Machados de mão gigantes com 300 mil anos são achados na Inglaterra
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Mais de 800 artefatos pré-históricos foram encontrados na Inglaterra, nos arredores de Londres, incluindo machados de mão gigantes que estão entre os maiores já encontrados pela arqueologia. Estima-se que os objetos tenham mais de 300 mil anos, mas ainda não é claro se eram usados como ferramentas, propriamente, ou como símbolos de força e amuletos de tribos antigas.
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As escavações que revelaram os itens foram feitas no distrito de Kent, a sudeste da capital britânica, que estavam preservados em sedimentos profundos da Era do Gelo numa colina acima do Vale de Medway. Segundo os arqueólogos da University College London, entidade responsável pelo trabalho, os restos estavam enterrados em um material que preencheu um poço (dolina) e um antigo canal fluvial há milhares de anos.
Machados para mão gigantes
Entre as centenas de artefatos arqueológicos encontrados, estão duas grandes lâminas de sílex, conhecidas como bifaces ou machados de mão. Bifaces são ferramentas de pedra lascadas em ambos os lados, com o objetivo de gerar um formato simétrico com um fio de corte longo em ambos os lados. Os cientistas crêem que tais objetos eram manuseados com as mãos, usados para esquartejar animais e cortar sua carne.
Os maiores bifaces do sítio arqueológico possuem um formato único, com uma ponta longa e bem trabalhada e uma base muito mais grossa. Segundo os cientistas, os artefatos são considerados gigantes quando passam dos 22 centímetros de comprimento — há dois que se encaixam nesse critério na recente descoberta, com o maior medindo 29,5 cm, um dos mais longos já encontrados.
Na Inglaterra, objetos deste tamanho costumam ser encontrados nas regiões do Tâmisa e de Medway, datando de 300 mil anos atrás ou mais. Eles são tão grandes que é difícil imaginar alguém conseguindo manuseá-los com facilidade.
É possível, segundo os pesquisadores, que os bifaces pudessem ter um papel mais simbólico, uma demonstração de força e habilidade ao invés de um uso prático. Não sabemos ainda porque ferramentas tão grandes eram feitas, ou mesmo qual espécie humana as fabricou. O sítio arqueológico data da pré-história britânica e coincide com a emergência do povo neandertal e de sua cultura, podendo ter compartilhado a paisagem com outras espécies humanas primordiais.
Artefatos da Inglaterra pré-histórica
Na época dos artefatos, o Vale de Medway era ocupado por campinas arborizadas e terras fluviais, abrigando cervos-vermelhos (Cervus elaphus), cavalos pré-históricos e mamíferos menos familiares à região, como os elefantes-de-presas-retas (Palaeoloxodon antiquus) e leões. Objetos de centenas de anos atrás já haviam sido encontrados no local antes, mas nunca como parte de uma escavação em larga escala como essa.
Análises nos artefatos irão, segundo os cientistas, nos mostrar como os humanos antigos os usavam e como isso ajudou nossos ancestrais a se adaptarem aos ambientes da última Era do Gelo. Um segundo achado importante foi feito no local — um cemitério romano, datando de pelo menos 250 mil anos depois dos resquícios pré-históricos próximos. Acredita-se que as pessoas enterradas no local, que datam dos séculos I a IV d.C., possam ter vivido em uma vila próxima, encontrada a 850 metros do cemitério.
Foram descobertos os restos de 25 pessoas, 13 delas cremadas, enterradas com bens ou itens pessoais como braceletes, e 4 delas estavam em caixões de madeira. Itens de cerâmica e ossos de animais, também encontrados nas proximidades, podem estar ligados a banquetes rituais da época do enterro.