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Como Doutor Estranho no Multiverso da Loucura isolou o MCU do restante da Marvel

Por| Editado por Jones Oliveira | 10 de Maio de 2022 às 19h30

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Divulgação/Marvel Studios
Divulgação/Marvel Studios
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Como todo filme da Marvel, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura traz alguns easter eggs bem interessantes para os fãs de quadrinhos. Contudo, uma referência em específico vai além de ser apenas um aceno para quem acompanha os heróis nas HQs, mexendo de forma significativa com a dinâmica do Universo Cinematográfico (MCU, na sigla em inglês) e como ele se relaciona com as outras mídias: o universo do cinema se passa na Terra-616.

A revelação foi feita durante uma das viagens do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) a outras realidades, mais especificamente quando ele vai parar no Universo-838 e descobre pela Christine Palmer (Rachel McAdams) daquela realidade que seu mundo de origem é o 616.

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Se você acompanha os heróis apenas pelos filmes, essa é uma informação que pode até ter passado despercebida. Afinal, parecem números aleatórios só para diferenciar um mundo do outro. Contudo, a revelação coloca em choque o MCU com décadas de quadrinhos e — o que é mais importante — deixa claro que eles não coexistem nesse multiverso transmidiático.

A origem demoníaca do multiverso da Marvel

O conceito de multiverso não é nada novo nos quadrinhos. Os leitores de gibi já acompanham realidades alternativas e versões paralelas de seus personagens favoritos há algumas décadas. Isso é tão verdade que não foram poucos os casos em que as editoras precisaram apertar o botão de reset para colocar a casa em ordem. A icônica Crise nas Infinitas Terras, da DC, é o exemplo mais emblemático disso.

No caso da Marvel, tornou-se consenso que as histórias regulares publicadas em suas revistas se passam no chamado Universo-616 e que todas as linhas alternativas e até mesmo aquelas produzidas em outras mídias eram parte desse gigantesco multiverso. O jogo do Homem-Aranha para PlayStation 4 se passa no Universo-1048, o chamado Gameverse, enquanto os games da linha Marvel vs. Capcom se passam no Universo-30847.

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É em meio a essa salada quase aleatória de números que está o Universo-616, considerada a Terra primordial e mais importante da Marvel. Por isso mesmo, ao contrário das demais numerações, ela é uma das poucas que tem uma razão por trás — embora seja muito mais uma sacanagem com a própria editora.

A primeira menção a essa realidade aconteceu em 1981 nas páginas da revista do Capitão Britânia, uma versão inglesa de Steve Rogers. A publicação era escrita por Dave Thorpe, que colocou o herói nacional viajando por dimensões alternativas e caindo naquela que ele descreveu como sendo a pior Terra de todas: a 616.

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A escolha do número, segundo ele, era porque 666 seria uma escolha muito óbvia e também porque ele achou interessante que as escolas na Sibéria fechavam quando a temperatura chegava a -61,6 F (-52º C). Com isso, ele viu no 616 uma ótima brincadeira para definir esse fim do mundo.

Assim, a nomenclatura era para ser apenas uma brincadeira, mas acabou sendo oficializada como a Terra principal da Marvel quando, pouco tempo depois, Alan Moore assumiu os roteiros da revista e decidiu aproveitar a oportunidade para sacanear a Marvel britânica, que estava lhe devendo alguns pagamentos.

Isso porque o número 616 é interpretado por muitos especialistas como uma adaptação latina do número besta e, assim, o que Moore fez foi estabelecer que as histórias da Marvel não só estavam ambientadas na pior realidade de Dave Thorpe, como também em uma claramente regida por um quê demoníaco. E a editora não percebeu a piada e abraçou a numeração, que segue válida até hoje.

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Pistas no tempo

O curioso é que essa não é a primeira vez que vemos essas menções ao Universo-616 nos cinemas, indicando que Kevin Feige estava já há algum tempo premeditando esse golpe nos quadrinhos. Em Thor: Mundo Sombrio, por exemplo, a gente já tinha um professor Erik Selvig (Stellan Skarsgard) surtando sobre mundos paralelos e citando a Terra-616 em suas teorias.

Essa investida se tornou ainda mais evidente em Homem-Aranha: Longe de Casa, na primeira vez que ouvimos falar sobre o multiverso no MCU. No filme, o Mysterio (Jake Gyllenhaal) alega ter vindo de outra realidade e que o Homem-Aranha está na Terra-616. Na época, todo mundo viu como um easter egg, já que o vilão não veio de outro mundo, mas agora sabemos que ele não estava tão errado assim.

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Já em Loki, o Deus da Trapaça tem um intensivão do que acontece em sua vida depois de sua fuga e vemos que todos os eventos ali descritos estavam guardados em um rolo do filme identificado como ETH-616, ou seja, da Terra-616.

Conflito de realidades

A grande questão é que, até então, o Universo-616 era unicamente dos quadrinhos. Como dito, o grande charme do multiverso Marvel era o fato de que cada adaptação dos heróis para uma mídia diferente gerava uma realidade própria e todas elas coexistiam nesse multiverso infinito — o que incluía o próprio MCU.

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De acordo com o livro Official Handbook of the Marvel Universe A to Z, publicado pela própria Marvel em 2008, o Homem de Ferro dos cinemas estava situado na Terra-199999 e que, portanto, ficou estabelecido que o MCU como um todo existia dentro daquela realidade. O próprio site da Marvel afirmava isso. E foram 14 anos dessa forma, até chegar Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.

Como explicado antes, o novo filme do herói estabelece que tudo aquilo que vimos nos cinemas acontece no Universo-616. Por um lado, é uma homenagem bonitinha aos quadrinhos, mas é também é um sinal claro de que os filmes não estão mais dentro do mesmo multiverso das produções da Marvel.

E por mais que muitos desses universos nunca entrassem em contato entre si — o desenho do Homem-Aranha de 1967 (Universo-6799) nunca chegou perto do mundo de He-Man (Universo-86051) —, é quase como se Kevin Feige se negasse a brincar sob as mesmas regras e isolasse o MCU de todo o resto. Se o multiverso é esse emaranhado de realidades conectadas, os filmes agora são esse ponto sozinho.

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É claro que a gente sabe que, na prática, isso não vai ter efeito nenhum — principalmente nos cinemas. Pode até ser que o MCU agora tenha mais liberdade de brincar com algumas realidades e numerações sem depender do que já foi definido em outros formatos. Só que, ao mesmo tempo, isso mata muito da graça do que foi construído por décadas.

Da cronologia principal das HQs, às ideias absurdas, aos crossovers e até até aqueles projetos que nunca saíram do papel, o charme sempre foi que tudo sempre esteve ligado e aumentando um universo em constante expansão. E, quando o MCU se descola dessa lógica, é como se toda essa existência coesa perdesse sentido. Ainda que de forma mais simbólica do que prática, é como se as coisas ficassem um pouco mais superficiais.