O que aconteceria com a nossa comida se um asteroide colidisse com a Terra?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
A vida moderna é bastante confortável para parte significativa dos humanos — desde que eles possam trabalhar e tenham dinheiro suficiente. Quando temos fome, podemos pegar alguma comida pronta no armário, pedir um delivery, comer em um restaurante ou ainda ir ao supermercado. Mas o que aconteceria com a nossa alimentação se um gigantesco asteroide, como aquele que provocou a extinção dos dinossauros há cerca de 66 milhões de anos, colidisse com a Terra?
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Para responder a este questionamento, não podemos cair em respostas fácies, como as que foram planejadas e mal-executadas pelos personagens do filme Não Olhe para Cima, disponível na Netflix. Neste hipotético cenário, não conseguimos destruir esta rocha espacial antes da colisão e também não conseguimos escapar por espaçonaves, com êxito, para outros planetas.
Quais os efeitos da colisão de um asteroide na Terra?
Caso um asteroide gigante atingisse a Terra, a porção do planeta impactada diretamente pela rocha seria destruída imediatamente. Como consequência, terremotos, tsunamis, erupções, incêndios florestais e chuvas ácidas iriam se espalhar por todo o globo. Além disso, uma nuvem de poeira e cinzas deveria bloquear, por um tempo indeterminado, a chegada dos raios solares em nossa superfície, impedindo a maioria das técnicas conhecidas de cultivo do solo e da criação de animais.
"O planeta está envolto em chamas. Peixes mortos cobrem os rios e os canais. Os agricultores perdem a maior parte do seu gado. Depois de apenas alguns dias, o ar começa a esfriar e as temperaturas médias globais despencam. As colheitas falham catastroficamente e o sistema de abastecimento de alimentos como o conhecemos desmorona", descreve Philip Maughan, pesquisador e cofundador da plataforma de pesquisa de alimentos Black Almanac, em artigo para a BBC.
Aprendendo com o passado
Para entender como os humanos iriam sobreviver a esse cenário pós-apocalíptico, vamos voltar ao período quando, de fato, um asteroide gigante atingiu a Terra: a época da extinção dos dinossauros. Os grandes predadores do período foram extintos, exceto um grupo de dinossauros terópodes que tinha dietas onívoras. Ao longo de milhares de anos, evoluíram para outras formas de vida. No caso, as aves contemporâneas.
É preciso lembrar que uma infinidade de pequenos mamíferos — os nossos ancestrais — também sobreviveu ao período, enquanto se alimentava de insetos, larvas, sementes dos mais diversos tipos e plantas aquáticas, que crescem com pouca luz solar. Répteis, como os crocodilos, e insetos, como as baratas, também conseguiram escapar da extinção em massa.
Temos estoques gigantes de alimento não perecível?
Supostamente, a situação poderia ser controlada, caso tivéssemos grandes estoques de comida que não são perecíveis e enlatadas, mas isso está longe de ser realidade mesmo nos países mais desenvolvidos. O tamanho de um estoque desse tipo é incalculável quando pensamos que a Terra é habitada por 7,7 milhões de pessoas. Inevitavelmente, as reservas existentes acabariam e isso iria ocorrer, muito provavelmente, antes que novas soluções pudessem ser pensadas para controlar a questão da falta de comida para os humanos.
Fazendas subterrâneas para manter nossa agricultura
Por meses ou anos, o único lugar seguro para a espécie humana seria o subsolo e, em túneis ou cavernas, precisaríamos desenvolver fazendas subterrâneas, sem ajuda dos modernos fertilizantes e da nossa capacidade industrial — presumimos que não irá mais existir energia elétrica após o impacto de um asteroide, sem que as redes sejam reconstruídas, e os humanos iriam se organizar novamente em grupos.
Por incrível que pareça, alguns experimentos já existem como alternativa para a alimentação humana em ambientes de baixa luminosidade. Na capital da França, Paris, a empresa Cycloponics transformou áreas desocupadas de estacionamento subterrâneo em uma fazenda de cogumelos. A empresa Growing Underground testa formas de cultivos em um abrigo antiaéreo em Londres, na Inglaterra.
"Como os cogumelos não contêm cloroplastos — as pequenas fábricas movidas a luz solar em plantas que convertem CO2 em açúcares —, eles não precisam de luz para crescer. O que eles precisam é calor, umidade e um substrato de matéria orgânica para frutificar, recém-abundante, na vegetação derrubada do velho mundo biológico", afirma Maughan.
Outras espécies de plantas que precisam de pouca ou nenhuma luz para crescer também devem constituir a base da alimentação humana, como brotos, microgreens, aspargos brancos e ruibarbo. Manter uma dieta equilibrada será um verdadeiro desafio, e é aceitável presumir que doenças provocadas pela ausência de vitaminas específicas voltem a acometer a humanidade. Este é o caso do escorbuto, sangramento gengival provocado pela deficiência em vitamina C.
Retornando à superfície da Terra
Quando os humanos puderem novamente habitar a superfície do planeta Terra, as opções de alimentação devem melhorar significativamente. Por exemplo, dietas carnívoras podem voltar a existir e o prato principal deve ser as espécies ruminantes que sobreviveram à catástrofe, como veados, vacas, cabras e galinhas. No entanto, será necessário se atentar para a questão da extinção desses últimos espécimes. Pensando na questão das proteínas, insetos também devem integrar a alimentação humana, especialmente larvas.
Nesse pós-mundo, as algas e outros tipos de plantas aquáticas ainda devem ser abundantes. Embora ricas em nutrientes, será preciso entender quais delas são seguras para o consumo humano. O cultivo das espécies selecionadas poderá ocorrer em piscinas, tanques, lagoas e canais abandonados. Além disso, os mares, muito provavelmente, continuarão a ser uma valiosa fonte de alimento, embora não seja possível presumir quais animais irão sobreviver. É possível que os frutos-do-mar, como camarões, escapem.
De forma gradual, os sobreviventes humanos irão se restabelecer na atual realidade e formas de organização mais complexas devem voltar a existir, como plantações, criações e fábricas de baixa complexidade. O desafio principal será sobreviver aos primeiros anos da catástrofe.
Vantagens dos povos originários
Em uma surpreendente reviravolta na história humana, os povos originários — aquelas populações que descendem dos primeiros habitantes de uma determinada região — e as comunidades indígenas voltarão a ter vantagens de sobrevivência significativas frente aos moradores dos grandes centros urbanos. Isso independente do continente em que se encontrarem.
Por anos, os nativos precisaram sobreviver ao avanço de atividades exploratórios e inúmeras ameças, enquanto se nutriam do que a terra poderia oferecer. Por exemplo, podem identificar o que é venenoso e o que pode ser consumido no quesito da alimentação.
Inclusive, têm conhecimentos — mesmo que sem o rigor do método científico — de aplicações medicinais para uma infinidade de ervas e plantas. Sem as indústrias farmacêuticas e a cadeia de distribuição das farmácias, este pode ser o mais próximo que os humanos irão chegar de remédios em anos. Conhecimento similar terão alguns botânicos e biólogos, que ajudarão a refundar a humanidade.
Fonte: Com informações da BBC