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Sangue em armas prova que humanos caçavam mamutes na Era do Gelo

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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John Benitez/Unsplash
John Benitez/Unsplash

Os primeiros Homo sapiens pré-históricos a chegaram na América do Norte conviveram com grandes animais, como tigres-dentes-de-sabre, mamutes, mastodontes, preguiças e bisões gigantes. Já extinta, a megafauna desapareceu do planeta há cerca de 12.800 anos, junto com as plataformas de gelo continentais, no final da última era do gelo.

Embora não saibamos o que levou as criaturas à extinção, com teorias culpando mudanças climáticas muito rápidas, impactos de fragmentos de cometas, caça excessiva por humanos ou todos estes aspectos juntos, os arqueólogos costumam focar na nossa relação com a megafauna. Realmente caçávamos esses animais? Como ter provas de que esse tipo de interação aconteceu? Recentemente, cientistas aplicaram técnicas forenses usadas em cenas de crime para buscar essas respostas.

Armas e povos norte-americanos

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A cultura humana proeminente à época era a dos paleo-americanos chamados Clóvis, que surgiram entre 13.200 e 12.900 anos, fabricando pontas de lança bastante únicas que lhes deram seu nome, encontradas na cidade estadunidense de Clovis. Com lascas retiradas da base até a metade da ponta da ferramenta pré-histórica, acredita-se que isso facilitava sua fixação em cabos de lança, melhorando as capacidades de caça.

No oeste dos Estados Unidos, foram encontradas ferramentas junto a ossos da megafauna da época, indicando que a caça desses animais era feita pelos Clóvis. Enquanto essa região é mais prolífica nesse tipo de artefato arqueológico, o sudeste norte-americano tem poucas indicações da interação das espécies, o que pede outros métodos por parte dos cientistas.

Isso foi encontrado nas análises de resíduos imunológicos sanguíneos, cuja técnica, chamada de imunoeletroforese, vem sendo utilizada por 50 anos. Ela não se baseia na presença de DNA nuclear, mas sim em proteínas preservadas que às vezes persistem nas fraturas microscópicas e falhas das ferramentas de pedra pré-históricas.

Foram estudadas 120 pontas de lança Clóvis, coletadas no sudeste dos Estados Unidos, com aproximadamente 13.000 anos, em média. Em análises laboratoriais, os pesquisadores encontraram proteínas animais antigas de mamutes ou mastodontes extintos (Proboscídeos) e cavalos norte-americanos extintos (Equidae), provando não só a existência de tais animais na região, mas também sua caça por nossos ancestrais.

Bisões (Bovidae) se mostraram os mais comuns nas ferramentas, mostrando que humanos pré-históricos focavam mais em sua caça. Estes animais não se extinguiram, mas ficaram menores graças às mudanças climáticas do final da Era do Gelo.

Embora o achado não prove que levamos estes animais à extinção, ele traz as primeiras evidências diretas do sangue de megafauna em armas de pedra pré-histórica, um avanço científico notável. Os primeiros paleo-americanos, embora houvesse tido uma curta janela de convivência com grandes proboscídeos e cavalos antigos — poucas centenas de anos até sua extinção —, os caçaram na América do Norte.

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Outro aspecto interessante é que os resíduos dos mamutes estão apenas nos artefatos dos Clóvis, mas o sangue de cavalos estão tanto nas ferramentas Clóvis quanto nas de paleo-americanos mais recentes, sugerindo que, enquanto os proboscídeos já haviam se extinguido no leste americano no final do período Clóvis, os cavalos da Era do Gelo permaneceram vivos por mais algum tempo.

Estudos mais profundos, segundo os cientistas, poderão mostrar a linha do tempo e variabilidade geográfica da extinção da megafauna do nosso planeta, ao menos na América do Norte, nos dando algumas dicas do que pode tê-la levado à extinção.

Fonte: The Conversation, Post and Courier, Scientific Reports