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Crítica A Grande Entrevista | Uma hora de televisão pode mudar tudo

Por| Editado por Durval Ramos | 04 de Abril de 2024 às 16h00

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Divulgação/Netflix
Divulgação/Netflix
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Aquele que é citado como o maior escândalo a atingir a realeza britânica desde a morte da Princesa Diana é o mote de A Grande Entrevista. Na produção original da Netflix, que estreia nesta sexta, 5 de abril, são revelados os bastidores de uma conversa explosiva entre o Príncipe Andrew (Rufus Sewell), irmão do Rei Chales III, e a jornalista Emily Maitlis (Gillian Anderson).

O papo em si, assim como as revelações do envolvimento entre o Duque de York, à época o oitavo na linha de sucessão ao trono, já seriam suficientes para motivar uma produção desse tipo. O novo longa, claro, não deixa de dar ênfase à entrevista do título, mas gasta tanto tempo quanto nos bastidores da notícia, trazendo um tom pessoal e tornando os fatos escabrosos expostos ainda mais impactantes.

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Apesar de A Grande Entrevista ser o título e o tema, a personagem principal é Sam McAlister (Billie Piper). Foi ela quem escreveu o livro Scoop em que a produção é baseada e também quem iniciou a sequência de eventos que levaram à histórica edição do programa Newsnight, da BBC, e depois, à culpabilização do Príncipe Andrew sobre os atos envolvendo sua relação com o abusador sexual condenado Jeffrey Epstein (Colin Wells).

Jornalismo em tempos sinistros

Chega a ser curioso notar como um longa sobre eventos de quase 15 anos atrás têm raízes tão atuais. Logo de início, A Grande Entrevista mostra um momento complicado para a rede de televisão britânica BBC, na medida em que as redes sociais e o desinteresse do público levam a uma série de demissões, citadas pelos executivos da rede como uma reorganização editorial.

O contraste entre demitir jornalistas e a promessa de melhorar a qualidade do que é transmitido vai de encontro direto ao trabalho de McAlister. A produtora do Newsnight está em busca de pautas relevantes e, acima de tudo, impactantes, para um programa jornalístico em estagnação. É também uma dicotomia, pois ao fazer isso em uma tentativa de manter o próprio emprego, ela também pisa no território que pode causar sua demissão.

Aqui, não estamos falando apenas do assunto indesejável para a família real, mas também da própria ideia do que é fazer jornalismo. Ainda que o longa não verse tanto sobre esse tema, já que se posiciona diante de um público bem mais amplo, não dá para deixar de notar a diferença de A Grande Entrevista em relação a outras produções do tipo, que glamourizam o trabalho do repórter e nos colocam quase como um desbravador da verdade.

Ao mesmo tempo em que sabe estar fazendo a coisa certa — e acima disso, um bom trabalho, ainda que não o esperado por seus superiores —, McAlister demonstra medo. O desconforto é palpável na atuação de Piper, principalmente quando aparecem os inevitáveis obstáculos envolvendo o assunto abordado, o fato de ser mulher e a postura quase chapa branca de uma rede estatal que não parece respeitar seu lugar à mesa.

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Algumas destas características, aliás, também são verdadeiras para o outro lado dessa história. Com mais e mais revelações sobre as relações entre Andrew e Epstein surgindo ao longo de um período de quase 10 anos, a insistência do nobre e da família real de se manter em silêncio começa a incomodar a secretária direta do Duque de York, Amanda Thirsk (Keeley Hawes). Destes interesses posicionados ao mesmo tempo é que surge A Grande Entrevista.

Acima do escândalo, vemos uma história sobre a necessidade do jornalismo em um momento de crise para a profissão, assim como discussões sobre as fronteiras entre a imprensa e as relações públicas. O final do longa, aliás, é incrivelmente emblemático sobre isso, ainda que termine caindo em um discurso piegas sobre o assunto.

Tão escrachado quanto a própria entrevista

Enquanto falamos de um caso recente e de um evento notório, o longa também faz um bom trabalho em mostrar as reações do público, o horror e as bizarrices envolvendo toda a história, mas sem se tornar expositivo. Mais um trunfo da proposta de focar nos bastidores, e não na entrevista em si, algo que seria até desnecessário considerando que ela pode ser assistida na íntegra no YouTube.

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O diretor Philip Martin, acostumado às produções midiáticas sobre a realeza após experiências com episódios de The Crown e Catarina, A Grande, sabe que é hora de atrair o público por outros meios. Jogos de câmera bizarros, com Andrew diante de sua cama repleta de bichos de pelúcia, e uma lembrança constante sobre as vítimas dos abusos sexuais, tornam o roteiro de Peter Moffat (Silk) e Geoff Bussetil (Skins) ainda mais impactante.

O longa cai, sim, em armadilhas de exposição, principalmente ao alternar a entrevista, considerada o clímax do longa, com cenas na redação da BBC, quase como se os jornalistas estivessem realizando uma checagem de fatos para o espectador. Soa desnecessário enquanto, como dito, o objetivo do filme foi cumprido e ficou claro como o trabalho sensível, quase perigoso, serviu a seu propósito jornalístico, e não de relações públicas, como esperava a Coroa.

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Impecável, por outro lado, é a atuação de Sewell (Caleidoscópio), quase irreconhecível na pele de Andrew. Sua interpretação do Duque de York faz com que a aparência de empatia e sinceridade que a realeza tentou fazer colar tenha ainda menos aderência, simplesmente pelo aspecto asqueroso do personagem. Falando nisso, vale a pena notar o trabalho de caracterização de Wells, assustadoramente parecido com Epstein nas poucas cenas em que aparece no filme.

Vale a pena ver A Grande Entrevista?

Ao mergulhar mais nos bastidores do programa explosivo para a família real e menos nas revelações em si, A Grande Entrevista faz surgir novas nuances sobre um tema de grande circulação. Assim, também, permite que as atuações brilhem, principalmente as de Sewell e Piper.

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Qualquer um pode ver a entrevista completa do Príncipe Andrew no YouTube, mas entender os eventos e, principalmente, pressões que levaram a ela (e quase a cancelaram) é mais difícil. Ponto para a produção original Netflix, que ao desviar o foco, mantém o interesse no tema e ainda discursa sobre a necessidade de reportagens sérias em um momento de crise na profissão, ainda que caia rapidamente no melodrama ao finalizar essa fala.

A Grande Entrevista é dirigido por Philip Martin (The Crown), com roteiro de Peter Moffat (Silk) e Geoff Bussetil (Skins). O filme estreia na Netflix em 5 de abril, com Billie Piper (Penny Dreadful), Gillian Anderson (Arquivo X), Rufus Sewell (Cidade das Sombras), Keeley Hawes (Orphan Black) e Romola Garai (Vigil) no elenco principal.