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IA "traz de volta" pessoas que já morreram e isso não é bom

Por| Editado por Luciana Zaramela | 26 de Março de 2024 às 17h02

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ThisIsEngineering/Pexels
ThisIsEngineering/Pexels

A inteligência artificial está indo longe demais? E até onde ela é capaz de ir, exatamente? Essas questões afligem muitas pessoas e fervilham ainda mais quando a ética é colocada à prova, como nos casos em que a IA traz de volta pessoas que já morreram, no maior estilo Black Mirror. Mas para os psicólogos, a situação é mais séria do que parece, pois atrapalha o processo do luto.

Essa discussão guiou uma pesquisa publicada na Ethics and Information Technology, que observou que esses fantasmas de IA podem ser prejudiciais para a saúde mental das pessoas que passam pelo luto.

"Os deathbots [pessoas mortas recriadas digitalmente] provavelmente não proporcionarão conforto substancial. Sem a capacidade de suportar fardos emocionais, ficam aquém das expectativas idealistas", posiciona o estudo.

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A ideia é reforçada por outro artigo, da Integrative Psychological and Behavioral Science, que dirige a concentração às questões éticas em torno da prática.

Pessoas mortas recriadas digitalmente

Um dos casos responsáveis por acalorar a discussão foi o do designer Wu Wuliu, que fez uma versão gerada por inteligência artificial de sua falecida avó, ao usar as fotos dela, enviar mensagens verbais para simular sua voz e seu sotaque e contar com uma tecnologia semelhante ao ChatGPT para simular conversas.

No início deste ano, um controverso chatbot chamado Project December surgiu sob a proposta de ser treinado pelo usuário para simular conversas com pessoas que já morreram. Características bem específicas ajudam a tecnologia a alcançar mais eficácia nessa simulação, como o estilo gramatical da pessoa. 

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O dilema ético é tamanho que foi protocolado um projeto de lei para regular uso de IA para recriar as pessoas falecidas. Tudo por causa de uma publicidade que reviveu a cantora Elis Regina, gerando repercussão e debates. 

No entanto, esse cenário proporcionado pela inteligência artificial vai além da ética e atravessa fronteiras como a saúde mental.

Prejuízos para o luto

Na visão da psicóloga e logoterapeuta Graziela Campos, o uso das tecnologias para se comunicar com os entes queridos que já partiram pode fazer com que a pessoa saia da realidade e passe a viver em um mundo de fantasia, onde a morte daquela pessoa não existe.

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"A pessoa que passa a buscar essa comunicação deixa de viver uma dor necessária e vive um consolo que, na verdade, não é real, mas algo criado", compartilha a psicóloga.

A psicóloga e professora do curso de Psicologia na Universidade Guarulhos (UNG), Alessandra Cássia Ribeiro Chrisostomo, reforça que o luto é uma experiência privada e singular para cada pessoa, e que "cada um deve procurar dar seu sentido pessoal a esta experiência".

Enquanto isso, Graziela menciona que essa interferência no luto impacta diretamente a saúde mental: "Deixar de viver o luto de uma perda, seja ela pelo falecimento ou qualquer outro motivo ou criar fantasias acerca da vida ou morte de alguém, pode trazer desde sintomas ansiosos, depressivos até despertar crises psicóticas prejudiciais tanto para a pessoa quanto para os que estão ao seu redor".

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Mas então, como deve ser o luto saudável? Sob o ponto de vista de Graziela, a forma mais saudável de lidar com o luto seria, de fato, vivendo essa dor. "Essa vivência diz respeito a se permitir chorar, permitir-se questionar, sentir raiva, saudade, medo do que virá sem aquela pessoa que partiu".

A logoterapeuta recomenda procurar estar próximo de outras pessoas que fazem
parte de seu núcleo familiar ou de amizades e, quando não quiser estar com alguém, permitir-se ficar sozinho também.

As especialistas recomendam recorrer à terapia, o que pode ser importante nesse momento. "Ter a orientação de um psicólogo ou psicoterapeuta pode ajudar a obter o apoio necessário e compreender os sentimentos desta fase", conclui Alessandra.

Assim, além de protagonizar uma verdadeira divergência de opiniões, a ressurreição digital proporcionada pela IA é considerada prejudicial, e não é bem vista pela psicologia.

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Fonte: Ethics and Information Technology, Integrative Psychological and Behavioral Science