inimigos — igualzinho ao que acontecia no primeiro game. Também vimos elas tendo tremeliques sem sair do lugar, na dúvida de onde ir.
Os inimigos também continuam burros: eles andam em círculos a curtas distâncias, não se movimentam durante os confrontos e, às vezes, perdem o jogador de vista e simplesmente esquecem dele. Ouvir “droga, para onde ele se meteu” ou “não estou vendo nada por aqui, continuem procurando!” — sempre com aquele sotaque e tom de voz estranhíssimos — após se esconder atrás de um móvel é decepcionante.
Por falar em voz, podemos falar também sobre a localização. Jogamos o game dublado e legendado em português do Brasil, e constatamos os mesmíssimos problemas do jogo original: legendas diferentes do que está sendo dito, traduções erradas sem contexto, discrepâncias no volume da dublagem, etc. A Sony não prometeu que iria refazer a localização do jogo no nosso idioma, afinal, é uma questão muito pontual que exigiria o trabalho de muitas pessoas. Mas é frustrante vermos os mesmos problemas sendo cobrados a preço cheio.
É decepcionante ver os mesmos problemas do jogo original dando as caras quase dez anos depois. Mais decepcionante ainda é lembrar que melhorias foram prometidas, mas não aconteceram.
— Felipe Goldenboy
Recursos promovidos em trailers não fazem diferença alguma
Existem outras novidades que foram bastante badaladas em trailers e textos oficiais. Por exemplo, existe uma nova galeria de modelos (um visualizador de personagens e objetos) e skins desbloqueáveis, como camisetas de God of War ou Horizon Zero Dawn. Você precisa zerar o jogo uma vez para liberar os cosméticos. "Méh".
Durante o gameplay, foi implementada uma tecnologia chamada “motion matching”, que tenta prever as melhores animações para um movimento ou um giro em 180º do jogador. O objetivo é deixar a mobilidade dos personagens ainda mais realista. Sinceramente? Se não tivessem nos contado, nem teríamos percebido.
A física dos objetos também foi alterada. Por exemplo, o boné de um NPC pode voar (para bem alto) assim que você o estrangula, ou o concreto das paredes pode se despedaçar em tiroteios. Até dá para quebrar alguns vidros, como acontece em The Last of Us Part 2. Isso não muda em nada no gameplay e servem apenas como perfumaria.
Tudo isso, segundo a Naughty Dog, faz com que o mundo de The Last of Us Part 1 pareça ainda mais vivo, deixe os combates mais assustadores e aumente o dinamismo do game. Fica a critério do cliente. Para nós, não mudou nada.
Prós
- Recursos novos de acessibilidade
- Modelos dos personagens refeitos
- Iluminação, cores e paisagens mais vivas e bonitas
Contras
- Animações dos personagens parecem falsas às vezes
- Inteligência artificial ruim
- Gameplay sem inovações
- Volume da dublagem muda constantemente
- Algumas traduções erradas
- Jogo de 2013 sendo vendido por preço cheio
The Last of Us Part 1 vale a pena?
Definitivamente não, exceto se você precisar de algum dos novos recursos de acessibilidade. A melhor opção ainda é procurar The Last of Us Remastered para PS4 em mídia física, já que a Sony removeu a versão digital da PlayStation Store. É possível encontrar o jogo por cerca de R$ 60 no varejo, ou até mais barato em grupos de troca da própria comunidade. Essa versão também roda no PS5.
Infelizmente, The Last of Us Part I concluiu tudo o que já prevíamos: é um jogo sem cabimento. Os novos gráficos — a única grande mudança, de fato — não justificam a cobrança do preço cheio de R$ 350. E o pior: é um jogo que não serve nem para gerar hype para a série live-action em produção pela HBO, com previsão de lançamento para 2023. Talvez fosse mais inteligente por parte da Sony e da Naughty Dog lançá-lo mais próximo ao seriado; pelo menos, ele teria um motivo para existir.