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Projetos europeus querem reviver espécie extinta de bovino; conheça os auroques

Por| Editado por Luciana Zaramela | 27 de Outubro de 2022 às 12h32

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Malene Thyssen/CC BY-NC
Malene Thyssen/CC BY-NC

Diversos projetos europeus buscam, atualmente, reviver uma raça extinta de bovídeos: são os auroques (Bos primigenius), ancestrais selvagens de todo o gado moderno que sumiram do planeta quando o último espécime conhecido morreu, em 1627, onde hoje é a Polônia. O principal motivo por trás das iniciativas é a renaturalização e restauração das terras europeias, as devolvendo ao estado "selvagem" original.

História dos auroques

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Os auroques fazem parte da cultura humana há muito tempo: eles foram retratados nas pinturas rupestres de inúmeras cavernas, e até mesmo Júlio César comentou sobre sua força e velocidade em suas memórias. O habitat do animal ia do subcontinente indiano até a Escandinávia e do Crescente Fértil à península ibérica, mas atualmente, só temos fósseis e poucas descrições de como eram, ainda mais por conta do temperamento, tamanho e comportamento mudarem conforme o ambiente em que viviam.

Nos dias atuais, acredita-se que as características dos auroques sobreviveram geneticamente em seus descendentes bovinos, então seria possível reproduzi-las ao selecionar traços da espécie com cruzamentos direcionados, eventualmente recriando uma espécie semelhante, no mínimo, ao extinto touro selvagem.

A primeira vez em que a humanidade tentou reproduzir o auroque foi nos anos 1930, por irmãos alemães que dirigiam um zoológico: Lutz e Heinz Heck, que tinham legações inegáveis ao partido nazista. Durando 12 anos, seus esforços resultaram na raça bovina chamada de gado Heck, uma mistura do gado doméstico com touros de briga espanhóis. O foco dos irmãos foi no tamanho e na agressividade ao invés da precisão anatômica, um dos motivos pelo qual a tentativa não é considerada bem-sucedida.

Mesmo assim, o gado Heck sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e populou os pastos e zoológicos europeus. Ele também é usado para os mesmos fins que algumas organizações objetivariam alcançar com os auroques, pastando em reservas naturais como a Oostvaardersplassen, nos Países Baixos.

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Por que recriar os auroques?

Durante a maior parte do século XX, acreditou-se que as paisagens europeias antes dos humanos eram, em sua maioria, compostas por florestas. Quem mudou essa concepção foi o biólogo neerlandês Frans Vera, que propôs o convívio de campinas, florestas e outros tipos de habitat. Uma das razões para a teoria é o argumento de que grandes animais, como os auroques, modificavam o ambiente através do pastejo, gerando o que se conhece por Pastagem Natural.

Vera fundou, na sua terra natal — os Países Baixos —, o Oostvaardersplassen, uma reserva natural povoada por herbívoros de pastejo, que "engenhariam" o terreno. A teoria acabou por atrair diversos esforços para recriar uma Europa selvagem, um dos quais é a recuperação dos auroques. Num mundo em constante urbanização, terras rurais vão sendo abandonadas, o que é previsto para continuar ocorrendo até pelo menos a metade do século atual.

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Alguns esforços

Desde a aventura dos irmãos Heck, outras tentativas de recuperação dos auroques já ocorreram. A Taurus Foundation, em parceria com a Rewilding Europe, uma companhia de renaturalização, busca reintroduzir a espécie no continente, rivalizando com projetos neerlandeses, alemães e húngaros.

Não há, no entanto, critérios muito bem definidos para o que se espera de um auroque revivido: a genética poderia ser um deles, mas apenas em 2015 o genoma completo do animal extinto foi completamente sequenciado. Apenas um espécime fossilizado passou pela análise, o que limita nosso conhecimento acerca da variabilidade genética da espécie, então ainda há muito a ser estudado.

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É improvável que alguma das organizações consiga impor um padrão para o que é um auroque, então provavelmente teremos diversas espécies, com diferentes níveis de semelhança, pastando por aí. Do ponto de vista funcional, não importa como a espécie recriada se pareça, contanto que se comporte da mesma maneira que um auroque. Parte dos motivos para a recriação deles, no entanto, é estético, já que se busca reproduzir o antigo pelo novo.

Há, é claro, discussões éticas em torno dessa recuperação, com alguns lados questionando a necessidade e até mesmo dizendo ser impossível reviver os auroques. Outros argumentam que é um dever ético trazê-los de volta, já que tivemos um papel na sua extinção. De qualquer forma, caminhamos para um provável futuro com diversas espécies competindo nas pastagens europeias: em nossa busca para recriar uma única espécie, acabaremos gerando várias.

Fonte: The Conversation