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Sua casa é mais radioativa do que você imagina

Por| Editado por Luciana Zaramela | 09 de Outubro de 2023 às 20h46

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Markusgann/Envato Elements
Markusgann/Envato Elements

Já é praxe, quando falamos de radiação, dizer que ela está em todos os lugares, tanto nos raios cósmicos que chegam do espaço quanto nos minerais que podem acabar se prendendo aos nossos calçados. O que você talvez não saiba é que sua casa também é radioativa — mais especificamente, ela contém diversas fontes de radiação, vinda de lugares bastante inusitados. Quão radioativa é uma casa, afinal de contas? Spoiler: a radiação não vem do seu micro-ondas.

Forçando a barra, poderíamos dizer que todas as construções recebem radiação todos os dias, através da luz solar ou das ondas de rádio de 2,4GHz. Sabemos, no entanto, que o que vem à cabeça quando se fala “radiação” é, na verdade, a radiação ionizante, forte o bastante para arrancar os elétrons de nossos átomos, danificando o DNA e causando câncer, ou, em doses muito altas, queimaduras e envenenamento radioativos. Essa é menos comum, mas ainda presente.

Comendo radiação

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Antigamente, as televisões de tubo, que funcionavam via raios catódicos, era uma fonte baixa de radiação de raios-X, mas, como praticamente todos os humanos com o aparelho hoje utilizam os de tela plana, sem radiação, a maioria das fontes “caseiras” são objetos com pequenos traços de elementos radioativos — especialmente alimentos.

A banana, por exemplo, contém isótopos de potássio-40, radioativo, o suficiente para trazer ao corpo humano 0,0001 millisieverts (mSv), a mesma dose de radiação que uma pessoa recebe ao morar a 80km de uma usina nuclear. Não se preocupe: é bem pouco.

Já as castanhas-do-Pará são cerca de cinco vezes mais radioativas do que isso, já que as raízes das castanheiras são tão profundas que acabam concentrando o rádio (o elemento químico) radioativo do solo. Contanto que você não coma mais do que duas delas por dia, no entanto, estará a salvo de efeitos negativos.

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Outra atividade cotidiana que já sabemos ser nociva é o tabagismo. Além dos motivos óbvios pelos quais o cigarro faz mal, os fertilizantes utilizados na planta do tabaco também trazem rádio radioativo, além de chumbo e polônio, deixando um único cigarro tão radioativo quanto sete bananas.

Detectores de fumaça também trazem um pouco do isótopo de amerício-241. Esse elemento químico emite radiação pelo decaimento alfa, ou emissão alfa, que pode ser bloqueado com até mesmo uma folha de papel, evitando que saia da própria tampa do aparelho. Só seria um perigoso se você a comesse, no final das contas.

Aliás, alguns pratos e copos de cerâmica fabricados entre 1930 e 1970 eram esmaltados com óxido de urânio, o que tornava o consumo de alimentos nesses recipientes um pouquinho radioativo — mais precisamente, o equivalente a comer uma banana por hora.

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Radiação na casa

Se a pergunta for em questão à estrutura da casa, mesmo, a resposta é um grande depende. O solo de alguns lugares traz, naturalmente, mais radiação que outros, dependendo também da altura. Porões costumam ser mais radioativos por estarem no subterrâneo, onde há mais minerais e elementos radiativos em potencial, mas morar em altitudes elevadas também pode expor a casa a maior radiação, já que há menos atmosfera entre você e os raios cósmicos que bombardeiam o planeta constantemente.

Campos do Jordão, por exemplo, no estado de São Paulo, fica a 1.600 metros de altitude em relação ao nível do mar, localização que traz o equivalente a 12 bananas a mais de radiação aos seus habitantes — comparativamente, um voo transatlântico expõe uma pessoa a cerca de 400 bananas, ou 0,04mSv. Caso você seja o Marcos Pontes ou outro astronauta em visita à Estação Espacial, uma estadia de seis meses garante 80mSv a mais, o equivalente a 800.000 bananas.

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Em questão de solo, a influência de minerais está entre os principais influenciadores radioativos. Regiões com muito granito, por exemplo, costumam ser bastante radioativas, já que o material contém urânio naturalmente, elemento que decai formando rádio, e, em seguida, gás rádon. Esse gás vai chegando lentamente ao ar, emitindo radiação alfa e podendo aumentar as chances de câncer de pulmão em concentrações altas.

A recomendação de organizações internacionais e nacionais é que pessoas não expostas ocupacionalmente à radiação (ou seja, que não trabalhem com radiologia ou em minas, por exemplo) não deveriam receber mais de 1mSv por ano — alguns lugares com muito granito, como a região da Cornualha, no Reino Unido, têm uma radiação de fundo de 7,8mSv.

No Brasil, a região da Serra do Carambeí, a cerca de 100km de Curitiba, no Paraná, pode chegar a uma concentração 2.000mSv por ano em certos pontos, gerando um risco à vida. É possível evitar um pouco a concentração de rádon doméstico ao melhorar a ventilação, especialmente nos porões, mas é recomendável evitar morar próximo a concentrações altas demais.

Fonte: Revista Brasileira de Geofísica, Science Focus