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Crítica O Astronauta | Adam Sandler faz viagem chata pelos próprios sentimentos

Por| Editado por Durval Ramos | 01 de Março de 2024 às 15h52

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Depois de protagonizar várias comédias pastelão, Adam Sandler tem diversificado sua carreira e investido nos dramas. Além do elogiado Joias Brutas (2019), ele estrelou o agradável Arremessando Alto (2022), um drama no qual dá vida a um instrutor de basquete falido que não mede esforços para transformar um jogador sem prestígio em uma verdadeira estrela do esporte. Agora, em 2024, ele encara o papel de Jakub em O Astronauta, filme adaptado do livro Spaceman of Bohemia e que chega à Netflix no dia 1º de março.

Mas o que deveria ser uma boa notícia logo se transforma em um verdadeiro balde de água fria assim que damos o play no longa. Monótono, triste e apático, ele não convence e tem um roteiro morno e sem carisma. Na trama, Jakub é um cosmonauta tcheco que está isolado em uma nave espacial há 189 dias. Sua missão é explorar uma poeira cósmica roxa que intriga os cientistas, só que, atormentado pela solidão, ele só consegue pensar nas coisas que deixou para trás.

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É a partir dessa angústia que surge Hanus, uma aranha extraterrestre dublada por Paul Dano que tem mais olhos do que deveria e é muito mais estranha do qualquer aracnídeo do nosso planeta. Ela aparece como uma espécie de consciência extracorpórea do protagonista e tem a função de fazê-lo refletir sobre como o seu egocentrismo afetou a todos que estiveram à sua volta. Uma espécie de Grilo Falante um pouco mais grotesco. O problema é que toda essa viagem para o interior do personagem carece de mais elementos atrativos do que o filme entrega.

Veja bem, séries como Sessão de Terapia, do GNT, já provaram que mesmo com ritmo lento, obras que se debruçam sobre os incômodos do ser humano podem ser muito bem trabalhadas e conquistar o público. Porém, para que isso dê certo, é necessário criar empatia com o personagem para se envolver minimamente com a história. E é justamente aqui que o filme tropeça. Sem promover a conexão do espectador com o Jakub, o protagonista é só mais um chato refletindo sobre seus erros de ser humano medíocre.

Quem brilha mais em cena é Lenka (Carey Mulligan), a esposa grávida abandonada que, farta de se anular para apoiar o marido, decide dar um fim na relação. Mesmo aparecendo pouco e tendo quase nenhuma interação com Jakub, ela consegue intensificar a carga dramática e recuperar a atenção do espectador durante alguns momentos. Já os outros coadjuvantes não têm relevância suficiente nem para serem mencionados.

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O velho e o mar, o homem e a aranha

Ainda falando em elenco, Sandler — que já se mostrou um ótimo ator de comédia, ainda que receba críticas mistas — não faz feio no drama, e já provou por A+B que consegue interpretar diferentes tipos de emoções em cena, mas dessa vez o roteiro não lhe ajudou e pôs tudo a perder. Com Paul Dano, a situação foi diferente, já que o texto até teve algumas piadas sarcásticas, mas seu tom de voz metódico e inalterável foi a coisa mais chata já vista. É claro que mesmo sendo uma aranha alienígena, Hanus poderia demonstrar mais emoções por meio da voz.

A sensação que o filme traz é a mesma de ler O Velho e O Mar, livro de Ernest Hemingway, no qual um pescador passa dias ilhado conversando com um peixe. E embora ambas as histórias tenham potencial para serem incríveis e usarem a solidão de seus protagonistas para mergulhar no âmgo do indivíduo, o filme da Netflix trabalha mal essa questão a ponto de se tornar insuportável.

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Outro ponto negativo é que os buracos da relação entre Jakub e Lenka não são preenchidos, e cabe ao público intuir desde quando o roamnce dos dois começou a ruim. O argumento desse dilema é até bom: ela é mais uma mulher que abre mão dos seus sonhos para o homem conseguir viver os deles. Dando indícios de que terá uma pegada feminista, a trama parece melhorar, mas logo volta a ficar morna novamente e sem levar a lugar algum. O final é seco, mas combina com o enredo.

O capricho da Netflix nos efeitos especiais

Como nem tudo é 100% bom ou 100% ruim, O Astronauta também acerta em alguns pontos, o principal deles são os efeitos especiais. Muito bem trabalhados, eles fazem o público esquecer que toda aquela história seria impossível de acontecer no espaço sideral. O que mais impressiona são os tons de roxo e rosa usados para fazer a poeira cósmica. Outro excelente momento é quando Jakub abraça Hanus.

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A construção do foguete espacial também joga a favor do filme. Ele é claustrofóbico o suficiente para fazer o público entender porque o astronauta se sente tão mal e sozinho naquele cubículo. Pintado com tons pastéis tristes e equipado com tecnologia antiga, o espaço remete a foguete europeu dos anos 1970.

Um Chernobyl das galáxias

Infelizmente, mesmo com alguns acertos, O Astronauta do diretor Johan Renck (o mesmo da série Chernobyl) não consegue voar alto. O filme até tem a intenção de ser inovador e focar mais nas mazelas humanas do que na exploração espacial, mas é mal executado e sai de órbita rapidamente. Não vale o tempo gasto, mas se você quiser dar uma chance, já pode dar o play na Netflix.