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Este peixe anfíbio pode nos mostrar como evoluímos o ato de piscar

Por| Editado por Luciana Zaramela | 25 de Abril de 2023 às 19h15

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Bjørn Christian Tørrissen/CC-BY-4.0
Bjørn Christian Tørrissen/CC-BY-4.0

Entre as atividades que os animais terrestres fazem e que os peixes não conseguem — ao menos os exclusivamente aquáticos — está o ato de piscar. Eles sequer possuem as estruturas necessárias para isso, ou seja, as pálpebras. A água na qual nadam já é o suficiente para manter seus olhos úmidos e limpos.

Há, no entanto, um peixe diferenciado que, além de perambular pela terra por grandes períodos, também consegue piscar seus bulbosos e pronunciados olhos, parecidos com os de um sapo. São peixes anfíbios conhecidos como saltadores-do-lodo (família Oxudercidae). Cientistas decidiram, então, que estudar o comportamento desses animais poderia nos ajudar a resolver o mistério do surgimento desse comportamento.

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Porque piscamos?

Para começar a pensar sobre esse comportamento, é bom lembrar as razões para que exista. Piscar mantém nossos olhos úmidos e limpos, estados essenciais para que funcionem, mas também os protegem de machucados e até mesmo podem ser usados para a comunicação.

Não há muitos registros fósseis de pálpebras e tecidos lacrimais na ciência, o que dificulta nosso entendimento de como e quando as piscadelas começaram a aparecer por aí. Por sorte, há alguns animais que ainda vivem em ambientes híbridos, como os saltadores-do-lodo, nos permitindo observar como pode ter sido a transição entre os dois ambientes.

Os ancestrais dos tetrápodes terrestres modernos, ou seja, animais de quatro patas, saíram da água há cerca de 375 milhões de anos. Uma mudança tão drástica não veio sem uma boa quantidade de modificações corporais, desde as necessárias para uma melhor locomoção até novas percepções sensoriais úteis em terra.

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Cientistas colocaram, então, saltadores-do-lodo indianos (Periophthalmodon septemradiatus) e do atlântico (Periophthalmus barbarus) em tanques que simulam seu habitat, junto a câmeras de alta velocidade, prontos para observar como o piscar se manifesta na vida de uma criatura que recém manifestou esse comportamento do ponto de vista evolucionário.

Piscadas pré-históricas

Há várias maneiras de piscar, que utilizam, inclusive, diferentes membranas e mecanismos corporais. Nos saltadores-do-lodo, o olho é retraído completamente para o globo ocular, sendo coberto temporariamente por uma membrana chamada receptáculo dermal. Após isso, o olho volta a aparecer.

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Comparando com outros peixes que não piscam, os pesquisadores notaram algo muito interessante: eles não tinham músculos diferentes, apenas os usavam de outras maneiras para executar a ação ocular tão útil aos habitantes da terra. O único tecido novo envolvido era o receptáculo dermal.

Só isso já demonstra a incrível capacidade dos seres vivos de usar sistemas básicos do corpo para executar ações complexas como essa, sem grandes evoluções. Para descobrir mais, os cientistas também buscaram entender o que causa as piscadas nos saltadores-do-lodo — eles quase nunca piscam dentro da água, exibindo o comportamento apenas quando batiam em objetos no tanque, como filtros de água e outros peixes.

Primeiro, o ambiente foi deixado mais seco de propósito ao aumentar o fluxo de ar e a taxa de evaporação do tanque. Com isso, os peixes de fato passaram a piscar mais, além de rolar mais pelo chão úmido para re-umidificar seus corpos. Mesmo não possuindo glândulas ou dutos lacrimais, os bichos dão um jeito ao juntar muco da pele com água do ambiente ao seu redor para formar uma membrana lacrimal ao redor dos olhos.

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Para testar outras funções, foram utilizados materiais como uma salmoura triturada de ovos de camarão, com textura semelhante à areia, algo ao qual os saltadores-do-lodo estão acostumados. O irritante em pó fez com que os anfíbios piscassem para se livrar dele, confirmando mais essa função. Sondas macias também foram usadas para tocar os olhos dos bichos, causando uma piscada defensiva para evitar danos físicos ao órgão.

Com os experimentos, os pesquisadores concluíram que o ato de piscar evoluiu como um comportamento terrestre utilizado para acomodar o corpo a um ambiente diferente, algo essencial para podermos continuar utilizando os olhos em terra de forma eficiente, dado que a visão é um sentido essencial para a maior parte dos tetrápodes.

Como a evolução do piscar nos saltadores-do-lodo ter ocorrido de forma independente à nossa, mas ainda mantém as mesmas funções que utilizamos neste ato, pode-se entender que essa característica foi essencial para uma boa adaptação à terra.

Fonte: Evolution