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Apple TV+ chegou ao Brasil: quem conseguirá ameaçar a Netflix nesse mercado?

Por| 01 de Novembro de 2019 às 08h30

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Ground Report
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Tudo sobre Apple

Nos últimos meses, nós estamos vendo o surgimento de uma enxurrada de serviços de streaming de vídeo que querem morder uma fatia do bolo que a Netflix domina. Conglomerados gigantescos de mídia como a Disney e Warner e marcas lendárias de Tecnologia como a Apple já anunciaram seus representantes nessa guerra pelo coração - e o bolso - dos consumidores.

E cada vez que um desses serviços surge, é considerado como a grande ameaça ao domínio do Netflix, aquele que levará a empresa de Reed Hastings e cia. à falência e mais uma série de previsões apocalípticas. No final, elas não passam de um monte de bobagens.

Isso porque quase todas as análises feitas levam em conta a apenas força da marca que está lançando o serviço, sem considerar a expertise nesse mercado, acordos de licenciamento, o caixa para investir em produções próprias, o plano de expansão mundo afora e, o mais importante: a força do acervo de cada uma.

Logo, nas próximas linhas, você verá quem, de fato, pode representar uma ameaça à liderança da Netflix neste mercado e quem apenas será um serviço complementar, ou seja, você pode até assiná-lo, mas sem deixar de usar a criadora de Stranger Things e cia.

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Importante: consideramos apenas as plataformas que já estão em diversas partes do mundo e têm potencial de chegada ao Brasil. Ou seja, alguns como o CBS All Access, que devem ficar restritos apenas aos EUA, foram deixados de fora. Além disso, não consideramos também serviços onde o usuário precisa pagar pelo aluguel do conteúdo, como o Looke e o Google Play Filmes.

Vamos a eles!

Disney+

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O que é?
Em 2017, a Disney anunciou que iria remover seus títulos do catálogo da Netflix para criar seu próprio serviço de streaming, o Disney+, que foi oficializado esse ano. A plataforma - que hoje é dona de algumas das principais marcas da cultura pop - Marvel, Star Wars, Pixar e Fox - terá em seu acervo todos os títulos dessas grifes, além de suas próprias obras, que também são clássicas. Isso inclui filmes e séries campeões de bilheteria, além de conteúdos inéditos já em produção e que, claro, serão exclusivos.

Quando ele chega ao Brasil?
No Brasil, a chegada do serviço está prevista 2020, enquanto nos Estados Unidos o Disney+ já tem a data marcada para o dia 12 de novembro de 2019, custando US$6,99 por mês ou US$ 69,99 por ano. Mas o usuário pode optar por um pacote que inclui ainda o Hulu e ESPN Watch e que custará US$ 12,99

É uma ameaça à Netflix?
Não. E sim...

Por que?
Para explicar por que o Disney+ NÃO será uma ameaça à Netflix, podemos usar a seguinte analogia: você conseguiria viver a base de uma dieta de fast food, comendo McDonald´s, KFC, Taco Bell e outros todos os dias? Provavelmente não. E o acervo do Disney+ é basicamente isso: um monte de fast food audiovisual que, apesar de gostoso, é limitado e você fica de saco cheio em pouco tempo.

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Fará falta à plataforma da criadora do Mickey filmes e séries com mais profundidade, mais adultos e mais diversificados. Lógico que será muito legal acompanhar a série exclusiva da Viúva Negra, aquele desenho da Pixar ou um episódio de Os Simpsons, mas você não vai quer consumir apenas isso, a não ser que seja uma criança de 8 anos. Logo, o Disney+ funcionará mais como um complemento ao Netflix, do que um rival em si.

No entanto, o Disney+ será uma séria ameaça à Netflix se ela conseguir comercializar mundo afora o pacote que inclui o Hulu (veja abaixo) e a ESPN. Isso porque, nesse caso, o usuário teria à disposição uma plataforma mais completa, com filmes e séries para todas as idades e gostos. E, de quebra, os fãs de esporte terão acesso a uma série de atrações, como a Premier League, NFL (futebol americano), NBA (basquete) e muito mais. No entanto, a Disney terá de rebolar para fazer com que os acordos de licenciamento de seu acervo - que funcionam de forma diferente em cada país - sejam unificados de forma que a empresa ofereça esse pacote ao maior número de países possível.


Hulu

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O que é?

O Hulu é um dos maiores rivais da Netflix nos Estados Unidos e inaugurado oficialmente em 2008. Até o primeiro semestre deste ano, a plataforma era controlada pela Comcast, Fox e Disney, onde cada uma tinha 33% das ações. No entanto, com a compra da Fox pela Disney, a ComCast também resolveu vender a sua parte à criadora do Mickey, que agora possui controle total do serviço. O Hulu conta com títulos premiados, como The Handmaid’s Tale, Modern Family, Fargo, entre outros.

Quando ele chega ao Brasil?
Sem previsão. O Hulu está disponível apenas nos EUA e o usuário pode decidir entre dois planos de assinatura, com 30 dias de teste grátis: US$5,99 por mês para acessar a plataforma e todo o acervo ou US$44,90 para ter acesso não só ao catálogo, como também à televisão ao vivo.

É uma ameaça à Netflix?
Não. E sim...

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Por que?
O Hulu nunca foi uma ameaça real ao Netflix nos EUA e, sim, um complemento. Logo, não há por que apostar nele mundo afora, caso a Disney resolva comercializá-lo de forma independente, mesmo que a plataforma tenha um acervo decente e produza coisas bacanas, como "The Handmaid’s Tale".

No entanto, o Hulu pode se tornar uma ameaça em potencial, caso a Disney organize os acordos de licenciamento do seu acervo mundo afora e consiga comercializar o pacote que inclui ele, a ESPN e o Disney+.

Apple TV+

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O que é?
A Apple TV+ é o serviço de streaming da Apple e que está está sendo aguardado ansiosamente pelos fãs da marca (e pelos viciados em streaming). Ao contrário da concorrência, a empresa vai apostar somente em conteúdos originais, sem licenciar material de outros estúdios. Para isso, a companhia já anunciou grandes nomes de Hollywood que participarão das obras de seu catálogo, entre séries, filmes e documentários. Gente do quilate de Jennifer Aniston, Reese Whitherspoon e Steve Carrell (The Morning Show); ou Jason Momoa, que estrelará See. Há também a série Dickinson, com Hailee Steinfeld e For All Mankind, uma série sobre a corrida espacial nos anos 1960, entre outras atrações.

Quando ele chega ao Brasil?
Assim como no resto do mundo, o Apple TV+ chega ao Brasil no dia 1° de novembro, com todo conteúdo devidamente localizado. Inicialmente, ele custará R$ 9,90 por mês, mas quem comprou qualquer dispositivo da Apple (iPhones, iMacs, Macbooks, Apple TV, iPad, Apple Watch e até o iPad touch) desde o dia 10 de setembro, terá direito a um ano grátis do serviço. A ativação pode ser feita a partir do dia 1° de novembro e o usuário terá três meses para se logar à plataforma a partir desta data.

É uma ameaça à Netflix?
Por enquanto, não.



Por que?
Com a queda de venda dos iPhones - sua principal fonte de receitas - a Apple passou a olhar com mais atenção para o setor de serviços. Com isso, a empresa lançou o Apple Music (streaming de músicas), o Apple Arcade (jogos) e, agora, está investindo pesado no Apple TV+.

Porém, a estratégia de apostar somente em conteúdos originais é arriscada. Primeiro, porque produzir esse material leva tempo e demanda um belo investimento em produção. Segundo, porque sempre há o risco (que não é pequeno) do filme ou da série, simplesmente, não cair no gosto do público - o que significa que não atrairá novos assinantes. Além disso, a empresa precisará ter lançamentos constantes para manter o interesse da audiência o que significa mais gastos.

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Para completar, a Apple é uma empresa especializada na fabricação de hardware e software e não tem a expertise em produções audiovisuais de suas concorrentes. E essa falta de experiência pode levar a muitas decisões de produção erradas o que significa - adivinha? - milhões e milhões de dólares jogados fora.

Menos mal que fluxo de caixa não é exatamente um problema para a Maçã, que pode se dar ao luxo de perder dinheiro no primeiro ou segundo ano da Apple TV+. Tanto isso é verdade que o baixo preço cobrado pelo serviço nos primeiros 12 meses mostra que a empresa está mais interessada em construir sua base de assinantes, do que faturar.

Agora, se essa estratégia de ter apenas conteúdo próprio funcionar - desde que acerte a mão nas obras, evite atrasos de lançamento e mantenha um fluxo constante de novos materiais - a Apple passa a se tornar um concorrente de peso para Netflix e outras. Isso porque, ao contrário da concorrência, ela não precisará negociar direitos de licenciamento com estúdios, o que significa gastar fortunas, comprometendo seu faturamento - a própria Netflix já gastou centenas de milhões de dólares para ter Friends, Seinfield e The Office em seu acervo, por exemplo.

Se a Apple tiver paciência e se cercar de gente que conhece o metiê, a briga vai ficar bacana.

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Prime Video

O que é?
O Prime Video é o representante da Amazon na guerra do streaming de vídeo. Ele surgiu em 2006, nos Estados Unidos e mudou de nome diversas vezes até chegar à alcunha atual.

O Prime Video, assim como a Netflix, aposta no mix de conteúdos licenciados de outros estúdios, com títulos originais, desenvolvidos na Amazon Studios. Entre eles, estão atrações que fazem muito sucesso e faturaram diversos Emmys e Globos de Ouro, como Deuses Americanos, The Marvelous Ms. Maisel, Fleabag, Good Omens, entre outros. Além disso, um filme desenvolvido pela marca, Manchester À Beira-Mar, levou dois Oscars para Jeff Bezos em 2017 - Melhor Ator (Casey Affleck) e Melhor Roteiro Original (Kenneth Lonergan).

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Em 2019, o Prime Video foi incluído no pacote Amazon Prime, que traz um serviço de entrega com frete grátis ilimitado em compras feitas no site da Amazon - além do Prime Music (streaming de música), o Twitch Prime (games) e o Prime Reading (livros e revistas). A assinatura desse combo custa apenas R$9,90 por mês - antes, apenas o Prime Video custava R$ 14,90.

Quando ele chega ao Brasil?
No Brasil, o serviço só foi lançado em dezembro de 2016, custando R$7,90 nos primeiros seis meses de assinatura, e posteriormente, R$14,90.

É uma ameaça à Netflix?
Sim

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Por que?
Porque, assim como a Netflix, o Prime Video aposta no mix de conteúdos próprios e licenciados de outros estúdios. Só que a empresa, hoje, tem uma vantagem poderosa sobre a Netflix: “pais generosos” chamados Amazon e AWS (sua lucrativa divisão de serviços na nuvem), que são, praticamente, um poço sem fundo de dinheiro e dispostos a investir pesado para roubar a liderança do mercado de streaming da sua maior rival.

Outra vantagem do Prime Video é que se antes ele era algo vendido separadamente, hoje a plataforma faz parte da estratégia para impulsionar o Amazon Prime, talvez o mais popular serviço da Amazon. Ou seja, quando o usuário adquire o Amazon Prime, ele leva junto o Prime Video, o que faz com a sua base de assinantes aumente no embalo do seu “irmão” mais forte.

Para completar, o Prime Video é muito mais cuidadoso na escolha dos projetos que levarão o seu selo de conteúdo original. Seja uma produção 100% da Amazon Studios, seja feita em parceiras com outros estúdios ou canais, é possível notar que as séries, filmes e documentários que saem de lá tem um olhar mais apurado em termos de qualidade, principalmente as atrações mais focadas no público adulto, com um nível de produção mais próximo ao que é feito pela HBO, a referência do mercado.

Ou seja, é um processo oposto ao que é feito pela Netflix que, na pressa de criar o maior número possível de conteúdos próprios e se livrar cada vez mais dos caros acordos de licenciamento de outros estúdios, acaba aprovando filmes e séries a toque de caixa, o que resulta em muitas produções mal feitas, mal amarradas ou, simplesmente, ruins. Ou seja, para cada Stranger Things, House of Cards ou Roma, saem uns três La Casa de Papel, Birdbox ou Bright.


HBO Go

O que é?
A HBO Go é a representante da HBO nesses primeiros anos da guerra do streaming. Basicamente, a empresa aposta no mix de filmes e séries próprios, com longas de outros estúdios, que são transmitidos primeiro em seu canal de TV a cabo e logo depois vão para o seu aplicativo de streaming.

A HBO é reconhecida pela qualidade de suas séries e filmes, e inaugurou o que chamamos, hoje, de “A Era de Ouro da TV”. Entre as obras-primas transmitidas pelo canal, estão Família Soprano, The Wire, Euphoria, Chernobyl, Sex and the City e, claro, Game of Thrones, entre muitos outros.

Quando ele chega ao Brasil?
O serviço surgiu em 2010 e chegou ao Brasil em 2017. Por aqui, o usuário pode assistir ao conteúdo em até três telas por R$34,90. Mas já avisando: o aplicativo é uma porcaria.

É uma ameaça ao Netflix?
Não. Antes, ele serviria mais como um complemento à Netflix. Mas agora, ele pode virar a maior ameaça a ela.

Por que?
Por causa da chegada do HBO Max (veja o que é logo abaixo)

HBO Max

O que é?
Fruto da fusão entre Warner Media e AT&T, o HBO Max é uma espécie de "Poderoso Megazord" do entretenimento audiovisual em streaming. Isso porque, além de todo conteúdo da HBO, o serviço trará todo o acervo da New Line, DC Entertainment, CNN, TNT, TBS, truTV, canais CW, TCM, Cartoon Network, Adult Swim, Crunchyroll,Rooster Teeth e de diversos outros canais e produtoras pertencentes à Warner Media. E isso inclui, claro, filmes e séries a serem produzidos agora e no futuro. Ou seja, ela consegue atingir a públicos de todas as faixas etárias e interesses.

Quando ele chega ao Brasil?
Não há previsão, principalmente devido às incertezas regulatórias do país. Mas algumas medidas tomadas pelo governo brasileiro, para acelerar a compra da Time Warner pela AT&T, mudando a chamada Lei da TV Paga, podem fazer com que a chegada do serviço ao Brasil seja acelerada.

É uma ameaça à Netflix?
Pra caramba. Talvez a maior delas.

Por que?
Porque, como dissemos acima, o serviço é um verdadeiro Megazord de entretenimento. Ele vai aliar desde produções de qualidade absurda, como aquelas que são feitas pela HBO, como diversão passageira, como Friends, Um Maluco no Pedaço, Pretty Little Liars, Riverdale e muito, muito mais.

Além disso, para provar que entrou na disputa para valer, a AT&T anunciou na última sexta-feira (26) que planeja oferecer o HBO Max gratuitamente a 10 milhões de seus clientes nos EUA e que já pagam pela HBO. Além disso, a empresa espera que o serviço alcance 80 milhões de assinantes até 2025, sendo 50 milhões deles em território norte-americano. Ainda que o preço da assinatura da plataforma seja maior que a do Netflix, o número de conteúdos oferecidos o torna uma opção bem atrativa para todos os públicos.


Bônus: combo de streaming made in Brasil

Globoplay + Telecine Play

O que é?
O Globoplay é um serviço de streaming lançado em 2015 que, inicialmente, foi feito para abrigar todo o conteúdo transmitido nos canais do Grupo Globo, tanto na TV aberta, quanto na TV a cabo. Dessa forma, o usuário poderia assistir as atrações quando pudesse. Em 2016, ela lançou a série Supermax inicialmente na plataforma, antes de ser transmitida no canal aberto.

Até 2018, a plataforma não oferecia nada além da própria programação da rede para os assinantes. A partir daí, resolveu incluir em seu catálogo títulos voltados para crianças, além de séries estrangeiras que também já foram premiadas, como Killing Eve, A Very English Scandal, The Handmaid's Tale, The Office, entre outros.

Já o Telecine Play, que também pertence ao grupo Globo, é uma versão streaming dos seis canais Telecine disponíveis na TV a cabo. Ele concentra uma boa leva de filmes blockbuster, além de produções de menor porte e nacional.

Quanto eles custam?
O Globoplay custa R$ 19,90 por mês; já o Telecine Play sai por R$ 23,90 no plano básico e R$37,90 no pacote completo, o que inclui diversos benefícios, como maior número de perfis e dispositivos cadastrados e meia-entrada em algumas redes de cinema.

É uma ameaça ao Netflix?
Antes, não era. Mas agora, sabe que pode até ser?

Por que?
Porque atuando de forma separada, Globoplay e Telecine Play eram plataformas mancas, trazendo ou apenas filmes ou apenas séries e atrações do Grupo Globo. Juntas, elas conseguem oferecer uma boa gama de conteúdo, nos mais diversos formatos, o que pode incluir os últimos lançamentos do cinema antes de Netflix e outros concorrentes (já que o serviço acompanha o que é lançado na TV a cabo). Além disso, o Globoplay traz algumas das séries norte-americanas mais populares da atualidade (como The Good Doctor, The Big Bang Theory e The Office) e séries nacionais bem legais, como Shippados e Sessão de Terapia, por exemplo.

Ou seja, se você abandonar Netflix, Prime Video e afins para testar esse “Combo Globo”, ninguém vai te julgar. Vai que, né? Fora que sempre dá para voltar.

A guerra das plataformas de streaming de vídeo promete!!

*com reportagem de Beatriz Vaccari