Crítica The Crown | Apesar de romance morno, série tem final à altura do show
Por Paulinha Alves • Editado por Durval Ramos |
Após sete anos no ar, The Crown chegou ao fim. A série que acompanha a família real britânica, desde a coroação da Rainha Elizabeth II nos anos 1940, teve a segunda parte da sexta e última temporada lançada no dia 14 de dezembro. Uma das produções mais premiadas da Netflix, a série lançou seus últimos episódios carregada de expectativas, afinal se esperava um final à altura de um dos shows mais populares dos últimos anos.
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Dividida em seis episódios, a parte 2 cobriu desde os acontecimentos vividos após a morte da Princesa Diana, em 1997, até o casamento de Charles e Camilla Parker Bowles, em 2005. Nesse tempo, embora tenha se dedicado a mostrar o começo de um novo capítulo da família real, graças ao relacionamento entre William e Kate Middleton, a série também encerrou outro, em que deu uma despedida justa aos fãs e às próprias atrizes que deram vida à Elizabeth.
O fenômeno William
Ao invés de começar a nova leva de episódios com o tão aguardado pulo temporal para o começo dos anos 2000, quando William e Kate se conheceram na Universidade de St. Andrews, The Crown decidiu colocar o pé no freio e começar a parte 2 ainda mostrando o luto vivido por Harry e William após a morte de Diana.
Embora o episódio Willsmania, a princípio, soe desconectado do resto da história, ficando em um limbo entre a primeira e a segunda parte, aos poucos se tornam claras as intenções do criador e roteirista Peter Morgan em tomar essa decisão.
Além de um link entre os dois momentos da história, o quinto episódio da sexta temporada de The Crown serve para mostrar mais da personalidade de William e de sua dificuldade em lidar com a morte da mãe. E, claro, dar dimensão de como, do dia para a noite, ele se tornou uma mania mundial, sendo visto como um ídolo pop por milhares de adolescentes.
É esse o gancho, inclusive, que a série usa para dar início ao seu romance com a Princesa de Gales, já que, muito antes de seu primeiro encontro, é mostrado como Kate foi uma dessas garotas com uma paixão platônica pelo príncipe. Uma informação “quase boba” trazida pela série, mas que serve para mostrar como Carole, mãe de Kate, passa a ver potencial nessa relação, passando a articular para que a filha e o príncipe fiquem juntos.
Mais uma vez tomando uma liberdade criativa questionável (assim como fez com Mohamed Fayed na primeira parte), The Crown pinta Carole como uma alpinista social, que faz a filha tirar um ano sabático, tal como William, e estudar em uma faculdade que não seria sua primeira opção, apenas para estar junto do príncipe.
Embora as decisões de Carole sejam bem menos opressoras do que as de Mohamed, fica a sensação de que The Crown quis optar por um caminho polêmico, mas absolutamente desnecessário, para abordar esse novo capítulo de sua história. Um “tempero” que pegou mal da primeira vez e continua sem nenhum apelo na segunda.
Nem tão romântico, nem tão interessante
O início do relacionamento entre William e Kate começa de fato a partir do sétimo episódio, Alma Mater, quando os dois passam a frequentar o mesmo curso na universidade. Aos trancos e barrancos, a série tenta pintar uma história de amor às avessas, em que um William completamente desajeitado com mulheres — e, às vezes, até com atitudes babacas — tenta se aproximar da garota que chamou sua atenção.
Embora o momento fosse um dos mais aguardados dessa nova leva de episódios — e até há cenas interessantes, como a de Kate “ousada”, desfilando na universidade —, o romance dos dois não chega a empolgar, especialmente pelas atitudes de Kate, que não deixam muito claro para o público o quanto ela gosta ou desgosta do rapaz.
Um problema muito menos ligado a atuação da jovem Meg Bellamy, que fez sua estreia como atriz na série, e muito mais ao roteiro do show, que retrata uma personagem confusa e sem propósitos muito definidos.
Apesar de tudo (e para felicidade de Carole), o romance dos dois finalmente se estabelece e, após algum tempo, o casal passa até a dividir o mesmo teto junto com outros amigos. Uma história de amor, porém, que não entrega muita empolgação — e nem mesmo uma cena que todos esperávamos ver: o primeiro encontro entre Kate e a Rainha.
Uma noite no Ritz
Mas nem só sobre William e Kate são os últimos episódios do show. Outros personagens importantes para a série, que acompanhamos desde a primeira temporada, também tiveram seus arcos encerrados nesta sexta season.
Uma dessas figuras é a Princesa Margaret, a irmã “inconsequentemente” de Elizabeth, que protagoniza o oitavo episódio do show, Ritz. Em um daqueles capítulos em que The Crown brilha, fazendo aquilo que sabe fazer de melhor, acompanhamos os últimos anos da Princesa, que sofreu uma série de derrames no final de sua vida.
Bastante debilitada, mas ainda sedenta por viver, a personagem decide fazer uma festa de 70 anos no Ritz, momento em que relembra um episódio que viveu com a irmã no hotel, após o final da Segunda Guerra Mundial. A lembrança serve para ilustrar aquilo que ela chama de “a verdadeira Elizabeth”, mas também para mostrar o amor e o vínculo que perdurou entre as irmãs ao longo de toda sua vida.
Em uma das cenas mais emocionantes da sexta temporada, as duas personagens se despedem na porta do palácio, após mais um momento de cumplicidade. Uma imagem metade ambientada em 1945, com Elizabeth aparecendo jovem (em uma versão brilhante interpretada por Viola Prettejohn), e a outra metade no tempo corrente, em que vimos Margaret já idosa.
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A monarca mais longeva da Inglaterra
O encerramento mais aguardado do show, no entanto, era claro o de sua protagonista, a Rainha Elizabeth II. Retratada em The Crown apenas até 2005 (a monarca morreu em 2022), havia muitas especulações sobre como a série terminaria o arco de Lilibet — apelido carinhoso que ganhou de alguns de seus familiares.
Para isso, a produção dedicou boa parte de seus últimos episódios a mostrar os questionamentos que passam a cercar a rainha, que às vésperas de seu Jubileu de Ouro e tendo acabado de perder a irmã e a mãe, começa a questionar sua própria permanência no trono da Inglaterra.
Inclinada a recuar por causa da idade (decisão que ganha ainda mais força quando Charles e Camilla decidem se casar), Elizabeth acaba recorrendo às palavras das únicas que podem ajudá-la nesse momento difícil: suas outras versões, interpretadas aqui novamente por Claire Foy e Olivia Colman.
Repetindo um elemento fantasioso que já havia aparecido na primeira parte da temporada, mas que dessa vez funciona muito melhor, The Crown finaliza sua trama fazendo uma homenagem às outras intérpretes da protagonista, mas também ao próprio público, que há sete anos acompanha o show.
Com a ajuda de suas versões jovem e madura, a rainha entende que “monarquia é algo que você é, não o que você faz” e, finalmente no episódio Sleep, Dearie, Sleep, decide permanecer fiel ao trono que herdou. Um final aparentemente simples, mas que soa tão apoteótico e potente quanto o saldo final de The Crown.