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Bizarro reality da Netflix é uma mistura de Teste de Fidelidade com Black Mirror

Por| Editado por Jones Oliveira | 18 de Julho de 2023 às 19h05

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Divulgação/Netflix
Divulgação/Netflix
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Em sua busca por novos formatos e programas, a Netflix trouxe um reality show um tanto quanto perturbador. O espanhol É Amor ou Falsidade? (Falso Amor, no original) é uma mistura do pitoresco Teste de Fidelidade, programa do apresentador João Kleber, com boas pitadas de Black Mirror. E tudo isso a partir do uso de tecnologias como deepfake e inteligência artificial.

A estrutura da série é bem simples. Cinco casais são divididos em duas casas e vão conviver por um período com um grupo de solteiros. Em um primeiro momento, o desafio é se manter fiel ao longo de todo o programa, testando seus sentimentos pelo parceiro e esquivando das investidas dos demais em meio a muitas festas e joguinhos calientes ao melhor estilo De Férias com o Ex.

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Só que essa é a parte light de É Amor ou Falsidade?. O que torna o reality bizarro é a chamada Sala Branca, um espaço para onde os participantes vão para assistir ao que seus namorados e namoradas fizeram e aprontaram. E aí está a pegadinha, já que nem todas as imagens são reais. Com o uso dessas tecnologias, a produção forja algumas cenas e cria situações bastante comprometedoras, incluindo beijos, pegações nervosas e até aquele sexo selvagem embaixo do edredon.

“E por que as pessoas se submeteriam a esse experimento sádico”, você pergunta? Além de fornecer o mais peculiar entretenimento para o mundo, o programa é também um jogo no qual os participantes podem ganhar 100 mil Euros (cerca de R$ 540 mil na cotação atual) caso consigam diferenciar o que é verdade do que é cilada.

Isso é muito Teste de Fidelidade

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É bem fácil identificar as duas partes que compõem Amor ou Falsidade?. A primeira delas é o já tradicional reality de pegação, um subgênero desse programa que se tornou bastante popular, principalmente após o sucesso de De Férias com o Ex. É aquela velha ideia de colocar alguns jovens com os hormônios à flor da pele em um lugar paradisíaco e forçá-los a participar de jogos e desafios que façam as coisas esquentarem.

A própria Netflix tem vários programas com esse formato, como Brincando com Fogo e Dated & Related. A diferença aqui está no perfil dos participantes, já que a ideia é mesmo testar os comprometidos.

São cinco casais de perfis bem diferentes, com histórias e dinâmicas próprias. Há os ciumentos, o casal recente encantado por ter encontrado o amor de sua vida e aqueles que estão há quase uma década juntos com várias idas e vindas e brigas pelo caminho. Em comum, todos eles querem descobrir se o que sentem é verdadeiro e, principalmente, se o seu companheiro é mesmo fiel.

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Assim, eles são obrigados a se separar em duas casas: a mansão Marte e a Vênus. Durante todo o programa, os parceiros não têm qualquer contato entre si. Para complicar ainda mais as coisas, eles precisam lidar com os solteiros que habitam cada uma das casas e que vão levá-los ao limite, testando sua força de vontade e criando situações bastante tentadoras.

A abertura da série já deixa bem claro o tipo de situação que essa dinâmica oferece. É muita gente seminua, beijos calientes no pescoço, danças sensuais e muita insinuação. E, como você bem pode imaginar, nem todo mundo aguenta a pressão e acaba cedendo — ou, o que é pior, há um falso deslize só para testar a confiança de quem está assistindo.

Isso é muito Black Mirror

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É a partir daí que a parte mais curiosa de É Amor ou Falsidade? entra em cena. Afinal, não há como não pensar em Black Mirror quando a gente vê tecnologias como o deepfake sendo usadas para recriar digitalmente seu namorado para colocá-lo na maior pegação com um desconhecido no meio de uma festa. É um tanto perturbador — e mais sádico ainda é a gente transformar isso em entretenimento.

Em cada episódio, os participantes são levados para a chamada Sala Branca, uma cabine em que são colocados em uma poltrona para assistir àquilo que seu parceiro fez. Em tese, são aquelas montagens típicas de Big Brother Brasil, com o namorado ou namorada de papinho de pé de ouvido com um galã ou musa, deixando soltar alguns xavecos ou mesmo partindo para os beijos ou indo para baixo do edredon sem o menor pudor.

E o desafio da pessoa dentro da tal sala é descobrir se a cena que ele acabou de ver é real ou uma farsa, já que a pegadinha do programa é justamente essa dúvida. É deixado claro desde o início que nem todas as imagens são reais e algumas das situações que são apresentadas são montagens feitas por dublês.

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Em um exemplo presente já no primeiro episódio, por exemplo, uma das participantes está fazendo um jogo com um dos solteiros na piscina: eles precisam se encarar com os rostos quase colados por alguns segundos. A brincadeira termina com eles rindo e sem que nada aconteça além disso. Contudo, dublês recriam a cena e fazem com que o joguinho termine com um beijo caliente na frente de todos e o deepfake é usado para fazer parecer que a moça comprometida é quem estava ali.

Assim, o namorado da garota é quem precisa dizer se aquilo que ele viu é real ou não. E não é uma resposta fácil de se dar, já que a montagem da cena é feita para tornar tudo o mais crível possível e que a própria emoção de ver seu parceiro te traindo é algo que mexe com a razão de uma forma bem impactante. Não por acaso, todos na Sala Branca caem no choro, gritam, brigam e se desestabilizam com o que veem. Se é perturbador para nós, imagine para eles.

E não são apenas as supostas traições que são recriadas digitalmente. A produção do reality forjam também outras situações para abalar os casais. Discussões sobre desconfiança, ciúmes e até declarações de que vão chutar o balde se entregar à infidelidade são forjados e misturados com diálogos reais para deixar quem acompanha a tudo bastante inseguro — e isso vai ditar seu comportamento dali em diante, gerando um looping de desconfiança.

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E tudo isso vale dinheiro. Para ganhar o prêmio de 100 mil Euros, o casal que mais conseguir diferenciar a realidade das farsas digitais ganha. De acordo com a apresentação do programa, o verdadeiro prêmio é a confirmação de que os participantes se conhecem e confiam um no outro, mas a verdade é que ninguém parece se incomodar com o valor em dinheiro.

Brincando com o perigo

Por um lado, É Amor ou Falsidade? chama a atenção por essa perturbadora mistura de Teste de Fidelidade com Black Mirror de forma que tudo soa apenas bizarro e até engraçado. Contudo, não há como não se assustar com o cenário que o reality show desenha para o uso da tecnologia.

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Não é de hoje que se discute quais os limites que a inteligência artificial e o próprio deepfake devem encarar. É engraçado ver montagens de uma celebridade com o rosto trocado em um meme ou mesmo a situação medonha que o programa espanhol oferece, mas o reality já é uma bela demonstração de como essa “brincadeira” pode ser impactante e destruidora na vida das pessoas. Mesmo com os participantes sabendo que as imagens podem ser falsas, eles ficam muito abalados com o que veem dado o realismo das cenas.

Assim, por trás do pitoresco, Amor ou Falsidade? traz esse pequeno cutucão para nos lembrar do quanto o futuro que nos aguarda pode ser assustador — e faz isso em um nível que nem mesmo Black Mirror conseguiu. E, quando você se dá conta disso, só resta rir de nervoso.

A primeira temporada de É Amor ou Falsidade? está disponível na Netflix. Ao todo, são oito episódios que mostram desde a introdução dos casais no jogo até a entrega final do prêmio.