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Crítica | Boca a Boca estreia no melhor (ou pior) momento ao falar sobre vírus

Por| 22 de Julho de 2020 às 20h30

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Divulgação: Netflix
Divulgação: Netflix
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A Netflix acaba de incluir em seu catálogo o que provavelmente é uma das produções mais bem elaboradas, criativas e inusitadas feitas aqui no Brasil: a série Boca a Boca. Ao ler a sinopse, você pode achar que se trata de uma trama bem "trash", com um absurdo atrás do outro e de baixo orçamento, além de alguns preconceitos contra tudo o que é brasileiro. No entanto, ainda no primeiro episódio, todos esses estereótipos ficam de lado e é possível se surpreender com a dedicação aplicada no desenvolvimento desse novo programa em todos os aspectos.

Antes, vamos estudar a sinopse:

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"Depois de uma festa, uma garota acorda no dia seguinte com uma ressaca um pouco diferente. Ela estava infectada por um vírus transmitido pela boca. Além dos dramas comuns para a idade, os adolescentes de uma cidade rural vivem com o pânico do vírus e o medo de que seus segredos sejam descobertos".

Talvez se a série fosse lançada antes da pandemia do novo coronavírus, a sensação de absurdo seria gigantesca. Porém não há como negar as semelhanças com o cenário que estamos vivendo atualmente, o que transforma a produção em praticamente uma previsão do futuro com a sua perigosa e inédita epidemia, que ainda é uma incógnita.

O novo coronavírus pode, de fato, ser transmitido pelo beijo, mas porque ele infecta as vias aéreas. Já o vírus de Boca a Boca é um grande mistério que tenta ser solucionado por adolescentes inquietos e pais ultraprotetores de uma pequena cidade que lembra bastante a do filme Bacurau. Tudo começa com a contaminação de uma das garotas mais populares da escola, a Bel (Luana Nastas), e depois da sua entrada no hospital as informações sobre o seu quadro acabam se tornando uma história de terror tão macabra quanto modernizada. A infecção pelo vírus deixa a boca dos infectados com uma mancha preta e suas veias se destacam em cores neon.

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Para contar essa história, os produtores apelam bastante para o visual. Tudo começa com várias bocas compartilhando da mesma saliva em uma rave, com a contaminação acontecendo aos poucos nos dias seguintes, até que começa a fugir de controle. Essas festas contam com muitas luzes coloridas, glitter e outros brilhos, maquiagens bem elaboradas, assim como a vestimenta, tudo isso compondo uma perfeição estética que também existe em elementos simples da cidade. Até as cenas mais desinteressantes acabam se tornando um atrativo visual.

Tudo acontece no interior, em um cenário rural de pasto, bois, vacas e fazendas, que ao receber elementos futurísticos e psicodélicos acabam transformando a série em uma experiência única. A contaminação pelo vírus também traz um pouco da temática zumbi, uma vez que os infectados começam a agir estranhamente, como mortos-vivos — até mesmo fazendo lives em uma rede social para denunciar o que está acontecendo. A realidade é que esses jovens estão morrendo aos poucos sem conseguir manifestar qualquer reação ou sentimento.

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A trama, apesar de futurística, também mostra o poder da cura natural para aquela doença misteriosa, que em hospitais está praticamente matando os adolescentes. Através de rituais vindos de um culto misterioso, esse processo acaba sendo a solução para salvar os jovens que foram contaminados, e isso precisa ser feito ilegalmente para despistar a polícia. Por fim, a culpa é toda dos adultos, revelando um grave esquema de corrupção e de mutação genética, com um fazendeiro conduzindo atrocidades para ganhar mais e mais dinheiro.

O elenco de Boca a Boca faz toda a diferença para a qualidade da produção, cada um com seus segredos e mistérios, seja com as atrizes já conhecidas Denise Fraga e Bia Byington, ou com a carreira mais recente, mas intensa, de Thomas Aquino, que também atuou em Bacurau. Além do visual, a trilha sonora da série também chama a atenção, trazendo artistas brasileiros alternativos junto a internacionais e canções que se encaixam perfeitamente aos momentos da série.

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Até mesmo os efeitos sonoros, unidos aos visuais, trazem uma imersão aos acontecimentos, principalmente assistindo à trama usando fones de ouvido (fica a dica). O próprio criador e diretor da série, Esmir Filho, definiu a trilha sonora como um "synth-pop-rural". As músicas são de artistas como Leticia Letrux e Thiago Vivas, Baco Exu do Blues e Trupe Chá de Boldo, além de outros internacionais.

Boca a Boca acaba sendo uma surpresa bem agradável no catálogo da Netflix, mesmo que se trate de um tema que vem deixando o mundo assustado na vida real. Obviamente, a série foi gravada antes de tudo isso acontecer, mas o lançamento aconteceu no tempo certo, em uma época em que, infelizmente, já estamos nos adaptando ao infeliz termo "o novo normal". Portanto, a trama acaba sendo mais curiosa do que ameaçadora.