William Shatner: eterno Capitão Kirk conta como é ir ao espaço
Por Danielle Cassita • Editado por Luciana Zaramela | •
William Shatner, nosso eterno Capitão James T. Kirk na série original de Star Trek, completa 93 anos em 22 de março. Para comemorar a data, o History Channel promete uma programação especial da série Inexplicável, apresentada pelo ator. Em entrevista coletiva com a imprensa nesta terça-feira (12), Shatner contou suas experiências e deu um gostinho do que esperar da produção.
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Inexplicável estreou em 2019 e vem explorando mistérios fascinantes da história. A quarta temporada da série vai ser lançada em junho, mas antes disso, o History vai exibir uma maratona de episódios comandados por Shatner. Claro que a homenagem não é sem motivo: nascido em 1931 em Montreal, no Canadá, Shatner fez sua estreia na atuação em 1956, e dez anos depois, abraçou o papel que lhe transformaria em um ícone da ficção científica.
Em setembro de 1966, ele deu vida ao Capitão James T. Kirk, comandante da nave espacial USS Enterprise, em Star Trek (ou Jornada nas Estrelas, como a produção foi chamada no Brasil).
Ao longo de quase 80 episódios distribuídos em três temporadas, a série de Gene Roddenberry mostra Kirk e sua equipe, formada por Spock, o primeiro oficial, e pelo oficial médico Dr. Leonard "Bones" McCoy. Durante as aventuras pelo espaço, a tripulação encontra todo tipo de alienígenas e desafios.
William Shatner no espaço
Em Star Trek, James T. Kirk é um dos capitães mais famosos na Frota Estelar — e nada mais justo para o oficial destemido que salvou a Terra algumas vezes e liderou sua tripulação rumo ao desconhecido.
Fora da ficção, Shatner pôde viver sua própria aventura espacial: em 2021, ele foi ao espaço suborbital no segundo voo comercial da Blue Origin. "Agora posso dizer uma coisa: sim, é verdade, vou me tornar um rocket man" escreveu ele no X, então Twitter, antes do voo.
Durante o voo, o ator e outros três tripulantes chegaram a 106 km de altitude e puderam curtir alguns minutos da sensação de ausência de peso. Quando questionado sobre a experiência, ele recordou:
Sugeri para Bezos que eu fosse no primeiro voo. Ele disse que voltaríamos [nesse assunto depois], e só voltamos de fato após um ano. E disseram que não, que o próprio sr. Bezos iria com um rapaz jovem, outro astronauta e seu irmão. Eles foram primeiro, e eu pensei: “beleza, tudo certo, o dinheiro é dele”. Achei que tinha ficado por isso mesmo, mas eles voltaram e me perguntaram: “você quer ir no segundo?”. Minha resposta imediata foi “não, não quero ser o segundo”. Mas então eu pensei: “vai ser uma aventura, e daí se eu for o segundo?” Então voltei atrás e disse sim, e lá fui eu na segunda viagem.
Aquecimento global
Afinal, o que é mais inexplicável para o ator: comandar a nave Enterprise, ser apresentador de TV ou viajar ao espaço? Em sua resposta, ele destacou que nunca se separou da realidade existente entre a gravação da série televisiva e do que há do outro lado das câmeras. E foi além, recordando de seu voo com a Blue Origin e como a experiência destacou a urgência de lidarmos com o aquecimento global e seus efeitos.
Viajar ao espaço, queimar gases, ver a escuridão, olhar para baixo e ver o poder da vida no planeta... para depois perceber, com angústia, que este era o motivo de eu estar emocionado. Eu não havia entendido por que chorei até estar de volta, quando saí da nave — era porque eu vi [do espaço] o começo do fim da Terra. Estamos matando nossa Terra, e aqueles momentos lá em cima deixaram tudo mais dramático do que nunca. Temos que parar o aquecimento global agora mesmo. Não temos tempo a perder.
Shatner não é o primeiro a sentir os efeitos de ver a Terra do espaço. Esta clareza mental é conhecida como overview effect (“efeito de visão geral”, em tradução livre), termo criado pr Frank White. Muitos astronautas têm esta experiência, e passam a ver a Terra como uma esfera azul pequena e frágil flutuando no vazio, enquanto é protegida por uma atmosfera fina e delicada.
Inteligência artificial e o futuro
Muito se fala sobre os avanços da inteligência artificial (IA), e claro que o assunto não poderia ficar de fora do papo com o ator. Sobre isso, Shatner traçou um paralelo entre IA e a bomba atômica:
A inteligência artificial é uma besta estranha. Não que nunca tenhamos lidado com bestas estranhas enquanto humanidade, [tais como] venenos, fusão atômica... estas são bestas estranhas que não deveriam nem ter lugar na existência — exceto pela habilidade da humanidade de criá-las.
O que podemos esperar da inteligência artificial no futuro? Como vamos lidar com seu funcionamento e avanços? Para ele, é extremamente necessário ter cautela.
Minha esperança é que a IA herde o mesmo lugar da bomba atômica: nós a temos, nós a guardamos, todos sabem que é mortal, que pode dizimar a civilização... não podemos usá-la errado – e a mesma coisa se aplica à IA. Até agora, está sob controle, mas precisamos ter cuidado, pois é bem possível que ela assuma o comando e te renda quando você tentar impedi-la, agindo por conta própria. E isso pode ser perigoso. Precisamos ser muito, muito cuidadosos.
Conhecimento é tudo
Shatner também trouxe colocações sobre a construção do conhecimento e fenômenos sem explicação aparente.
Não acho que possa existir algo que supere a natureza. O que podemos fazer neste processo é usar nossas ferramentas atuais e as que ainda vão surgir, e assim descobrir o incrível mistério da realidade. Eventualmente, mistérios podem ser explicados, como é o caso dos buracos negros. Temos uma visão inicial sobre eles, como se formam, seus campos de força... buracos negros são a força motora do universo. Não sabíamos disso, e acabamos de descobrir o que eles significam, o que fizeram, o que fazem. O sobrenatural está lá fora, esperando para descobrirmos que é natural. Tudo na natureza é tão bizarro, tão inexplicável, que toda vez que descobrimos alguma coisa [...], não fazíamos ideia que o mistério existia e muito menos a resposta. Acredito que "sobrenatural" seja outro nome para "mistério": o que é mistério agora, mais tarde se tornará um fato.
E Shatner tem razão. A natureza é repleta de mistérios e muitos deles desafiam nossa compreensão. É aqui que entra a ciência, que tem papel fundamental para ampliar nosso conhecimento e nos ajudar a entender o mundo em que vivemos. Agora, aguardemos as descobertas e invenções que estão por vir — e que, quem sabe, mostrem que o sobrenatural é mais natural do que parecia.