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Hominídeos já tentavam criar esferas lascando pedras há 1,4 milhão de anos

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Muller et al./Royal Society Open Science
Muller et al./Royal Society Open Science

Ancestrais humanos de mais de um milhão de anos deixaram para trás pedras que mostram tentativas de chegar a uma geometria perfeita — e que estão sendo descobertas, presentemente, por arqueólogos. Na verdade, os itens já eram conhecidos pela ciência, mas nunca haviam sido analisados sob um viés geométrico, por assim dizer. Os do estudo mais recente, em especial, vieram do sítio de ‘Ubeidiya, em Israel.

Os itens esféricos feitos de calcário foram moldados deliberadamente, mostrando sinais de avanço geométrico à medida que eram trabalhados, o que sugere objetivos específicos pelas mentes pré-históricas que fizeram o entalhe. Embora não se saiba a finalidade para qual os objetos eram destinados, hoje podemos afirmar que havia intencionalidade na forma como eram fabricados.

Ancestrais geométricos

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Os responsáveis pelo trabalho esférico são da cultura acheuliana, grupo do Paleolítico que consistia de Homo erectus e seus descendentes, como o Homo heidelbergensis, nossos ancestrais humanos. As pedras não ficaram com superfície mais lisa, mas é notável como sua esfericidade aumentou — a forma como elas ficam cada vez mais próximas de uma esfera ideal mostra uma lascagem habilidosa e proposital.

Os esferoides produzidos pelos hominídeos fazem parte de um quebra-cabeça ainda misterioso da pré-história, encontrados em sítios da África, Ásia e Oriente Médio datando de 2 milhões de anos atrás, com vários níveis de esfericidade. Há sugestões de que os itens fossem usados como projéteis, ou para esmagar ossos na obtenção de tutano.

Nenhuma pesquisa conseguiu cravar, até agora, seu propósito. O estudo atual, publicado na revista científica Royal Society Open Science, resolveu dar um passo atrás e descobrir como teriam sido feitas.

Como arredondar pedras

A investigação se voltou aos artefatos do sítio de ‘Ubeidiya, que totalizam 150 esferoides. Com cerca de 1,4 milhão de anos, esse grupo de pedras é o mais antigo a ser encontrado fora da África, estando também em um agrupamento incomumente grande. Todas foram escaneadas em 3D e transformadas em modelos digitais emalhados, permitindo uma análise que deixa os originais intactos.

Com a ajuda do computador, foram calculados os ângulos das superfícies das pedras, bem como seus centros de massa e curvatura superficial de cada uma. Funções matemáticas conhecidas como harmônicos esféricos foram usadas para reconstruir o formato de cada esferoide, e as “cicatrizes” de suas superfícies foram examinadas para descobrir a data de entalhe.

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As análises mostraram que os esferoides foram, de fato, lascados deliberadamente, com os materiais removidos cuidadosamente de pontos precisos na superfície dos objetos. Quanto mais superfície era lascada, mais redondas ficavam as pedras. O fato de elas não ficarem mais lisas, segundo os cientistas, também era proposital.

Embora não saibamos o uso pretendido das esferas, a descoberta é de grande importância científica, já que mostra um processo cognitivo e deliberado por parte de nossos ancestrais hominídeos — e, não menos importante, as habilidades físicas necessárias para levar a atividade a cabo. Os esferoides, de acordo com os cientistas, representam uma tecnologia complexa formal, a tentativa mais antiga de impor uma simetria geométrica a ferramentas de pedra.

Fonte: Royal Society Open Science