Rússia transmite misterioso sinal de rádio há 40 anos e ninguém sabe por quê
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

Entre um dos grandes mistérios que se popularizaram com o advento da internet, está a “rádio fantasma” da Rússia, que vem transmitindo sinais desde a Guerra Fria. Na frequência de rádio 4625 kHz, essa transmissão emite bipes, apitos e algumas frases faladas em russo, bem como, aleatoriamente, músicas, há 40 anos. Mas qual seu objetivo?
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Mais do que os próprios sons, a falta de informação sobre toda a situação é o que intriga internautas há décadas. A transmissão de rádio quase nunca parou, ganhando o apelido de UVB-76, derivando de seu primeiro sinal conhecido, e, mais tarde “The Buzzer” (“O Apito” ou “A Buzina”, em tradução livre), ou “Жужжалка” (“Jujalka”, na transliteração, também significando “o apito”), em russo.
O mistério da rádio fantasma
Conhecidamente em operação desde os anos 1970, a rádio gerou inúmeras teorias. Ondas curtas de rádio, como as usadas pela transmissão, viajam longe, cobrindo toda a Rússia e além. Isso fez com que vários acreditassem se tratar de uma rede de comunicação militar, enviada para soldados ou submarinos tripulados. Confira alguns dos sons que a rádio manda:
Ela poderia ser, então, o que se chama de estação de números, uma rádio que envia mensagens codificadas — elas se popularizaram no final da Primeira Guerra Mundial, com mensagens ocultas ou secretas via código morse ou voz.
O sinal surgiu durante a Guerra Fria, podendo ter sido uma rede de transmissão codificada para espiões, mas, curiosamente, desde o final da União Soviética, sua atividade só aumentou.
Desde 1982, quando entusiastas passaram a acompanhar a rádio continuamente, mudanças ocorreram. No início, só eram transmitidos bipes, mudando para apitos em 1992, seguidos de sons com o tom de uma buzina de neblina (como a de um navio).
A cada uma ou duas semanas, um homem ou uma mulher lê uma lista de nomes, palavras ou números, com o tom variando aleatoriamente. Você pode conferir uma transmissão ao vivo da rádio no YouTube, neste canal:
Em 2010, algo mais inesperado ocorreu: a misteriosa rádio parou de transmitir por um dia inteiro, voltando normalmente no dia seguinte. Em agosto do mesmo ano, várias pausas ocorreram, e, no dia 25 daquele mês, pôde-se ouvir o que pareciam pessoas se movendo em um cômodo. Algo que parecia um sinal em código Morse também foi ouvido.
A estação, então, transmitiu trechos curtos do balé “Lago dos Cisnes”, do compositor Tchaikovsky, então passou a emitir o chamado “Mikhail Dumitri Zhengya Boris” (na sigla, MDZhB — “Zh” é uma única letra em russo, com som similar ao “j” do português).
No mesmo período, o local de onde o sinal era transmitido pareceu ter mudado, saindo do que se acredita ter sido uma base militar russa na cidade de Povarovo, a 30 km da capital, Moscou.
Em setembro de 2010, o sinal ficou mais difícil de se acompanhar com a mudança. Agora, acredita-se que a estação tenha o sinal emitido por diversos locais de comunicação governamental, tanto em São Petersburgo quanto em Moscou.
Exploradores não-autorizados visitaram o sítio de Povarovo após a dificuldade de encontrar o sinal, encontrando a base abandonada e com apenas um cão de guarda acorrentado — segundo eles, havia um livro com detalhes das transmissões no local, datado de 2005.
A população local disse que os militares russos evacuaram o local em apenas uma noite: segundo o livro de registros, em menos de 90 minutos. Alguns especialistas teorizam ser um simples caso de manter uma linha de comunicação “reservada” para o caso de perda de comunicação nacional, um canal de emergência.
Se não estivesse sendo usada, a frequência poderia ser pega por qualquer um, e, com seu uso, ela fica em poder do governo. Isso não é incomum. O que é curioso é o poder de transmissão, teorizado em milhares de watts, saindo em todas as direções. É muito poder para algo tão mundano.
Por fim, a teoria mais mirabolante é a da “Mão Morta”, nome popular do sistema russo de retaliação nuclear Perímetr. Ele lançaria um ataque nuclear de retaliação automático em caso da população russa ser extinta ou a alta cúpula militar do país ser morta, ou seja, quando não houverem mais mãos para operá-lo. A rádio, então, faria parte da identificação de atividade no país ou algo do tipo.
O mistério continua, com internautas mais despretensiosos falando em sinais alienígenas, mas, sem confirmações do governo russo ou de qualquer outra organização, é improvável que descubramos algo sobre a rádio. Será que o mistério, enfim, durará 50 anos ou mais?
Fonte: Popular Mechanics