Ventos do deserto ajudaram a esculpir a Esfinge de Gizé, no Egito
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela | •
Não são apenas as Pirâmides de Gizé que enfrentam escrutínio científico e ficam envoltas em muito misticismo — a Grande Esfinge de Gizé, que compartilha a localização com os monumentos, também foi largamente estudada por arqueólogos, sem menção de parar. Em um novo estudo, pesquisadores mostraram que os egípcios antigos tiveram ajuda externa na construção da esfinge, mas calma: não de alienígenas, mas sim do vento do deserto!
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Tudo começou quando a equipe notou a presença de raras formações rochosas presentes em desertos de todo o mundo, chamadas de yardangs. Elas se formam a partir da erosão causada pelo vento, acabando com um formato e proporção semelhantes aos da Grande Esfinge.
O trabalho seguiu com a reprodução das condições climáticas em questão em laboratório, mostrando que bastariam os toques finais para dar a face mitológica à rocha, que fica próxima às três pirâmides mais famosas do Egito.
Esculturas feitas pelo vento
A esfinge egípcia é uma criatura dos mitos, apresentando uma cabeça humana no corpo de um leão que ainda ostenta as asas de uma águia. Ao invés de construir a maior delas do zero, no entanto, parece que os antigos egípcios precisaram apenas modelar os detalhes. Alguns yardangs atuais, apontam os cientistas, chegam a ter a aparência de animais sentados ou deitados, o que aumenta a força da hipótese.
Não confiando apenas na dedução, os cientistas imitaram o terreno de Gizé construindo montes de argila maleável em torno de materiais mais duros, menos erodíveis. Tais montes foram posicionados em um túnel de água, onde foram replicadas as condições do vento no nordeste do Egito, onde fica o monumento ao híbrido felino.
O efeito da erosão, nas palavras dos cientistas, fez com que “um monte sem características marcantes se transformasse em um majestoso leão”. A água se movendo em alta velocidade foi, aos poucos, arrancando a argila, fazendo com que os materiais mais resistentes do interior formassem uma cabeça cilíndrica, que fez uma “sombra de vento” e protegeu o restante do corpo.
As costas curvadas da figura foram cavadas por um “irrompimento turbulento”, segundo os cientistas, e a aceleração do fluxo abaixo da cabeça modelaram o pescoço, os membros posteriores e as patas da escultura. Os formatos inesperados derivam do desvio dos fluxos de vento ao redor das partes mais duras ou menos erodíveis.
A equipe finalizou o estudo apontando o que teriam encontrado os povos antigos do Egito em meio ao deserto, visualizando e eventualmente representando uma criatura mitológica híbrida. O trabalho foi aceito para publicação, e deve integrar a revista científica Physical Review Fluids, tendo o seu resumo apresentado no 75º Encontro Anual da Divisão APS (American Physical Society) de Dinâmica de Fluidos.
Fonte: American Physical Society