Astrônomos não conseguem explicar sinal de rádio misterioso vindo do espaço
Por Durval Ramos • Editado por Luciana Zaramela |
A descoberta de um estranho sinal de rádio vindo do espaço tem tirado o sono de parte da comunidade científica. Isso porque, ao contrário de outros sinais já identificados por astrônomos, a ASKAP J1935+2148 se comporta de maneira bastante peculiar e completamente diferente de tudo o que os pesquisadores conhecem sobre esse tipo de fenômeno no cosmo.
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As incógnitas em torno desse mistério foram publicadas na Nature Astronomy, uma das principais revistas científicas da área no mundo, e destaca como o sinal não se parece com nada já registrado pela ciência.
Os sinais de rádio vindos do espaço não são nenhuma novidade e tampouco representam algum tipo de comunicação extraterrestre. Os chamados sinais transientes de rádio são sinais identificados por astrônomos a partir de radiotelescópios que captam essas ondas vindas de diferentes pontos do universo, possivelmente originadas de estrelas de nêutrons.
Essas estrelas têm um tipo de rotação bastante específico, girando em alta velocidade e emitindo essas ondas de rádio. E, por isso mesmo, existe um certo padrão nesse comportamento, uma frequência regular que os cientistas conseguem identificar da Terra. Só que a ASKAP J1935+2148 não se comporta assim.
Enquanto a maioria dos sinais transientes de rádio tem ciclos bastante breves e rápidos, as observações da J1935+2148 chega a quase uma hora de duração. Apenas isso já seria um fator bastante curioso, pois é o maior ciclo já identificado pela astronomia até então, mas o sinal ainda conta com outras particularidades.
A principal delas é que seu comportamento é muito irregular. Como dito, os sinais transientes de rádio têm uma frequência bastante clara e previsível. Contudo, a ASKAP J1935+2148 ora apresenta flashes longos e brilhantes, ora rápidos e fracos. Isso sem falar de momentos em que os radiotelescópios não conseguem captar nada vindo de sua localização.
Tudo isso tem feito com que os pesquisadores simplesmente não saibam explicar o que está acontecendo. Na publicação feita à Nature Astronomy, os astrônomos australianos da da Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO) relatam que identificaram o sinal enquanto monitoravam uma fonte de raios gama quando se depararam com algo diferente nos dados.
As três caras do sinal
Segundo eles, o sinal despertou a curiosidade de todos por ser um tipo de onda de rádio circularmente polarizada, ou seja, que viaja pelo espaço em um padrão espiralado, como um saca-rolhas. A partir disso, os cientistas passaram a observá-lo com mais atenção e notaram como ele era diferente de tudo o que conheciam até então.
Além de ter um ciclo muito maior que o de outros sinais transientes de rádio, com 53,8 minutos, a ASKAP J1935+2148 se comporta de três modos bem diferentes identificados durante o período de análise.
O tal pulso polarizado circularmente era apenas um deles. Com duração de apenas 370 milissegundos, ele era muito fraco em comparação com o segundo estado identificado, em que os pulsos eram bem mais brilhantes e polarizados linearmente. Nesses casos, eles apresentavam duração de 10 a 50 segundos. Em outros momentos, porém, não havia pulso algum, entrando em um modo silencioso ou mesmo extinto.
Como mencionado, os astrônomos não têm uma explicação direta para esses fenômenos, embora apontem algumas possibilidades. Uma delas seria de que os campos magnéticos complexos e os fluxos de plasma da própria fonte dos sinais estariam interagindo com campos magnéticos próximos, o que criaria essas distorções.
A principal hipótese aponta para uma estrela de nêutrons de rotação lenta, se opondo àquelas de rotação de frações de segundo. Porém, os cientistas apontam no estudo que há a chance de ser uma anã branca, ou seja, uma espécie de sol que se apagou após o fim de seu combustível nuclear. Elas teriam uma rotação lenta que se encaixaria na hipótese, mas não há explicações para como ela produziria essas ondas de rádio misteriosas.
O que tudo isso significa?
A busca por respostas para o que diabos está acontecendo com a ASKAP J1935+2148 pode alterar o entendimento da Astronomia para o comportamento de alguns corpos e fenômenos celestes. Como os pesquisadores australianos apontam, identificar o que está emitindo o sinal de rádio pode fazer a ciência rever seu conhecimento sobre as estrelas de nêutrons ou sobre as anãs brancas.
Como dito, o sinal identificado não se comporta de maneira regular nem com uma ou com outra possibilidade, entender sua natureza pode trazer mais explicações sobre como elas emitem essas ondas de rádio.